Com recorde de voltas, Bentley e M-Sport vencem as 12h de Bathurst

Como quem não queria nada, quietinho, o “Boatley” do trio Pepper/Soulet/Gounon veio do 11º lugar do grid para a vitória – finalmente – nas 12h de Bathurst, após seis tentativas da marca britânica na prova australiana

RIO DE JANEIRO (Que corrida!) – Mount Panorama nunca decepciona.

Mesmo com todos os perigos que rodeiam corridas no circuito australiano – de qualquer categoria – a edição 2020 das 12h de Bathurst foi sensacional do início ao fim, abrindo com louvor a temporada de provas do Intercontinental GT Challenge.

Ritmo alucinante no início, os acidentes (dois deles violentíssimos) de praxe, cinco entradas de Safety Car e mais um recorde quebrado na história da disputa – que conheceu mais uma fábrica vencedora.

Finalmente a Bentley recebeu o pano quadriculado em branco e preto à frente dos adversários num dos traçados mais insanos do planeta. E nem um pneu furado foi capaz de deter Jordan Pepper/Maxime Soulet/Jules Gounon, que completaram a disputa em 314 voltas – duas a mais que o recorde anterior alcançado ano passado.

Sobretudo o recorde foi superado graças períodos menos extensos de Safety Car e pelo fato de 34 carros largarem – eram 39 na lista de inscritos.

A corrida começou ainda com o dia às escuras (5h45 locais deste domingo) e ritmo alucinante com Maxi Bühk – da equipe de Felipe Fraga – alcançando a liderança logo após a bandeira verde numa manobra espetacular para cima dos dois carros da primeira fila.

Eventualmente, Bühk foi superado por Ben Barnicoat no McLaren 720S GT3 da 59Racing/EMA Racing e a corrida transcorreu ok até o primeiro stint. A Porsche já dava sinais de que poderia incomodar com turnos mais longos de seus carros e uma melhor autonomia, de em torno de 36 voltas. Mas foram apenas sinais…

Logo depois, veio a primeira porrada: cortesia de Côme Ledogar, que perdeu o carro nos esses da parte alta e deu “PT” num dos Aston Martin. Aliás, mais um do construtor britânico destruído.

https://www.youtube.com/watch?v=2_ERZD_cApU

Os períodos de Safety Car mudariam – e mudaram – as estratégias e os rumos da disputa. E como bandeira amarela chama bandeira amarela, não demorou muito e veio mais uma porrada. O Lamborghini #6 da Wall Racing, responsável direto por eliminar um dos concorrentes da prova por acidente num dos treinos em Bathurst, teve seu pecado pago. Julien Westwood deu no muro e o carro com “livery” da BASF ficou de fora.

Logo depois da bandeira verde, mais uma panca de respeito. A Valvoline sempre tem histórico de problemas em Bathurst e dessa vez não foi diferente. E logo com um piloto da casa: Garth Tander tentou evitar um dos outros carros do time, conduzido por Dries Vanthoor, e perdeu o controle minimamente. A pequena traseirada resultou em contato imediato e muro para o #22. Fim de corrida para ele, Mirko Bortolotti e Chris Mies (que nem andou)

https://www.youtube.com/watch?v=o9v9if-7cWI

Nessa altura da disputa, o Bentley #7 – carinhosamente chamado de “Boatley” nas redes sociais, começava a pôr as manguinhas de fora. O #8 acidentado no quinto treino livre, o carro de Oliver Jarvis/Seb Morris/Alex Buncombe, avançava célere rumo ao top 10.

Outro inimigo dos pilotos e equipes, além do perigo constante dos muros era de um animal que vira e mexe dá o ar da graça em Bathurst: o canguru. O marsupial saltitante foi visto algumas vezes à margem da pista e pelo menos dois incidentes foram registrados com atropelamentos.

Num deles, Nick Catsburg pegou um pela proa e o capô da única BMW inscrita ficou seriamente danificado a ponto do time Walkenhorst perder qualquer chance de um bom resultado na disputa. Além disso, Chaz Mostert, ótimo piloto local, não estava bem de saúde. Augusto Farfus fez o que lhe foi possível, mas a trinca desistiria após completar 166 voltas.

Nesse turno, Felipe Fraga e João Paulo Oliveira estiveram sempre no protagonismo em seus stints. O brasileiro da Mercedes-AMG da GruppeM chegou a ser líder pontual da disputa e acabaria penalizado com um stop & hold de 15 segundos por uma infração num dos seus pits.

O “Oribeira” guiou demais – era a estreia dos dois em Bathurst, traçado que conheciam de simuladores. Com o Nissan da KCMG, deixou pra trás numa manobra sensacional ninguém menos que Jamie Whincup, lenda do Supercars australiano e Laurens Vanthoor, um dos melhores pilotos de Grã-Turismo da atualidade.

Mas o Bentley #7 começou a pôr as asinhas de fora e virou uma carne de pescoço dura de digerir e engolir. Maxime Soulet mandou o sapato num dos turnos de pilotagem e, com pista livre, se divertiu sumindo da concorrência.

Até que o outro carro da M-Sport então guiado por Oliver Jarvis bateu na parte alta e provocou o que seria o último Safety Car da disputa.

A briga pela vitória se acirrou, vários “players” tinham chance e a autonomia ou a escolha do momento certo (e também do errado) dos pit stops finais dariam a polaroide do que poderia ser o final.

Acabou que o Bentley #7 teve um pneu furado em plena reta Conroy, o ponto mais rápido da pista, provocando um frisson. Mas não houve danos, Gounon controlou muito bem o carro e seguiu em frente.

Nas últimas voltas, castigo imerecido para a KCMG: uma falha nos freios dianteiros comprometeu a performance do “Godzilla” e a trinca João Paulo de Oliveira/Alex Imperatori/Edo Liberati fechou apenas em 13º no final. Uma pena!

De segundo para o 6º lugar: a trinca Marciello/Fraga/Bühk perdeu o pódio por uma infração no último pit. No mínimo incoerente a punição de 30 segundos pós-prova quando nas demais foram pênaltis de 15 segundos, no máximo

O último pit stop de emergência da GruppeM geraria polêmica: Raffaele Marciello também sofreu um furo de pneu na reta Conroy, trouxe o carro pra box, montou pneus novos e veio ao ataque sobre Tom Blomqvist, que meio que não ofereceu resistência.

Ocorre que a direção de prova investigava uma infração no pit do #999, que fez a ultrapassagem e cruzou em segundo. Porém, foi observado no entendimento da turma da torre, que Lello ligou o carro antes das rodas estarem em contato com o solo. O que gerou uma punição que pode dar o que falar: acréscimo de tempo de 30 segundos e a queda para o 6º posto final.

A Bentley, após seis tentativas frustradas, enfim venceu a árdua disputa de Mount Panorama, cruzando após a homologação do resultado com diferença de 41″524 para o McLaren da equipe local 59Racing/EMA Racing guiado por Ben Barnicoat/Álvaro Parente/Tom Blomqvist.

O pódio congregou três marcas diferentes, pois a Triple Eight Motorsport herdou a 3ª posição na punição à GruppeM, no carro guiado por Shane Van Gisbergen/Jamie Whincup/Maxi Götz.

Pole position, o Porsche #911 da Absolute Racing conduzido por Matt Campbell/Mathieu Jaminet/Patrick Pilet fechou em quarto, com Maro Engel/Luca Stolz/Yelmer Buurman na sequência a bordo da Mercedes-AMG da Craft-Bamboo w/Black Falcon.

Quem também impressionou foi o outro McLaren 720S GT3 da 59Racing, que venceu a Silver Cup com um espetacular 8º posto geral alcançado por Fraser Ross/Dominic Storey/Martin Kodric – este último, com voltas espetacularmente rápidas no turno final, quase ficando com o recorde do melhor giro da prova – a primazia coube a Kelvin Van der Linde, com um Audi – 2’03″279, num carro seis voltas atrasado.

A Grove Motorsport foi mais uma equipe da casa que obteve um bom resultado: 10º lugar e vitória na divisão Pro-Am com Stephen e Brenton Grove, mais Ben Barker, derrotando um dos Porsches da Earl Bamber Motorsport que correu sob o nome de NED Racing Team, guiado por Romain Dumas/David Calvert-Jones/Jaxon Evans.

Com apenas dois inscritos, a classe dos GT4 viu a equipe Jörgensen-Strom faturar em cima do Mercedes-AMG do time de Mark Griffith, que contou inclusive com a presença de Harrison Newey, filho do mago do design Adrian Newey. Ganhou o trio Danny Van Dongen/Brett Strom/Daren Jörgensen, completando 277 voltas com o 23º posto final.

E a classe Invitational teve completo domínio do único MARC II que não teve problemas: o #91 de Nick Percat/Broc Feeney/Aaron Cameron teve ritmo de prova sólido (Percat, aliás, guiou uma enormidade) e a trinca se instalou fácil no meio dos GTs mais atrasados. Acabaram num ótimo 15º posto a apenas quatro voltas dos vencedores.

Nada mal considerando que os outros dois carros tiveram os mais variados problemas: o #20 bateu no muro e quebrou a suspensão – duas vezes. E o #95, também por duas vezes, pegou fogo – além de ter o motor trocado.

Assim terminou mais uma história escrita neste domingo vitorioso para a Bentley, com mais uma corrida igualmente histórica do Endurance mundial. E já aguardando – ansioso – a edição de 2021…

Comentários

  • Corridassa, circuito sensacional, carros rápidos e muitos pilotos excelentes, mas que é muito estranho ver uma barcaça como o Bentley andar na frente do 720s, por exemplo, é!

  • Assisti do início ao fim e realmente foi um corridão. Torci demais pelo JP Oliveira mas os Mercedes AMG e McLaren estavam mais fortes no final e o “patinho feio” dos GT3 realmente estava impossível.
    Essa corrida compensa um pouco nossa frustração ressentida deste 01/02, que se não fosse pela incompetência de alguns ai, estaríamos em Interlagos comentando uma outra corrida de endurance. Enfim, vida que segue.

  • Fernando bem lembrado. Teríamos uma rodada do WEC! Mas no Brasil não dá para acreditar mais nada que seja sério. Lixo puro! Estamos caminhando de maneira célere para o esgoto. Triste povo!

  • Corridaço, pista sensacional, assisti durante cerca de 7h continuas.
    Que show da Bentley de seus pilotos,

    (tinha feito um comentário longo, mas perdi – acabou a luz na hora – e não tô co saco de escrever tudo de novo…kkkk)