Saudosas pequenas – Simtek, parte I
RIO DE JANEIRO – Esta é uma equipe que ficou marcada pela tragédia e até chegou a mostrar progressos e algum potencial. Mas, a exemplo de muitas outras, foi vitimada pela falta de dinheiro e sua trajetória na Fórmula 1 foi prematura. Falo da Simtek Grand Prix, que conheceremos agora na série Saudosas Pequenas.
Sigla para Simulation Technology, a Simtek foi fundada por Nick Wirth, jovem engenheiro britânico que já tinha projetos para a categoria máxima. Foi ele quem desenhou o carro da risível Andrea Moda (que ainda veremos na série, aguardem!) e da natimorta equipe espanhola Bravo, cujo projeto chegou a ser apresentado, como na foto acima, mas que não saiu do papel por falta de fundos.
Wirth não tinha trabalhado em nenhuma outra categoria e a Simtek, logicamente, não seguiu a trajetória de outras escuderias que faziam parte da Fórmula 1 nos anos noventa. Muita gente estranhou a inscrição do time para a temporada de 1994, mas como a equipe tinha o aval de Jack Brabham e também uma participação de Konrad Schmidt e sua SMS Technology, tudo se resolveu e o bafafá cessou.
O aval de Jack Brabham, inclusive, permitiu que seu filho David retornasse à Fórmula 1 após estrear quatro anos antes pela própria… Brabham, que em 1990 estava nas mãos de um obscuro grupo chamado Middlebridge. O segundo cockpit foi comprado, por cinco corridas, por um estreante austríaco de 33 anos (embora informasse que tivesse 31) chamado Roland Ratzenberger.
A equipe fez exaustivos testes na pré-temporada e Wirth fez profundas alterações no conceito aerodinâmico do carro em relação ao bólido que andou em 1993, quando foi anunciada a estreia do time na categoria máxima. Assim, a equipe chegou à primeira corrida em Interlagos, no Brasil, respaldada por essa quilometragem. De saída, a Simtek ganhou a simpatia de muita gente, por ostentar em sua carenagem o logotipo do canal de música MTV.
O começo foi honesto. Brabham largou em último, enquanto Ratzenberger, por um problema de motor, não se qualificou. O filho do velho Jack chegou em 12º em Interlagos e na corrida seguinte, no GP do Pacífico, em Aida, Ratzenberger enfim estreou. E conseguiu a décima-primeira posição, enquanto o companheiro de equipe abandonava.
Ninguém poderia prever, entretanto, que no dia 30 de abril, uma tragédia marcaria a Simtek para sempre.
Às 14h18 daquele sábado, no circuito Enzo e Dino Ferrari, Roland Ratzenberger vinha em volta rápida para tentar participar de sua segunda corrida de F-1. A 314 km/h, algo errado aconteceu com o carro na reta que ligava as curvas Tamburello e Villeneuve. E aí…
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A morte de Ratzenberger era a primeira desde a perda de Elio De Angelis em 1986 e a primeira num Grande Prêmio desde Riccardo Palletti, havia 12 anos antes. A tragédia abalou todo mundo em Imola, inclusive Ayrton Senna, que perderia a vida no dia seguinte, num acidente na curva Tamburello. O brasileiro tinha guardado no bolso do macacão a bandeira da Áustria, que exibiria em homenagem a Roland caso vencesse a corrida.
A equipe não se ausentou do GP de San Marino, mas Brabham abandonou aquela corrida e também em Mônaco, onde correu sozinho. Nick Wirth tratou de contratar o italiano Andrea Montermini para assumir o carro #32 em substituição a Ratzenberger, mas o drama novamente voltou a tomar conta da equipe.
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A fratura numa perna, em decorrência da batida do vídeo acima, tirou Montermini da equipe para o resto do ano. Brabham foi o 10º colocado na Catalunha e décimo-quarto no Canadá, quando correu sozinho novamente. A partir do GP da França, em Magny-Cours, estrearia um novo segundo piloto: Jean-Marc Gounon.
Francês de 31 anos, Gounon conseguiu o melhor resultado da equipe em toda a temporada. Mesmo saindo de último, chegou na 9ª posição, enquanto David Brabham abandonava. Em Silverstone, os dois em último andaram e em último chegaram, com o australiano em 15º e Gounon logo atrás.
Após um abandono duplo no caótico GP da Alemanha, Brabham foi 11º na Hungria e Gounon repetiu o resultado na Bélgica. A dupla permaneceu trabalhando junta até o GP de Portugal, quando Nick Wirth dispensou os serviços de Gounon e partiu em busca do dinheiro de novos pilotos.
Veio então o italiano Domenico “Mimmo” Schiattarella para o GP da Europa, em Jerez de la Frontera. Na estreia, ele terminou em 19º e último, enquanto Brabham desistia por quebra de motor.
O carro #32 conheceria seu quinto piloto diferente no GP do Japão, quando assumiu o folclórico japonês Taki Inoue, de quem ninguém tinha ouvido falar até aquela data. Mas os ienes que ele levou para os cofres da Simtek ajudaram o time a sobreviver dignamente até o fim do campeonato. Inoue bateu em sua corrida de estreia e Brabham, em meio a um aguaceiro inesquecível, chegou em 12º lugar.
Na Austrália, Schiattarella voltou, mas não foi um encerramento de temporada dos melhores. Brabham teve problemas de motor e desistiu, enquanto o italiano abandonou por falha no câmbio.
Amanhã, mais curiosidades sobre a história da Simtek na Fórmula 1.
Excelente, mais uma pequena correção: Ratzenberger tinha 33 anos e não 31. Tinha usado a mesma artimanha do Gilles Villeneuve, pois nascera em 1960 e não em 1962.
Obrigado, Tuga. Corrigirei. Valeu, amigo! :)
Depois de ver tudo ao vivo e a cores o que aconteceu com Ratzenberguer, não pude evitar o trauma. Meio macabro, mesmo. Até a Sauber, depois de Mônaco me dava medo.
Mas, enfim. Eu não sabia da Bravo F1. Abr
O logo da MTV parecia que dava azar, se não me engano o Fluminense tinha esse patrocinio quando foi rebaixado.
Pior que você tem toda razão, Fabio.
Domenico Schiattarella… taí um piloto que tinha me esquecido da existência!
Se a memória não falha, ele chegou a correr na F3 Sulamericana, no começo dos anos 1990, época em que o campeonato era excelente!
Saudades dessa época…