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RIO DE JANEIRO – Está oficialmente aberta a contagem regressiva para que Lewis Hamilton iguale e ultrapasse – ao que tudo indica – o histórico recorde de vitórias de Michael Schumacher, que perdura na Fórmula 1 há catorze anos. O britânico da Mercedes portou-se soberano na pista do Red Bull Ring neste domingo de um […]

RIO DE JANEIRO – Está oficialmente aberta a contagem regressiva para que Lewis Hamilton iguale e ultrapasse – ao que tudo indica – o histórico recorde de vitórias de Michael Schumacher, que perdura na Fórmula 1 há catorze anos.

O britânico da Mercedes portou-se soberano na pista do Red Bull Ring neste domingo de um GP da Estíria que foi bem menos alternativo que a abertura da temporada. Uma corrida que chegou a ser sonolenta, mas que valeu por suas emoções finais, que serão ainda destrinchadas nesta postagem.

Lewis chegou à sua 85ª vitória da carreira em seu 252º GP desde 2007, seu ano de estreia. Desde então, o piloto de 35 anos conquista pelo menos uma pole position e também pelo menos um triunfo por ano. A média de triunfos do piloto é de uma a cada 2,96 GPs. Se todo mundo se impressionava com o que Prost fazia e era exaltado pelo Galvão Bueno nos anos 1980 – “uma vitória a cada quatro corridas”, imaginem agora.

Só não houve espaço para o chamado “Grand Chelem”, com pole, melhor volta e vitória de ponta a ponta, porque Carlos Sainz Jr. tirou uma volta mágica do bolso do colete e, mesmo com um carro não muito bom, fez o giro mais rápido da disputa – McLaren num começo de temporada muito acima do imaginado/esperado.

E para a Mercedes, foi o primeiro 1-2 do ano e a 54ª dobradinha dos outrora prateados em 104 conquistas. Porque Bottas, no final, tinha pneus em condições bem melhores que Max Verstappen e passou – não sem uma resistência bem férrea – o holandês. Que ainda tentaria uma volta mágica com pneus macios para o ponto da volta mais rápida. Não foi possível.

Verstappen, aliás, colocou como de hábito seu companheiro de equipe no bolso. Fizera o mesmo com Gasly em grande parte do ano de 2019 e pelo menos no GP da Estíria teve um ritmo de prova muito melhor que o de Alex Albon. Diferentemente do último domingo, o tailandês de ascendência britânica foi mal, mas pelo menos segurou o ímpeto de Sergio Pérez, que vinha bem rápido no stint final, para chegar em quarto.

Aliás, Pérez tinha tudo para ser o piloto do dia. Mas precipitou-se na manobra de abordagem sobre Albon, mesmo tendo chances, e quebrou a asa dianteira de sua Racing Point. Sem sustentação aerodinâmica, perdeu performance e o que seria um justo quinto lugar para esse excepcional Lando Norris.

O garoto de 20 anos já fizera o pódio na primeira corrida e hoje, com desprendimento e arrojo, emergiu nas voltas finais de um discreto oitavo para um “haicai” que lhe deu o quinto lugar na última curva, mais 10 pontos no campeonato e a terceira posição provisória no Mundial de Pilotos.

Uau!

Registre-se, também, que na disputa que permitiu a Norris ganhar duas posições, o canadense Lance Stroll jogou pesado contra a Renault de Daniel Ricciardo. E merecia uma advertência. Aliás, foi visível a diferença entre os dois pilotos da Racing Point quanto a abordagem e agressividade – também de experiência. Pérez passou o rival da Renault sem transição e meteu o pé no pedal para se aproximar de Albon. Já Stroll… séculos para superar o Risadinha, e quando tentou, exagerou no entusiasmo…

Só esse final com Bottas vs Verstappen e esses acontecimentos de meio de pelotão salvaram o GP da Estíria da modorra total.

Agora: e a Ferrari, hein?

Totalmente perdida no tempo e no espaço…

A corrida foi um completo desastre para os vermelhos. Desde as posições de largada até a cagada monumental de Charles Leclerc em querer decidir tudo em duas ou três curvas.

Um piloto não ganha uma corrida na primeira volta. Mas perde.

E ao se precipitar, o monegasco acertou em cheio a asa traseira do carro do próprio companheiro de equipe – não sei como Vettel manteve a classe depois de um problema feito este… – quebrando também o assoalho de seu monoposto. O resultado foi que, em menos de duas voltas, a mais tradicional equipe da Fórmula 1 não tinha nenhum piloto do grid.

Além do momento da Casa de Maranello não ser à altura do imaginado, o modelo SF1000 é ruim. Muita gente especula se já estaria na galeria dos piores carros da Ferrari dos últimos 40 anos – e é um páreo duríssimo entre esse projeto com a 312T5 de 1980, as pavorosas F92A/F93A, do binômio 1992/93, a 643 de 1991 e até a F60 de 2009, que começou aquele ano péssima e pelo menos evoluiu a ponto de ganhar corridas.

Os demais carros citados nem faziam cosquinha: a 312T5 tinha um crônico problema de aderência e nem de longe tinha a eficácia aerodinâmica dos demais carros-asa da época; a F92A foi um desastre de projeto e a F93A, mesmo com toda a eletrônica disponível na ocasião, era um carro sem nenhum equilíbrio; a 643, só para que vocês leitores tenham uma ideia, foi o carro com que Prost rodou na volta de apresentação em San Marino e ele fez tantas críticas ao longo do ano que acabou recebendo o bilhete azul antes do ano acabar.

Não obstante, existe também uma crise de gerenciamento. Mattia Binotto pode ser competente como engenheiro e não estou aqui o julgando como tal. Mas como gestor, é péssimo, sofrível. Afora a passada de pano em Leclerc, ele não tem competência para apaziguar a situação, unir a equipe e levantar a poeira para tentar salvar um ano que se avizinha desastroso.

A Ferrari sai desse “double header” em território austríaco com apenas 19 pontos somados e o quinto – isso mesmo – lugar no Mundial de Construtores. A Mercedes já vê os adversários de binóculo, somando 80 de 88 possíveis. A McLaren é vice-líder, seguida da Red Bull e a Racing Point está em quarto. E o Liberty Media ainda marca um GP da Toscana, na pista de Mugello, propriedade do construtor italiano, como o 1000º da história dos vermelhos. Nada podia ser pior…

Mas, quem sabe, até lá as coisas melhoram… píor do que está não pode ficar.

E começam os bolões: até quando Binotto fica? Vettel será piloto Ferrari até o fim da temporada?

Cartas para a redação.