Saudosas pequenas – Arrows, parte II

gp_argentina_1979_003
Riccardo Patrese a bordo do Arrows A1B no GP da Argentina, em Buenos Aires

RIO DE JANEIRO – Após uma boa primeira temporada na Fórmula 1, a Arrows entrou confiante no Mundial de 1979. Com o aval da Goodyear, a equipe britânica ganhava o privilégio de contar com pneus especiais de classificação, mais moles, para os treinos oficiais daquele ano. Além disto, o veterano Jochen Mass, com passagens por Surtees, McLaren e ATS, se juntava ao time no lugar do compatriota Rolf Stommelen, para fazer companhia ao italiano Riccardo Patrese.

masszolder1979resized
Jochen Mass, ex-McLaren e ATS, juntou-se ao time no #30 em 1979

Num ano onde os carros construídos com efeito-solo se tornavam a cada corrida mais eficientes e velozes, a Arrows pagou caro por suas escolhas. Começou o ano com o mesmo modelo A1 do fim de 1978, remodelado e com a sigla A1B. O desempenho da dupla de pilotos foi de médio para razoável. Patrese foi quase sempre mais veloz que Mass em qualificação, com exceção de Mônaco. Nas corridas, os dois mostravam regularidade, mas figurar na zona de pontuação foi artigo de luxo. Patrese conseguiu um 5º lugar no GP da Bélgica, em Zolder. Mass, que naquele ano usava um belíssimo capacete confeccionado pela Simpson, estilo Star Wars, foi sexto em Mônaco.

01-arrows-a2-042
O revolucionário Arrows A2 foi um passo atrás na evolução da equipe britânica

No meio do campeonato, com três pontos somados no Mundial de Construtores, a Arrows apostou todas as suas fichas num ousado projeto de Fórmula 1 explorando o efeito-solo. Nasceu o chassis A2 – mais uma criação de Tony Southgate e Dave Wass.

À primeira vista, o carro era lindo. Tinha uma asa tremendamente baixa, quase ao nível dos pneus traseiros, numa proposta semelhante a que Colin Chapman introduzira na Lotus 80 daquele mesmo campeonato. As side pods formavam uma leve curvatura, semelhante a de uma banana. As suspensões dianteiras eram cobertas e o A2 foi pensado para correr sem os spoilers dianteiros. Só que a proposta de aerodinâmica do novo Arrows, tal qual o Lotus 80, jamais vingou. O carro era impossível de se conduzir e o projeto era tão falho que Mass e Patrese raramente passavam da segunda metade do grid para a frente. A melhor posição de largada, a partir do GP da França, foi um 13º posto de Patrese, na Áustria.

4300903474_cb74f93d9c
Com o A2, Mass ainda conseguiu chegar duas vezes em 6º lugar, somando pontos

Com muito esforço, Jochen Mass ainda conseguiu pontuar duas vezes com o malogrado A2. Foi 6º colocado em Hockenheim, no GP da Alemanha e também em Zandvoort, na Holanda. No fim do campeonato, o A2 já tinha sido posto para escanteio e a equipe chegou ao cúmulo de levar um velho A1B para Patrese correr em Montreal. Mass não se qualificou para as duas corridas finais de 1979 e a Arrows, após o bom primeiro ano na Fórmula 1, amargou a nona posição no Mundial de Construtores, com cinco pontos – ironicamente (e mais uma vez) à frente da Shadow, já decadente e de equipes como a ATS, a Copersucar e a Ensign – esta última nem pontuou.

80-A3(WarsteinerArrows)patrese hol
Patrese teve bons desempenhos no “convencional” Arrows A3

O jeito foi pensar num carro mais convencional para a temporada de 1980 e naquele mesmo ano de 79 nasceu o A3, outro projeto de Southgate e Wass. Com os mesmos pilotos por mais um ano, a Arrows começou as primeiras corridas no meio do bolo. Em três etapas, Patrese e Mass já tinham visitado a zona de pontos duas vezes – com dois sextos lugares em Interlagos (com Patrese) e Kyalami (com Mass).

Na 4ª etapa, o GP dos EUA-Oeste, em Long Beach, Patrese repetiu o melhor resultado dele e da equipe na Fórmula 1. Sem ser brilhante, chegou em segundo, entre o vencedor Nelson Piquet e o bicampeão mundial Emerson Fittipaldi. Os dois bateram na Bélgica, e nas ruas de Mônaco, quem fez um corridão foi Jochen Mass, que chegou em quarto, com Patrese em oitavo.

2975709064_29009abd88
Mass andou bem até capotar nos treinos do GP da Áustria; depois disto, o alemão nunca mais foi o mesmo

Na verdade, a Arrows foi bem até o tumultuado e cancelado GP da Espanha, onde Mass, inclusive, chegou em segundo, a 50 segundos de Alan Jones. Poderia ter sido um resultado capaz de melhorar a situação do time na temporada, mas a partir do GP da França, os dois pilotos passaram a frequentar o fim do pelotão nos treinos classificatórios, embolados com as Ferrari, a ATS de Marc Surer, a Osella de Eddie Cheever, a Tyrrell de Derek Daly e também com os dois carros da Fittipaldi, de Emerson e Keke Rosberg.

Nos treinos para o GP da Áustria, inclusive, Mass sofreu um grave acidente, capotando com o A3. O piloto alemão ficou de molho por algumas corridas e seus substitutos, o jovem Mike Tchackwell e o alemão Manfred Winkelhock, foram incapazes de classificar o carro #30, deixando o time apenas com Patrese na pista nas corridas da Holanda e Itália. Mass voltou para os dois últimos GPs do ano, quando a temporada já tinha ido pro vinagre e o patrocínio da cervejaria Warsteiner foi junto. A Arrows teria que correr atrás do prejuízo para o Mundial de 1981.

Assunto para o próximo post, é claro…

Comentários