Um sunday drive

RIO DE JANEIRO – Foi fácil. Até demais. Na corrida mais entediante do campeonato desde o pavoroso GP da França, Lewis Hamilton dominou sem nenhuma oposição. Pole, melhor volta e vitória de ponta a ponta em seu GP de número 250.

Com o sexto “Grand Chelem” da carreira, Lewis se aproxima do Escocês Voador Jim Clark, que detém o recorde de oito provas (em 72 disputadas, diga-se) fazendo barba, cabelo e bigode em 70 temporadas de Fórmula 1.

Diante dos fatos, o que mais pode ser dito desta corrida que é um tédio completo por força da monotonia do traçado desenhado por Hermann Tilke e que custou muitos milhares de dólares? Pode parecer bonita – para uns é, pelo visual. Mas tecnicamente é ordinária. Emoção? Zero.

Pois se até Toto Wolff largou seus fones da griffe de aparelhos de som Bose para dar uma força no pit stop de Bottas e até o DRS, como sabendo que a corrida seria uma bosta, foi desativado por 15 voltas.

De bom mesmo, só Max Verstappen – mesmo reclamando – dando um passão em Charles Leclerc pra terminar em segundo e Valtteri Bottas vindo de último para quarto – que pode ser ainda transmutado em pódio.

Por que? Porque mais uma vez a Ferrari cagou no pau.

Uma investigação dos comissários técnicos da FIA, liderados pelo egrégio Jo Bauer, pode levar Leclerc a ser desclassificado após a corrida deste domingo. Aliás, se a infração existiu, não era caso nem de ter participado da prova. Já deveria sofrer a exclusão ANTES da largada.

Mas é a FIA…

Antes da largada, foi constatada uma discrepância entre a quantidade de gasolina informada pela equipe italiana e o que havia de fato no tanque do carro #16. O que seria uma inconformidade dentro do artigo 12, item 19, do regulamento técnico.

Deixar para deliberar após a corrida é de uma incompetência sem tamanho. Como também incompetente foi a equipe italiana com seu show de estratégias equivocadas que, pela enésima vez em 2019, jogou a corrida de seus dois pilotos no lixo.

Aliás, a possível eliminação dos pontos de Leclerc em nada mais mudará a classificação do campeonato. Caso Vettel herde mais dois pontos pelo 4º lugar, já que foi quinto, o alemão terá chegado a 242 pontos. O monegasco baixaria de 264 a 249. Seria quarto na classificação do mesmo jeito, já que Verstappen finalizou em terceiro no Mundial de Pilotos.

E o melhor do resto, suando o macacão, foi mesmo Carlos Sainz Júnior, que ainda superou uma Renault na última volta para terminar o GP de Abu Dhabi na 10ª posição e ultrapassar Pierre Gasly justamente por um pontinho – o que o espanhol da McLaren de fato precisava. Em caso de empate, o francês da Toro Rosso ficaria em sexto no Mundial por ter chegado em 2º no GP do Brasil. No fim das contas, o toque sofrido em Interlagos custou também muito caro a Alex Albon…

Outro piloto que fez boa corrida foi Sergio Pérez, que fez seu sexto top 10 seguido no ano – oitavo desde as férias de verão. Contudo, a Racing Point não fez pontos suficientes para suplantar a futura AlphaTauri na classificação dos Construtores.

A Renault teve uma corrida melancólica na despedida de Nico Hülkenberg e outro que sai da categoria, Robert Kubica, termina o ano como começou. Último no grid, último na corrida.

Foi uma corrida bem chinfrim para um ano até bom para a Fórmula 1. No bojo, não foi um campeonato sensacional. Mas tivemos algumas corridas excelentes e várias outras boas. Só o abismo entre Mercedes e as demais é que podia diminuir.

Mas não se enganem: é bem possível que o domínio dos prateados continue no último ano dentro do atual regulamento. E assim Hamilton, que chegou à 84ª vitória da carreira – onze, só neste ano – deve atropelar a marca histórica de 91 triunfos de Michael Schumacher.

Até 2020!

PS.: gente, nem uma palavrinha sobre o Reginaldo Leme? É sério isso?

Jogaram fora uma história construída durante mais de quatro décadas, dessa forma?

Bom… eu ainda me surpreendo com certas coisas quando não deveria mais, mas achava que ele merecia muito mais consideração.

Doce ilusão, a minha.

Na Porsche Endurance, neste sábado, fui testemunha de que, consideração mesmo, ele tem dos amigos do automobilismo. O resto é o resto.

Comentários

  • Abu Dhabi é aquela corrida que só o fã mesmo de F1 consegue assistir. E aínda assim, quando não vale título, vc fica torcendo para a tortura acabar logo. Algumas conclusões minhas, já que o tédio durante a disputa foi difícil de superar:
    1 – A F1 depende demais do DRS. Nas voltas sem o artifício, era um parto ultrapassar, mesmo colocando em conta a diferença dos pneus. Lembrou, como bem informado durante a prova, Abu Dhabi 2010.
    2 – Falta muito para a Ferrari chegar na Mercedes. A equipe é uma zona. Inventaram duas vezes durante a prova, e só andaram para trás. Para mim terminam o ano em baixa
    3 – A Mercedes deitou e rolou no fds, Hamilton fez a volta mais rápida de pneus duros e bem usados, correu e ganhou do jeito que quis. Bottas só não chegou ao pódio por ter ficado preso atrás dos carros mais lentos no início, no período sem o DRS.
    4 – Despedida melancólica do Hulkenberg, perdendo a chance de pontos na última volta. Falando bem a verdade, ninguém vai sentir muita falta, piloto mais superestimado que vi correr na F1. Pouquíssimos brilharecos, ser alemão ajudou muito, fosse sul-americano não ficava 3 anos correndo

  • Pra quem chutou o profissional sem nem dar muitas satisfações, era até previsível que não dissessem uma palavra. Como se ele tivesse sido abduzido e sua existência simplesmente apagada. Triste.
    O bom é que já nos incomodamos com isso. Há tempos atrás seria normal.
    E já se imaginava que a corrida seria modorrenta. O dia que não tiver mais corrida lá ninguém sentirá falta. Nem os árabes, creio.
    Agora é pensar em 2020. Tchau, Kubica. Que seja feliz e competitivo em outro lugar. Tem condições.
    Tchau, Hulkemberg. Seja feliz também. Mas que tu é superestimado, é. Pra caramba. Mais que você só o Ericsson.

  • Rodrigo,

    Sei que deve ter feito matérias sobre o Jim Clark, que mesmo não tendo o visto, acredito ter sido o melhor piloto de todos os tempos. Venceu mais de 1/3 das corridas que disputou. Foi pole em 45%, venceu em oval e turismo (Prost, Schumacher, Senna e Lewis, não fizeram). Ele era piloto completo, era só dar um veiculo com 4 rodas e um volante que ele era competitivo.. Tudo isso em uma época que carros quebravam com muito mais frequência e a formula 1 era mais competitiva

  • Mattar,

    Acompanhei de perto o Porsche Endurance, mas acho que cochilei ou tava dando comida para os peixes e acabei não vendo a homenagem ao Regi feito durante a prova…

    Como foi!?