Esporte-Protótipos inesquecíveis: Lola-Aston Martin B09/60 (2009)

RIO DE JANEIRO – Famosa por seus modelos Grã-Turismo nas últimas décadas, a Aston Martin passou um longo período de sua existência sem fazer Esporte-Protótipos. Teve uma linhagem vitoriosa nos anos 50 e depois passou em brancas nuvens na década de 80. Mas, recentemente, ficaram marcados pelo surgimento do Aston Martin DBR1-2, nome de fantasia para o Lola-Aston Martin B09/60.

Desenvolvido em colaboração intensa entre a Lola Cars e a Prodrive, o protótipo foi concebido para receber o potente motor V12 do modelo DBR9 do FIA GT e das séries Le Mans internacionais nas classes LMGT1. Com 6 litros de capacidade cúbica, logo o motor recebeu um ganho de 50 HP com restritores de ar mais generosos, embora fosse mais pesado, largo e comprido em relação aos demais.

Entre os implementos para tornar o protótipo mais competitivo, vieram a adoção de um câmbio sequencial Xtrac de 6 marchas, acionado por paddleshift. Além das modificações mecânicas, o B09/60 recebeu alterações estéticas – em especial na seção dianteira e nos dutos de freio do bólido.

Além do carro novo, a Aston Martin Racing trouxe de volta a icônica pintura da Gulf, evocando os velhos tempos da equipe de John Wyer, primeiro com o Porsche e depois com o Mirage.

Quatro carros ficaram prontos para o começo dos trabalhos e os problemas se manifestaram cedo. Num dos treinos de preparação, realizados em Monza, Jos “The Boss” Verstappen deu “PT” num dos protótipos, ao bater no fim da reta oposta antes da Parabólica, a mais de 300 km/h. Menos um chassi para desenvolver o carro.

Apesar da porrada, dois bólidos foram inscritos para a abertura da temporada 2009 da Le Mans Series. O #007, com o chassi DBR1-2/1 foi entregue à equipe Charouz Racing Systems, que corria sob o nome de fantasia AMR Eastern Europe, com Tomas Enge/Stefan Mücke/Jan Charouz. O carro número #009, com o chassi DBR1-2/4, ficou a cargo de Miguel Ramos/Harold Primat/Darren Turner. O começo foi bom: 2º e 3º no grid e vitória para o trio Enge/Charouz/Mücke, 15 segundos à frente do Pescarolo Judd de Boullion/Tinseau.

Em maio, mais uma boa performance nos 1000 km de Spa: mesmo sem marcar tempo de qualificação nos treinos, Mücke/Enge/Charouz acabaram em 3º lugar. Após ficarem pelo caminho em Barcelona, Ramos/Primat/Turner ficaram na quinta posição.

Terceiro desafio: as 24 Horas de Le Mans. Para esta prova, o chassi DBR1-2/2, que estava de reserva, foi entregue ao trio formado por Stuart Hall/Peter Kox/Harold Primat, enquanto o DBR1-2/4 virou #008 e entregue a Darren Turner/Jos Verstappen/Anthony Davidson. No #007, “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

Os três carros andaram bem em Sarthe: nos treinos, ficaram em oitavo, nono e 17º. Na corrida, o #009 deu uma baita pancada e foi destruído, com Harold Primat a bordo. O #008 andou muito bem e chegou a ocupar a terceira posição na geral, em meio aos modelos turbodiesel de Peugeot e Audi. Entretanto, uma colisão entre Anthony Davidson e um retardatário, além de um time penalty de 5 minutos, jogaram o esforço do trio por água abaixo. Acabaram em 13º, quarenta voltas atrasados.

No fim das contas, o quarto lugar de Mücke/Charouz/Enge não foi de todo ruim: o Lola-Aston Martin B09/60 foi o melhor carro movido a gasolina na edição 2009 das 24 Horas de Le Mans, o que por si só já era um feito e tanto.

Apesar do acidente sofrido em Le Mans, o chassi DBR1-2/2 foi recuperado para a disputa dos 1000 km do Algarve, 3ª etapa da Le Mans Series. A Pescarolo venceu e o #007 chegou em segundo, a mais de 1min25seg. O segundo carro foi o 5º colocado. Na quarta etapa, os 1000 km de Nürburgring, em 23 de agosto, o chassi DBR1-2/4 voltou para as provas finais da temporada. Stuart Hall/Miguel Ramos/Chris Buncombe se revezaram a bordo dele. Porém, a vitória ficou mesmo com Mücke/Enge/Charouz – o primeiro triunfo da Aston Martin Racing, com direito a 1-2-3 dos carros pintados nas cores Gulf.

Nos 1000 km de Silverstone, a vitória do Oreca de Olivier Panis/Nicolas Lapierre não foi obstáculo para que o construtor britânico conquistasse, com inteira justiça, o título de campeões da LMP1 e o título de pilotos, com o 3º lugar na última etapa, acabou nas mãos de Stefan Mücke/Tomas Enge/Jan Charouz, que somaram 39 pontos contra 26 dos vice-campeões Jean-Christophe Boullion/Christophe Tinseau.

A Aston Martin levaria um de seus carros para a conquista de mais uma vaga direta nas 24 Horas de Le Mans de 2010: participou do Asian Le Mans Series em Okayama com Primat/Mücke em duas provas com 500 km cada. Acabaram em 3º na primeira bateria e venceram na segunda. Com o terceiro posto na soma dos pontos, perderam a vaga para a SORA Racing, que no fim das contas acabou fazendo forfait em 2010.

No segundo ano do protótipo, o construtor britânico inscreveu um carro para as provas iniciais da ALMS. Nas 12 Horas de Sebring, Adrián Fernández fez sua estreia ao lado de Stefan Mücke e Harold Primat. O trio teve atuação destacada e terminou em 3º lugar, três voltas atrás do Peugeot vencedor. Em Long Beach, com Primat/Fernández, o carro liderou até a última volta, quando foi ultrapassado pelo HPD de Brabham/Pagenaud.

O chassi de número #3, destruído por Verstappen na “panca” de Monza 2009, foi refeito e repassado à Signature, que usava pneus Dunlop ao invés dos Michelin do time oficial. O time de Philippe Sinault teve uma campanha mais sólida que a AMR: terminou todas as cinco provas do certame, embora não tenha vencido nenhuma corrida, e acabou com o vice-campeonato, oito pontos atrás do Team Oreca-Matmut, que alinhava um Peugeot. Vanina Ickx/Franck Mailleux/Pierre Ragues acabaram o campeonato de pilotos em 4º lugar, com 55 pontos. A equipe oficial de fábrica só conseguiu a 2ª posição nas 8 Horas de Paul Ricard e a sexta posição entre as escuderias.

Na temporada 2011, o DBR 1-2/2 atravessou o Atlântico: foi cedido à Muscle Milk Pickett Racing para a disputa da American Le Mans Series, certame em que o Lola-Aston Martin faria a temporada completa. Klaus Graf/Lucas Luhr tiveram ótimo desempenho, venceram quatro provas – uma delas de forma sensacional, em Elkhart Lake, mas com problemas em Baltimore, Laguna Seca e por fim na Petit Le Mans, perderam o campeonato para a Dyson Racing.

Não foi um ano fácil para a Aston Martin Racing, pois o construtor britânico decidira investir num novo projeto com motor 2 litros turbo e 6 cilindros em linha: o AMR-One foi um dos maiores vexames dos últimos anos e o jeito foi tirar o pó do último Lola-Aston Martin B09/6o que restava na Inglaterra. Antes disso, um dos protótipos foi visto nas 24 Horas de Le Mans, nas cores da equipe belga Kronos Racing, que contou com a assessoria técnica da Marc VDS em Sarthe. Numa prova marcada por um festival de quebras e acidentes dos LMP1, o trio formado por Bas Leinders/Maxime Martin/Vanina Ickx conseguiu um mais do que razoável 7º lugar.

O fim da temporada marcou o regresso do DBR1-2/1, que já virara peça de museu. O #007 disputou os 1000 km de Silverstone com Christian Klien/Adrián Fernández/Harold Primat e chegou em 9º lugar. E o carro ainda tinha fôlego para mais: Stefan Mücke foi escalado para as duas corridas finais da American Le Mans Series e ajudou seus parceiros Fernández e Primat a vencer as 6 Horas de Laguna Seca e fechar a trajetória do protótipo com um mais do que honroso 3º lugar na Petit Le Mans.

Em três temporadas, o protótipo disputou 27 corridas, com nove vitórias, quatro pole positions e cinco voltas mais rápidas. Números mais do que significativos de um carro que, por força dos regulamentos vigentes, viu sua trajetória chegar ao fim.