Fritz d’Orey, 82

Fritz d’Orey fez três provas de F1 em 1959, com um 10º lugar na estreia em Reims-Guex, na França, como melhor resultado. Sua carreira terminaria após um grave acidente nos treinos para as 24h de Le Mans de 1960 – ele tinha apenas 22 anos na época

RIO DE JANEIRO – O mês de agosto se encerra com uma triste notícia para o automobilismo brasileiro. Morreu nesta segunda-feira em Portugal o antigo piloto Fritz d’Orey. Ele tinha 82 anos e não resistiu a um câncer.

Nascido em 25 de março de 1938 e batizado Frederico José Carlos Themudo d’Orey, o paulista foi uma sensação do esporte a motor ainda jovem. Com apenas 20 anos, chamou a atenção de ninguém menos que Juan Manuel Fangio. O pentacampeão mundial de Fórmula 1 ficou encantado com o talento de Fritz nas provas do I Torneio Triangular Sul-Americano, disputadas no Brasil, Argentina e Uruguai.

Inclusive, outro argentino, José Froilán Gonzalez, o “Touro dos Pampas”, também ficou vivamente impressionado quando esteve aqui numa outra disputa, a do Torneio Sul-Americano, também em 1958.

Ao se deparar com o Mecânica Continental do rival, um Ferrari com motor Corvette 4,5 litros, González o interpelou.

 “Camina esta mierda?” (Essa merda anda?)

“Às vezes”, respondeu timidamente o brasileiro.

Não só “caminava” como Froilán levou um cacete de d’Orey, que venceu a corrida e foi carregado em triunfo por derrotar um grande nome da América do Sul, da Fórmula 1 e da Ferrari.

Voltando a Fangio, através dele Fritz chegou à categoria máxima do automobilismo internacional. “El Penta” montara a Scuderia Centro-Sud para correr com o modelo italiano Maserati 250F e que teria três pilotos do continente – um argentino, um brasileiro e um uruguaio, com um suposto apoio da BP (British Petroleum). Morto em 2006, Azdrúbal Bayardo efetivamente foi inscrito para o GP da França de 1959, em Reims-Guex, junto a Fritz d’Orey, mas não se classificou para a disputa.

Com o carro #38, Fritz largou da 18ª posição e terminou como o décimo classificado em sua prova de estreia. No GP da Grã-Bretanha, estava em décimo-quinto após partir de vigésimo e acidentou-se na 57ª volta. Foram as únicas duas provas dele pela Centro-Sud.

O brasileiro foi 6º colocado nas 12h de Sebring de 1960 com esta Ferrari 250 GT que dividiu com William Sturgis

Em Sebring, na terceira prova em que foi inscrito na F1, d’Orey teve à disposição um 250F modificado pelo engenheiro italiano Valerio Colotti, com o codinome TecMec. Fritz odiou aquele carro. Abandonou na sétima volta com vazamento de óleo, não sem antes praguejar o bólido inteiro. “Essa bosta é inguiável até em linha reta!”, disse.

Perto de completar 22 anos, Fritz iniciou o ano de 1960 no radar da Ferrari, que tinha planos de lhe contratar para trabalhar como piloto de teste e talvez lhe entregar um volante de F1 no futuro. Nas 12h de Sebring, chegou em 6º lugar dividindo um modelo 250 GT SWB com William Sturgis. E disputaria as 24h de Le Mans com um carro idêntico, só que preparado pela equipe Serenissima e que dividiria com Carlo Maria Abate.

Nos treinos preparatórios para sua estreia em La Sarthe, Fritz levou uma fechada do Jaguar de Walt Hansgen, da equipe estadunidense B.S. Cunningham, na altura de Maison Blanche.

“Meu carro foi fechado a 270 km/h, bateu numa árvore, de lado, partindo-se ao meio. E eu fui jogado no meio do mato, ao lado da pista. Passei oito meses internado num hospital e, por conta disso, minha carreira acabou”, relembrou Fritz certa vez.

Houve inclusive quem publicasse aqui no país que d’Orey havia morrido e, devido à gravidade do acidente, Fritz decidiu não voltar ao Brasil. Com o grave traumatismo craniano que sofreu, foi aconselhado pelos neurologistas a não viajar e residiu por dois anos em Paris, na França. Retornou apenas em 1962, indo trabalhar na empresa paterna em São Paulo e depois fixando residência no Rio de Janeiro – isso após voltar a morar outra vez na França entre 1996 e 2001.

Fritz casou-se três vezes e deixou cinco filhos.

d’Orey deu entrevistas históricas ao canal de televisão SporTV. Três, aliás. Uma para Lito Cavalcanti entrou no “Grid Motor” e outra a Reginaldo Leme no também extinto “Linha de Chegada”, esta com Bird Clemente, também.

A única que não tem em registro de vídeo no YouTube foi para este escriba, por ocasião de uma prova da Porsche GT3 Cup em Jacarepaguá, onde ele foi homenageado junto a Jean-Louis Lacerda Soares, que foi o primeiro vencedor de provas automobilísticas em Brasília, no ano de 1960.

Comentários

  • Triste, mas assim é a vida.
    Que descanse em paz. Deixa uma linda pagina no automobilismo.
    Valeu a pena rever essas entrevistas, e ouvir as opiniões desses dois icones.
    Obrigado por ter colocado aqui os videos, Rodrigo, uma bela homenagem.

    Gostei de ver o Fritz dizer que o Emerson foi o piloto de F1 mais inteligente que existiu, opinião que sempre tive e sempre externei.
    E achei maravilhoso ver o Bird elogiando o Gilles, e fazendo referencia ao estilo voluntarioso do Fritz e dele Bird, comparando aos estilos do Gilles e do Ronnie. Isso me fez sorrir, por conta de uma frase que sempre repito: “Não sei se o Bird foi o nosso Gilles, ou se o Gilles foi o Bird deles…

    Grandes pilotos, parte importante da historia do nosso automobilismo.
    RIP

  • Assistindo ao FOX Nitro de ontem foi emocionante ver Mestre Edgard comentando que esperava MESES para receber uma revista italiana com os resultados do d’Orey na Europa.

    Simplesmente demais!!!

    Agora, mudando um pouco de assunto, Mattar, como está o FG!?

    Ele iniciou o programa FSR ontem e, na volta do primeiro intervalo, o Benja disse que ele estava passando mal. De noite, ele não estava apresentando o Nitro.

    Espero que esteja tudo bem com o FG…

  • Eu pensava que ele tinha muito mais idade pelo fato de ter disputado GPs ainda na década de 50. Me lembro de uma pequena entrevista que ele deu ao Reginaldo Leme em um especial sobre F-1 no Esporte Espetacular às vésperas do GP Brasil de 1988. Uma pena que sua carreira tenha acabado tão cedo. Descanse em paz Fritz,,,