RIO DE JANEIRO – A grande controvérsia de uma Fórmula 1 em que a Mercedes só perde se quiser – se bem que Max Verstappen fez uma grande corrida no GP dos 70 anos e venceu em Silverstone no “Double Header” promovido nos dois últimos finais de semana – é o protesto das equipes Renault e Ferrari acerca da legalidade dos dutos de freio dos carros da Racing Point.
A equipe dos carros cor-de-rosa foi multada pela FIA e perdeu 15 pontos no Mundial de Construtores, no qual seria uma das concorrentes ao 3º lugar, até porque alcançar Mercedes e Red Bull, melhor esquecer. E não só o sistema de freios acusado de ilegal incomoda: a equipe tem em mãos uma cópia-carbono do Mercedes F1 W10 do ano passado. Basta olhar os dois carros e vocês verão as “coincidências” que a equipe de Lawrence Stroll jura de pés juntos que não existem.
Clones, na Fórmula 1, não são novidade. Especialmente porque alguns desenhistas mudam de equipe e levam suas ideias – como aconteceu a quatro escuderias nos anos 1970.
O primeiro caso de cópia foi do Ensign N177, carro desenhado por David Baldwin e alinhado pela equipe de Morris Nunn na temporada 1976 e guiado por vários pilotos como Jacky Ickx, Clay Regazzoni, Chris Amon e até o tricampeão mundial Nelson Piquet, em sua corrida de estreia.
Baldwin deixou a Ensign no final de 1976, convidado por Emerson e Wilsinho Fittipaldi para desenhar o sucessor do FD04, projeto de Ricardo Divila. E o que fez o engenheiro? Uma cópia cuspida e escarrada do Ensign N177!
O carro estreou em Zolder no GP da Bélgica e logo as piadas começaram: o carro foi chamado de Copersign, Emerson não se classificou com ele para duas provas – Alemanha e Itália – e o F5 só marcou três pontos com um 4º lugar no GP da Holanda, em Zandvoort. Depois, com um reestudo de aerodinâmica feito em Bolonha pelo Studio Fly, se transformaria no F5A, o monoposto mais bem-sucedido da equipe brasileira.
Pouco tempo depois, a Shadow viu debandarem, de uma vez só, os diretores Jackie Oliver e Alan Rees, o patrocinador Franco Ambrosio e os engenheiros Dave Wass e Tony Southgate. Este levou consigo os gabaritos do projeto do Shadow DN9, que estrearia em 1978.
Em menos de 60 dias, surgiu a Arrows, equipe cujo nome é o acrófono dos sobrenomes dos fundadores-dissidentes. Muito bem: o Arrows FA1, guiado por Riccardo Patrese e Rolf Stommelen em grande parte daquele campeonato era EXATAMENTE IGUAL ao Shadow DN9 – com uma diferença gritante: era muito mais competitivo, o que deixou Don Nichols tiririca.
Nichols, dono da Shadow, mandou os fundadores da Arrows para o pau por acusação de plágio e, claro, ganhou. A Arrows tinha um trunfo na manga: um novo carro, o A1 – que não surtiu o efeito esperado em desempenho, já estava pronto se o time perdesse o processo judicial.
Anos depois, Benetton e Ligier estavam “unidas” por intermédio de Flavio Briatore. Diretor esportivo na equipe da família dona da confecção italiana, “Dom Corleone” comprou a Ligier – então nas mãos de Cyril de Rouvre, roubou de Giancarlo Minardi o direito de usar os motores Mugen Honda e cometeu a audácia de apresentar dois carros praticamente idênticos no Mundial de 1995.
Vistos de lado, Benetton B195 e Ligier JS41 aparentemente são iguais – pero no mucho. Os motores tinham diferença gritante. Os Renault eram rápidos e competitivos. Os Mugen-Honda padeciam de sobrepeso. Mas os desenhos de suspensão, perfis de asa, aerodinâmica e os sistemas de transmissão eram exatamente os mesmos.
Já dizia o sábio e saudoso Chacrinha. “Na TV, nada se cria, tudo se copia”.
A máxima do Velho Guerreiro, quase que a de Lavoisier às avessas, vale, também, para a Fórmula 1.