A Mil por Hora
40 anos do bi

40 anos do bi, parte VIII – GP da Holanda de 1974

RIO DE JANEIRO – A primeira metade do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1974 teria fim com a realização do GP da Holanda, em Zandvoort. No ano anterior, a pista fora palco do horror causado pela morte trágica do jovem piloto britânico Roger Williamson e todos esperavam que o circuito de curvas rápidas e […]

243a
Capa do programa oficial do GP da Holanda

RIO DE JANEIRO – A primeira metade do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1974 teria fim com a realização do GP da Holanda, em Zandvoort. No ano anterior, a pista fora palco do horror causado pela morte trágica do jovem piloto britânico Roger Williamson e todos esperavam que o circuito de curvas rápidas e técnicas estivesse um pouco mais seguro – de forma a proporcionar um ótimo espetáculo para o público.

Vinte e sete pilotos constavam da lista preliminar de inscritos. Hans-Joachim Stuck estava de volta ao seu March 741 e a prova marcaria a estreia de Tom Pryce como piloto da Shadow. O holandês Gijs Van Lennep seria a atração do #21 da Iso-Marlboro, ao lado de Arturo Merzario. Mas dentre todos os participantes nos treinos, dois ficariam de fora já que o grid estava limitado a 25 carros.

Quanto a José Carlos Pace, sua saída da Surtees fora enfim sacramentada e a equipe de “Big” John teria apenas Jochen Mass a bordo. Mas o brasileiro não ficaria fora da Fórmula 1 por muito tempo: Bernie Ecclestone interveio, ajeitou as coisas e Moco regressaria no GP da França, em Dijon-Prenois.

Líder com cinco pontos de vantagem sobre Clay Regazzoni e seis para Niki Lauda e Jody Scheckter, Emerson Fittipaldi chegou ao GP da Holanda sabendo que a Ferrari era a equipe a ser batida, com um carro muito veloz e o motor mais forte da categoria, com mais de 500 cavalos de potência. E não deu outra: o austríaco conquistou sua quarta pole position no ano, nada menos que seis décimos à frente de Clay Regazzoni. Emerson foi o 3º colocado a 1″25 do tempo de Lauda e Mike Hailwood, apenas a 12 centésimos da marca do brasileiro, foi o quarto.

Nos treinos, o Rato só perdeu para as Ferrari de Lauda e Regazzoni

Em sua autobiografia “Uma vida em alta velocidade”, Emerson conta uma hilária passagem acerca do GP da Holanda. Num dos capítulos, ele conta que já estava pronto para a disputa do warm up, o treino de aquecimento que se realizava horas antes de cada corrida, quando notou a chegada de “Mike The Bike”, que vinha de uma noitada em Amsterdã. Sem dormir, olhos vermelhos, o britânico exultava. “Noite fantástica!”

Não se sabe como, mas Hailwood lá estava na segunda fila do grid, alinhando ao lado de Fittipaldi e logo atrás das Ferrari de Lauda e Rega. E assim que a bandeira que autorizou a largada foi baixada, o piloto da McLaren saltou para segundo, logo atrás da Ferrari #12. Na sequência, James Hunt, que largara mal, bateu no novato Tom Pryce e ambos ficaram de fora da corrida antes do fim da primeira volta. Emerson não consegiu um bom arranque e caiu de terceiro para sexto, atrás também das Tyrrell de Patrick Depailler e Jody Scheckter.

Com a Ferrari rendendo muito bem em Zandvoort, Rega demorou duas voltas para superar primeiro Depailler e depois Hailwood para ascender ao 2º lugar. Quase ao mesmo tempo, Emerson deixou Scheckter a ver navios e subiu para quinto.

Hailwood não desgrudou de Fittipaldi desde que foi ultrapassado, permanecendo no retrovisor do brasileiro até a última volta

Na 12ª volta, Depailler, em excelente atuação, trocou de posição com “Mike The Bike” e Emerson não tardou a superar a McLaren #33. O problema é que Hailwood não sairia mais do ângulo de visão do brasileiro até a última volta, o que deixou Fittipaldi muito surpreso, tendo em vista a situação de algumas horas antes da corrida.

Com um carro perfeito para o circuito de Zandvoort, Niki Lauda foi absoluto durante o GP da Holanda

Com Lauda e Rega despencados na liderança, sem possibilidade nenhuma de ser alcançados, tampouco superados, restava ao líder do campeonato tentar ganhar de Depailler o pódio para se manter em primeiro no Mundial de Pilotos. E Emerson conseguiu a manobra de ultrapassagem no 38º giro, pouco depois que o GP da Holanda alcançava sua metade do percurso.

Algumas voltas mais tarde, Depailler perderia também o quarto posto para Hailwood, porque sua Tyrrell já apresentava uma falha na direção. O francês foi ainda superado por Scheckter e acabou com o último lugar na zona de pontuação – isso porque o irlandês John Watson, com um Brabham BT42, seria incapaz de alcançá-lo.

Lauda venceu de ponta a ponta o GP da Holanda, com cerca de oito segundos e meio de frente para Clay Regazzoni e Emerson levou o terceiro posto, chegando somente um segundo e dois centésimos à frente de Hailwood. Entre espantado e surpreso com o piloto do McLaren #33, o brasileiro matou a sua curiosidade e perguntou o porquê da extraordinária performance.

“A garota era maravilhosa!”, exclamou Hailwood. “Foi a melhor noite da minha vida.”

Quem disse que sexo às vésperas de uma atividade profissional não faz bem?

Os três primeiros do campeonato àquela altura festejaram muito no pódio do GP da Holanda

A vitória – a segunda dele na Fórmula 1 – deixou Lauda a apenas um ponto do líder Fittipaldi, com Regazzoni muito próximo e ainda na briga pelo título. O próximo desafio seria o GP da França, num palco inédito: Dijon-Prénois.

O resultado final:

1º Niki Lauda (Ferrari), 75 voltas em 1h43min00seg35, média de 184,621 km/h
2º Clay Regazzoni (Ferrari), a 8seg25
3º Emerson Fittipaldi (McLaren), a 30seg27
4º Mike Hailwood (McLaren), a 31seg29
5º Jody Sckechter (Tyrrell), a 34seg28
6º Patrick Depailler (Tyrrell), a 51seg52
7º John Watson (Brabham), a 1min13seg95
8º Ronnie Peterson (Lotus), a duas voltas
9º Rikki Von Opel (Brabham), a duas voltas
10º Vittorio Brambilla (March), a três voltas
11º Jacky Ickx (Lotus), a quatro voltas
12º Carlos Reutemann (Brabham), a quatro voltas

Não completaram:

13º Denny Hulme (McLaren), 65 voltas (ignição)
14º François Migault (BRM), 60 voltas (caixa de câmbio)
15º Arturo Merzario (Iso-Marlboro), 54 voltas (caixa de câmbio)
16º Guy Edwards (Embassy-Lola), 36 voltas (injeção de combustível)
17º Jean-Pierre Jarier (Shadow), 27 voltas (embreagem)
18º Jean-Pierre Beltoise (BRM), 18 voltas (caixa de câmbio)
19º Graham Hill (Embassy-Lola), 16 voltas (embreagem)
20º Henri Pescarolo (BRM), 15 voltas (dirigibilidade)
21º Jochen Mass (Surtees), 8 voltas (transmissão)
22º James Hunt (Hesketh), 2 voltas (suspensão)
23º Hans-Joachim Stuck (March), não completou a primeira volta (acidente)
24º Tom Pryce (Shadow), não completou a primeira volta (colisão)

Desclassificado:

Vern Schuppan (Ensign), por troca irregular de um pneu fora dos boxes

Volta mais rápida: Niki Lauda, na 63ª – 1’21″44, média de 186,807 km/h