A Mil por Hora
Fórmula 1

De quina pra lua

RIO DE JANEIRO – “De quina pra lua” foi o título de uma das mais fracas novelas da Dona Globo. Exibida em 1985/86, tentou colocar o saudoso Agildo Ribeiro, mestre do humor, como protagonista de uma trama que jamais deixou saudades. Hoje, em 29 de setembro, aproprio-me da expressão para falar da vitória de Lewis […]

RIO DE JANEIRO – “De quina pra lua” foi o título de uma das mais fracas novelas da Dona Globo. Exibida em 1985/86, tentou colocar o saudoso Agildo Ribeiro, mestre do humor, como protagonista de uma trama que jamais deixou saudades.

Hoje, em 29 de setembro, aproprio-me da expressão para falar da vitória de Lewis Hamilton neste domingo de GP da Rússia de Fórmula 1.

Uma corrida que tinha todos os ingredientes para o domínio da Ferrari. Pole position de Charles Leclerc, liderança de Sebastian Vettel nas voltas iniciais e aí começou o #mimimi.

Pelo que se notou, havia uma combinação de que o alemão teria a pista livre para assumir o comando, puxaria o “train” e Leclerc, vindo no encalço, teria depois disto total condição de, com um carro mais rápido, assumir a liderança e partir pro abraço.

Não foi exatamente isso que aconteceu. Aliás, não aconteceu: Charles não seguiu a toada de Vettel, se vestiu de lamúrias na comunicação via rádio com a equipe e o piloto do carro #5 fez a parte que lhe cabia, até que a equipe ‘ordenasse’ a troca de posições.

Leclerc parou primeiro na volta 23. Montou pneus médios quando a diferença entre ele e o companheiro de equipe já estava em quatro segundos. A Mercedes começara a corrida em Sóchi exatamente de médios, esperando um golpe de sorte contra a rival italiana.

E o golpe veio.

Vettel, o líder, tinha quase seis segundos para Hamilton e foi aos pits, para trocar dos macios para os médios. Conforme o planejado, Leclerc ‘ultrapassou’ o alemão e a tendência apontava para a quarta vitória dos vermelhos, terceira do monegasco.

Mas o motor do carro #5 entrou em pane. Um desconsolado Tião teve que parar. A direção de prova, ao invés de chamar o Safety Car normal, acionou o VSC. Foi perfeito para os alemães: Hamilton e seu escudeiro Valtteri Bottas foram aos boxes e retornaram à pista com pneus macios.

Outro golpe de sorte foi o Safety Car – esse sim real – acionado após a relargada quando George Russell bateu, no segundo acidente consecutivo do piloto da Williams, o único a não marcar pontos nesta temporada. Leclerc foi de novo aos pits, voltou aos pneus macios, mas depois Bottas fez o papel que lhe cabia e segurou o piloto da Ferrari.

Com esse presente saído dos céus (ou do motor de Vettel, como queiram), Hamilton conquistou uma improvável vitória com pontuação máxima, já que foi também o autor do giro mais rápido. Pela 143ª vez na carreira, aliás e a propósito, o “Comandante” liderou pelo menos uma volta – novo recorde histórico da Fórmula 1.

Numa corrida que achei bem morna (aliás, já existiu corrida boa em Sóchi, de fato?), há que se destacar Max Verstappen recuperando posições e Alexander Albon – largando dos boxes – para ser um ótimo 5º colocado. Dá o que pensar o que teria feito o tailandês na disputa se tivesse largado mais à frente, se não batesse no qualifying.

Carlos Sainz Jr. merece citação por ter sido o melhor do resto em ótima atuação com a McLaren – que terá motores Mercedes de novo a partir de 2021, dentro do novo regulamento. A equipe seguirá como cliente Renault, mas já se prepara para se aliar de novo à marca que lhe deu performances consagradoras entre os anos 90, 2000 e parte da última década.

E paremos por aí. O resto não merece mais nenhum tipo de citação, a não ser que Hamilton agora tem 73 pontos de frente para Bottas após a nona vitória na temporada e a Mercedes não só nada de braçada para levar mais um título de construtores como – mesmo não tendo mais o melhor carro – fará do britânico campeão pela sexta vez com a mesma folga de sempre.