A Mil por Hora
Fórmula 1

Reage, Fórmula 1!

RIO DE JANEIRO – Lamento ter que falar isto, mas que GP do Canadá chato! Logo o Circuito Gilles Villeneuve, batizado com o nome da lenda canadense, que ganhou lá há quase 40 anos, na primeira prova de Fórmula 1 lá realizada, ter em sua história uma corrida tão ruim quanto esta de hoje? Pois […]

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Sebastian Vettel fez sua parte no GP do Canadá: pole e vitória, que deixou o alemão de novo na liderança do campeonato, um ponto à frente de Lewis Hamilton

RIO DE JANEIRO – Lamento ter que falar isto, mas que GP do Canadá chato!

Logo o Circuito Gilles Villeneuve, batizado com o nome da lenda canadense, que ganhou lá há quase 40 anos, na primeira prova de Fórmula 1 lá realizada, ter em sua história uma corrida tão ruim quanto esta de hoje?

Pois é… aconteceu, leitores. Um dia haveria uma corrida em Montreal para a gente riscar da folhinha.

Em tese, porque Sebastian Vettel não vai esquecer deste fim de semana tão cedo. E a Ferrari tampouco: na véspera, a equipe italiana quebrou uma escrita de 17 anos sem largar na posição de honra do grid e o alemão dominou a corrida de cabo a rabo, para chegar à vitória de número 50 na carreira, resultado que o deixou na liderança do campeonato, um ponto à frente de Lewis Hamilton.

E por que? Porque o maior vencedor no circuito entre os pilotos ativos – seis triunfos ao todo – simplesmente não teve a menor chance, chegando em 5º lugar, pior resultado do britânico no ano. Ele alegou uma falha de motor para chegar mais atrás em relação aos rivais, mas não economizou nas críticas. “Uma chatice”, exasperou-se o piloto da Mercedes.

Bem… talvez a análise fosse inversa se tivesse vencido, não é mesmo?

Mas Hamilton não deixa de ter razão: a corrida, que deveria ter 70 voltas no resultado final e acabou com 68 por conta do equívoco da modelo Winnie Harlow – que deu a bandeirada final antes do previsto – foi pobre em emoções. A rigor, o único momento que chamou a atenção mesmo foi o acidente entre Lance Stroll e Brendon Hartley, logo na primeira volta.

Para muitos, um incidente normal de corrida. Na visão de outros, o canadense deu uma espremida no piloto da Toro Rosso, que quase capotou com seu carro. Azar do público local e do neozelandês, que tinha em seu carro a nova versão do motor da Honda e não pôde desfrutar dela.

Sobre Hartley, muitos dizem que ele não é para estar ali. Mas a Toro Rosso tinha mesmo alguma opção óbvia para o lugar? Já falou-se em Lando Norris, mas a McLaren não quer conversa. Até Robert Kubica, com todas as suas limitações físicas, foi cogitado, mas ali também não há negociação – mesmo com a draga em que a Williams se encontra.

Hartley é um piloto pressionado e cobrado, tanto quanto Romain Grosjean, à beira do caos. O francês nem fez tempo de classificação – o motor de seu carro quebrou quando saía dos boxes – e a estratégia de parar apenas uma vez não resultou. Ele acabou em 12º lugar.

Outra constatação do quão chato foi o GP do Canadá é olhar a classificação final e notar o desnível entre as demais equipes e o trio Mercedes-Ferrari-Red Bull.

É outra realidade, bem mais dura.

A Renault, muito embora esteja melhor que as demais – tanto que se isola no 4º lugar do Mundial de Construtores – levou uma volta inteira dos seis primeiros colocados. Em ritmo de prova, a diferença entre os pilotos das três equipes que vêm dominando a Fórmula 1 recentemente foi de 0″319 apenas. Sergio Pérez, sétimo mais rápido na corrida, virou 1″236 mais lento. A volta mais rápida do Renault de Nico Hülkenberg, 7º colocado, foi 1″724 pior que a de Verstappen, o autor do giro mais rápido. Preocupante…

Sabem por que? Porque vem aí pistas de muita velocidade e outras com voltas na casa de 1’10”, 1’11”, como em Montreal. E o pelotão vai acabar ficando assim se não houver alguma coisa diferente – como chuva, por exemplo. Vai ser os vermelhos, os rubrotaurinos e os prateados despencados na frente e o resto é o resto.

Mas mesmo no resto, há esperança. Charles Leclerc, por exemplo, pontua pela terceira vez em sete corridas. O monegasco teve bom desempenho nas sessões de classificação – foi mais rápido que as McLaren! – e em ritmo de corrida, fez a 10ª volta mais rápida da disputa. Suas performances ofuscam o companheiro de equipe e, convenhamos, não é preciso ser adivinho para saber que o lugar de Marcus Ericsson não é a Fórmula 1.

E o de Leclerc é numa equipe muito melhor, no futuro.

Só que não nessa Fórmula 1 que vemos. Já está na hora de parar de apontar o dedo para os circuitos de Hermann Tilke como se fossem os únicos culpados pelos problemas da categoria. Se numa pista bacana como a de Montreal tivemos um porre de corrida, é porque tem coisa muito errada aí.

O regulamento técnico tem que ser revisto urgente. Não é apenas acabar com barbatanas e asas suplementares em T. É preciso dar um basta no artificialismo, na falta de ultrapassagens, na chatice que é a Pirelli determinar três tipos de pneus para cada pista e as equipes que se virem.

As equipes têm que ter voto de escolha. Exigir flexibilidade para um melhor espetáculo, para que o público possa sair dos autódromos satisfeito. Garanto que, quem esteve no Circuito Gilles Villeneuve hoje, esperando algo ao nível do que sempre existe naquela pista, teve uma bárbara decepção.

Reage, Fórmula 1! Antes que seja tarde demais.