Minha missão

RIO DE JANEIRO – Hoje, o Facebook me lembrou de algo que postei lá por 2013 (acho) e que, ao menos para mim, soa como uma pétrea e imutável defesa de princípios profissionais. E vou tomar a liberdade de partilhar isso com os leitores e leitoras do blog.

Não desmereço quando há pilotos – dependendo de quem seja, claro – comentando uma corrida de qualquer categoria de automobilismo. O problema é que nem todos sabem se expressar.

Mas o que mais me incomoda nessa defesa candente da figura do piloto-comentarista é o desmerecimento do trabalho do JORNALISTA especializado. E como tal, sinto-me atingido e ofendido.

Até porque, como acompanho automobilismo há 33 anos, acho que consegui cancha suficiente para poder passar informações e algum conhecimento técnico, uma vez que na maioria das vezes, sempre tentei me inteirar das novidades.

Mesmo não tendo guiado um carro na vida, pelo menos posso dizer que na maioria das vezes ninguém tem do que reclamar do meu trabalho.

Porém, como tenho visto manifestações cada vez maiores pedindo por pilotos comentando corridas, faço um desagravo aos demais colegas jornalistas que militam na profissão, que escolheram sair do ramerrão do futebol e incentivo aos que ainda não atingiram o seu objetivo de trabalhar no métier de automobilismo a não se desestimularem e irem à luta.

Foi assim que conquistei tudo o que tenho. Jamais, em 13 anos numa outra emissora e nos seis meses de Fox Sports, fui puxa-saco, baba-ovo de chefe, filho da puta ou puxador de tapete. E me orgulho muito de ter meu caráter forjado na dedicação, no empenho e no amor ao que sei fazer de melhor.

Pois é… os anos se passaram. Já são quase quatro décadas de paixão pelo esporte que me conquistou. E atingi neste ano de 2019 seis anos de Fox Sports, outro tanto de blog – cinco aqui no Grande Prêmio. Quando escrevi essa postagem aqui, eu tinha somente seis meses de casa.

Queria dizer que aos 48 anos de idade, sinto-me inseguro. Como nunca me senti na minha vida inteira. Errado está quem se acha 100% seguro de tudo. Quando fiquei desempregado em 2012/2013, pirei e quase entrei em depressão.

Faz oito meses que não durmo direito – por motivos que minha consciência me faz alertar que o perigo está à espreita sempre. Justamente por eu não ser de panelas e nem de corriolas. E principalmente por eu ser de um mètier que é taxado em redações esportivas como algo “menor”.

Ah… devem pensar assim porque não há brasileiro na Fórmula 1.

Doce ilusão.

Mas e a quantidade de pilotos do país vencendo em outras categorias? Quanto sucesso conquistado por esses desbravadores?

E quanto orgulho tenho de poder ter feito parte disso…

Valeu a pena batalhar e insistir. E, a despeito de todas as dificuldades e de tantas noites maldormidas, com sonhos terríveis que atormentam meu pensamento, Le Mans foi o prêmio máximo na minha carreira profissional. A minha maior conquista e realização.

Apesar disso, sigo insatisfeito e incomodado. Como disse, o perigo está à espreita e, creiam, estou assustado com o que pode vir no futuro.

Já me disseram o seguinte… “Desencana… viva um dia de cada vez”. Tô tentando mas é muito, muito difícil. É algo que tanto mexe comigo que pedi socorro e vou atrás de ajuda profissional, de uma terapia.

Tive coragem de explanar meu medo nas redes sociais e não faltaram palavras de conforto e apoio vindas de todos os lados.

Quisera eu poder acreditar que vou continuar dando o meu recado nos canais em que tenho oportunidade – seja aqui ou na televisão – pelos próximos anos. Quisera eu poder prever meu futuro e, como não tenho essa capacidade, tenho o direito de ter medo.

Medo de ser passado para trás por um piloto-comentarista, medo do que pessoas podem fazer pra te foder, pra te prejudicar porque não gostam de você por motivo pessoal e esquecem toda tua cancha, todos os teus 21 anos de profissão, os 16 de comentarista de automobilismo.

A gente é descartável.

Então, meus amigos leitores, aconteça o que acontecer de aqui pra diante, vai o recado: a minha missão eu cumpri. 

Se infelizmente as novas gerações não compreendem que esporte vai além de futebol, só lamento.

Se existem pessoas que não te dão o devido valor, lamento mais ainda. Eu sempre soube me dar o devido valor. Mas não posso esperar reciprocidade de mais NINGUÉM. 

Não existe almoço grátis. Mas exijo e continuarei exigindo respeito ao que fiz e principalmente ao que posso ainda fazer, se este for o desejo de quem está envolvido com mídia e automobilismo neste país.

Recado dado.

Comentários

  • Com todo o respeito ao pessoal do Grande Prêmio, em que vc faz participação nos vídeos esporadicamente. Já passou da hora de vc ter seu próprio canal no Youtube.

    A bagagem que vc têm no automobilismo faz que vc tenha conteúdo quase infinito pra produzir vídeos e histórias pra contar.

    Se mesmo jornalistas que estão em emissoras já tem seu canal e produzem vídeos independentes, porque não você?

    Grande abraço e estamos juntos.

  • Rodrigo bom dia. A aquisição da FOX pelo grupo Disney (ESPN!) realmente deixa você e muitos outros profissionais assim.; inseguros. Mas quando você não tem controle de algo, não adianta nada se preocupar. Entendo que falar é fácil para quem não está envolvido. Mas se me permitir continue fazendo o trabalho que você faz e ponto. As suas informações são bem técnicas e precisas e por isso você tem ainda um público (pequeno mas tem!). Mas lembre-se: muitas poucas pessoa gostam de automobilismo. Nem da F1. Brasileiros de maneira geral gostam apenas de ídolos e heróis. Só usado. Independente do esporte. Tenha isso claro. Sou mais velho que você e já vi muitas coisas assim. Continue assim sendo um bom JORNALISTA DE AUTOMOBILISMO. Abraço

  • Rodrigo, já tive a chance de dizer isso pessoalmente lá naqueles 500km de SP, no Velo Cittá, em 2017, mas repito, você é o melhor profissional da área de jornalismo no automobilismo. E isso que temos outros grandes… Mas você supera pelo conhecimento histórico e técnico, seriedade nas transmissões e postagens, dedicação, trabalho incansável, meticuloso, útil e pela forma como ajudou a solidificar e a expandir a modalidade de Endurance no Brasil. Aqui, automobilismo era sinônimo de Fórmula 1 – não apenas para torcedores e leigos. Até os pilotos sempre cresceram pensando apenas em chegar na categoria máxima. No entanto, de alguns anos para cá, vemos atenções já muito voltadas para o Endurance (IMSA, WEC e até mesmo nosso campeonato nacional). Tenha certeza que parte disso, desta mudança, é fruto do seu trabalho. Vi que este ano você foi a Le Mans e se sentiu gratificado, honrado. Tenha toda a certeza que aquela pista, que tem espírito próprio e escolhe vencedores, sentiu o mesmo em relação a você.
    Angústias sobre mercado de trabalho, ameaças do dia a dia, atormentam por questões práticas, financeiras, corporativas … mas devem ficar nisso. Não definem você.
    Perder sono mesmo, só se não estivermos cumprindo a nossa missão. E isso você sabe que está!
    Um abraço!

  • Rodrigo, estou numa fase da vida em que já dei por terminada minha caminhada profissional, mas sei o que é se sentir assim; durante quarenta anos estive na batalha e muitas vezes pisei em areia movediça… A única coisa que posso te dizer é que não adianta sofrer por antecipação. As mudanças de rumo nem sempre obedecem a uma lógica que se possa prever, ou às projeções de futuro que a gente tinha imaginado para si mesmo.
    A solução é fazer o que está dentro da sua capacidade e do seu âmbito de controle: percorrer o bom caminho, fazer o melhor trabalho possível. O que está fora desse escopo, deixa acontecer e aí vê como fica.
    Mas folgo em saber que você está pensando em terapia. É sempre bom, principalmente nesses momentos. A gente acaba se deparando não só com nossas limitações, mas também com nossas forças.
    Acelera Rodrigo, sempre! Um abraço.

  • O seu jornalismo automobilístico é o melhor do Brasil, independente das mudanças de mercado ou de pessoas que trabalham nesse setor, você sempre terá seu espaço. Os amantes do esporte a motor tem carência de boas matérias e coberturas do certames, portanto sempre existirá demanda.

  • Serei breve. Mas sou sincero… primeiro tento me colocar no seu lugar e creio que compreendo tua posição. Segundo e mais importante: você é muito bom!!!

  • Cara, entendo o que você está passando. Se eu, que sou um mero telespectador, já fico preocupado se ainda vou ter como acompanhar os campeonatos de automobilismo transmitidos pela Fox após essa tal fusão com a Espn, imagino quem trabalha no canal, a preocupação que deve estar passando. Mas é como disseram: não se deixe abater. O público do automobilismo é fiel, e estará contigo aonde você estiver.

  • Rodrigo Mattar, aconteça o que acontecer, siga sua profissão em frente. Eles precisam de você, muito, acredito! Mas você com toda sua bagagem e CONHECIMENTO que possui em termos técnicos e também práticos, você não precisa deles. Você não precisa de uma emissora para provar algo para nós que somos o produto final da sua competência, tampouco precisa de uma emissora para continuar transmitindo para nós todas as suas aulas (como costumo falar sobre seus comentários nas transmissões que são sim verdadeiras aulas sobre automobilismo) de conhecimento sobre este esporte tão técnico e emocionante que é o automobilismo.
    YouTube está ai, Facebook está ai, podcasts… você tem o futuro em suas mãos e o conhecimento necessário para o sucesso em seu interior.
    Pode ter certeza que seja por qual plataforma que seja onde você vier a expor toda sua competência como jornalista automobilísticos, assim como eu, muitas das pessoas que o acompanham tanto aqui no blog, como no Grande Premio e como nas transmissões do Fox Sports, continuaremos a seguir o seu trabalho pois no Brasil não há outro jornalista tão qualificado ao seu nível que nos possa passar nem 25% daquilo que você, Rodrigo Mattar, nos passa.

    Você não é um mero jornalista, você é uma referencia para todos nós!!!

    Cara, comecei acompanhar seu trabalho em 2015, quando finalmente vim a ter condições de ter uma TV paga em casa e desfrutar das transmissões da Fox. Me apaixonei pelas transmissões em que você comentava com a Narração do Sergio Lago. Logo ele deixou a Fox mas você continuou… passei a acompanhar aqui seu blog e inclusive enviei solicitação de amizade a você no facebook onde vejo as diversas postagens de âmbito pessoal e também profissional e sabe o que eu sinto hoje???

    Sinto vontade de fazer jornalismo para falar de automobilismo, que também é a minha grande paixão!

    E se hoje eu tenho esta vontade de fazer faculdade de jornalismo é por sua causa, por tudo que eu sei que você representa e por tudo que já aprendi lendo seu blog ou assistindo á uma transmissão aos seus comentários. Infelizmente hoje não tenho condições de pagar uma faculdade de jornalismo, mas dentro de alguns anos terei e assim o farei e me lembrarei de você, pois é minha grande inspiração.

    Seja forte cara, você não tem noção do que você representa, você não mede seu tamanho, não sabe o quão grande você é no meio do automobilismo e assim como eu, você é inspiração de muita gente.

    Seja da maneira como for, com ou sem emissora, com ou sem blog… você ainda pode chegar muito longe cara!

    Lembre-se: você não precisa deles; eles sim precisam de você!

    Um abraço!

  • Paciência Mattar, cuide da cabeça e trabalhe outras opções, muito do automobilísmo está migrando para o streaming e certeza que profissional especializado será muito necessário.

  • Amigo Rodrigo,

    Não se iluda, TODOS nós, em todas as áreas, passamos por esses momentos de insegurança total, em vários momentos da vida profissional. Eu, aos 65, com mais de 4o anos de solida carreira, estou vivenciando isso mais uma vez, agora não apenas pela volatilidade do mercado, mas pela idade mesmo.
    Leia com atenção todos os comentários postados aqui, todos absoluta e corretamente elogiosos a tua qualidade como jornalista, comentarista, homem de automobilismo, e como ser humano. Mas leia de novo, pense sobre, e guarda na memoria, a mensagem do Alvaro Ferreira: ele resumiu em poucas palavras as agruras por que passamos na vida profissional e a forma de convivermos com elas.
    Saiba que FDP, maus caráter, puxa-sacos, e mais uma corja de gente sujeita a adjetivos tais, transitam por todos os meios. São fantasmas que, se prestarmos muita atenção neles, atormentarão os nossos dias !!! Então, siga em frente, não bate palma pra maluco dançar, que a vida te devolve o fruto do teu trabalho em dividendos. O que tiver de vir virá, e lembre-se daquele ditado que nossos pais nos ensinaram quando eramos crianças, cada vez que caímos nos chão: “Levanta pra cair de novo” ! A vida é assim.
    A tua competência é inquestionável, eu já tive oportunidade de te dizer isso varias vezes, aqui, e pessoalmente. Você é o melhor e mais completo jornalista de automobilismo do momento, o mais dedicado, o de maior conhecimento, o que mais pesquisa. E você é consciente disso. Logo, você tem condições de encarar eventuais surpresas desagradáveis que a vida venha a oferecer. Não tema. Teu espaço será garantido pela tua competência. E os teus seguidores (puxa, acho que nunca usei essa palavra “moderna”…) estarão contigo sempre, onde você estiver. Os teus amigos também.

    Abraço

    Antonio

    .

  • Hi Rodrigo Mattar, tu sabes que o acompanho ha tempos, seja pelo teu blog, seja pela TV em transmissões; e me identifico e empatizo contigo pela mesma paixao em automobilismo. Tu falastes a verdade e vejo que esta firme em tua decisão…deixe o tempo…passei um bocado ruim, muito ruim mesmo na vida…e hoje nao que esteja super otimo, mas estou com uma pessoa que me da muita força e amor; e isso é um aditivo e tanto na minha vida, hoje. Seja firme, peça sempre forças para se equilibrar emocionalmente e se lembre que tu tens a tua esposa, filho e mãe para lhe dar sempre forças e amor.

  • Caro Rodrigo,
    sua missão não está cumprida!
    Tudo o que fez até o momento se deu de forma profissional, digna e brilhante. Mas sua jornada na luta pela verdade, qualidade e divulgação daquilo pelo que somos apaixonados ainda não terminou.
    Claro, já se pode dizer que há um belo legado, basta ver os comentários dos demais leitores do blog, mas lembrando Brecht, existem aqueles que lutam por toda a vida e esses são imprescindíveis! Seu caso.
    Se não tens o poder de definir o futuro, tenha a serenidade daqueles que sabem que estão fazendo o melhor e que sempre terão seu espaço em razão de toda essa bagagem que possui.
    Bons pensamentos para ti, paz e serenidade.
    Não faltará gente para te apoiar e lhe desejar o melhor, independentemente do que venha a ocorrer.
    Poucos tem o cacife moral e profissional que possui.
    Seguimos juntos!