Por um esporte sem #mimimi

Investigação por usar uma camiseta e pedir justiça? Menos, FIA… muito menos: #WeRaceAsOne só do jeito que vocês querem? (Foto: Reprodução Grande Prêmio)

RIO DE JANEIRO – Quer dizer que #WeRaceAsOne é do jeito que a FIA e o Liberty Media querem? Não como as coisas têm que ser?

Quer dizer que esporte e política não se misturam? Política se mistura com a vida desde sempre. Desde que o mundo é mundo. E não é pecado fazer ativismo político no esporte. Pecado é se omitir. Ou achar que qualquer manifesto hoje é “lacração”.

Num universo de distopia onde qualquer coisa é tida como #mimimi do alheio, quando se vê as manifestações de Lewis Hamilton incomodando em nível muito alto a um grupo de pessoas, é um claro sinal de que ele está no caminho certo.

Não só na questão racial e humanitária, como também de um esportista que se posiciona, sabe o seu valor dentro da sociedade e do esporte. De como ele pode mudar a imagem de alguém que poderia estar na sua bolha alienada de vida e trazer uma mensagem do tipo “olhe para o mundo à sua volta. Ele é cruel. O que você pode fazer para mudar isso?

E a porrada é que ele – Hamilton – faz isso num dos esportes mais elitistas de todos.

Pedir justiça à Breonna Taylor, vítima de policiais estadunidenses no Kentucky há seis meses atrás, incomoda tanto que uma discussão tão tola quanto desnecessária sobre se esporte e política devem caminhar juntos retornou à pauta no Brasil. Por um lado, há os que vêm com o discurso que é “lacração”. E do outro – que é o lado que defendo – a necessidade, sim, de posicionamento.

No futebol, são cada vez mais raros os atletas politizados. Sócrates, craque do Corinthians;  Casagrande, também ídolo do Timão; Reinaldo, Rei do Galo, o Atlético-MG; Afonsinho, que era médico e contestador ao extremo nos anos 1970; Deley, meia do meu Fluminense; Paulo Cézar Caju, que também dava a cara à tapa, principalmente por ser negro e discriminado, são exemplos que conheço. Se tiverem outros mais a colocar, estejam à vontade.

De resto, é uma alienação em diversos níveis e que não compromete só a imagem dos esportistas com a bola nos pés. Também há outros que vêm se perdendo em discursos de ódio e proselitismo contra tudo o que é contestatório. Só a verdade dessas pessoas é que prevalece? Se somos contra, acham que somos contra tudo e todos? É isso mesmo?

E esse #mimimi de ativismo e posicionamento também cabe dentro da Fórmula 1 como espetáculo. Por que não ter mais pistas parecidas com Mugello, com brita, pouca área de escape, que testem o real limite da pilotagem?

O inédito GP da Toscana, incluso no calendário para celebrar o 1000º GP da Ferrari na categoria máxima em 70 anos, teve três largadas, duas bandeiras vermelhas, uma carambola evitável (aliás, não é incrível que o mais sensato naquele incidente tenha sido o Romain Grosjean?), confusões, toques, acidentes e… mais uma vitória de Hamilton.

Pois é… e chegou a uma do histórico recorde de Michael Schumacher.

Gostando vocês ou não, achando que é fácil demais guiar na Fórmula 1 de hoje, minimizando que Lewis só teve bons carros à disposição – o que nem sempre correspondeu à verdade, pelos números o britânico de 35 anos será o maior de todos os tempos.

É uma pena que a corrida desse domingo tenha sido um paliativo, mas poderia muito bem voltar a fazer parte do calendário em edições futuras do Mundial – que se encaminha para ver o sétimo título de Hamilton. A pista de Mugello, na região de Scarperia, próxima a Firenze, é maravilhosa.

Com seis vitórias em nove corridas e menos etapas – 17, o que significa que faltam oito – em disputa (a próxima será em Sóchi, na Rússia), o líder do campeonato já tem 55 pontos de diferença para Valtteri Bottas e 80 sobre Max Verstappen, que neste domingo não pontuou.

Hamilton também emplacou outro recorde: 222 GPs de 259 na carreira na zona de pontuação – marca que dividia com Schumacher. E desses 222, quarenta e dois consecutivos, desde o último abandono na Áustria – e lá se vão dois anos.

Uma máquina de triturar recordes. Como bem falou Everaldo Marques em sua – aliás – brilhante narração da última volta do GP da Toscana, é a história escrita diante dos nossos olhos.

Em todos os sentidos.

Comentários

  • A Mercedes devia também aderir ao ativismo e promover a diversidade de equipes no topo do pódio pra variar. O preto, o amarelo, o laranja e o rosa, todos tem direito a vencer

    • Se eu entendi direito, o que você está pedindo é que a Mercedes deixe as outras equipes vencerem. Bem, se for isso, não é assim que funciona a F-1 e as corridas de outras categorias. Qualquer equipe, qualquer piloto, eles querem sempre uma única coisa: vencer todas as corridas.

  • Mattar,

    Confesso não saber se Hamilton é de origem humilde ou de família abastada, e imagino ser abastada pois Automobilismo é um esporte de “riquinho”.

    E se isso for verdade, é mais um ponto a favor dele, pois poderia apertar o famoso botão do FODA-SE para tudo viver sua vida. Mas ele faz exatamente o contrário, seguindo a máxima “não basta participar, tem que CAUSAR”!!!

    Só espero, sinceramente, que ele também faça uma camiseta igual a essa quando um POLICIAL NEGRO for assassinado por bandidos.

    Abraços

    • Hamilton teve uma infância bem pobre. Ele e sua família moravam em um apartamento simples, semelhante aos prédios da COHAB que temos aqui em São Paulo.Durante um tempo ele teve que dormir no chão, pois seu pai não tinha dinheiro para comprar um colchão! Para bancar as corridas no Kart, o pai de Lewis Hamilton chegou a ter – simultaneamente -quatro empregos.

    • Há confrontos entre polícia e bandidos.

      Mas a estatística indica que suspeitos negros têm mais chance de ser agredidos e mortos; negar os fatos é fugir do ponto.

      Feita essa RESSALVA IMPORTANTE, nenhum policial, de nenhuma cor, pode ser agredido ou morto. Mas não dá para fugir do ponto.

    • Perfeito, uma vez que teve infância difícil, a manifestação do Hamilton só comprova que ele é realmente um esportista fora da curva!!!

      Sobre “nenhum policial, de nenhuma cor, pode ser agredido ou morto”, Walter, é exatamente isso mesmo. O problema é não ter nenhuma manifestação sobre isso.

      Abraços

  • A FIA investigar o uso de uma camiseta – como possível quebra de protocolo – é uma babaquice tão absurda que causa vergonha alheia!

    A VIDA COMO ELA DEVERIA SER: Supondo que Lewis Hamilton iguale o número de vitórias do Schumacher no próximo GP da Rússia, seria legal se o irmão (Ralf) ou o filho (Mick) fizessem algo parecido com o que aconteceu no GP do Canadá, de 2017, quando a família do Senna presenteou Hamilton com um capacete por ele ter igualado as 65 poles. Seria uma homenagem extremamente belíssima. Repare que eu deixei de fora a esposa ( Corinna).

    A VIDA COMO ELA É: Corinna Schumacher provavelmente nem deve ter pensado no que você acabou de ler. Entendo que ela quer deixar a saúde do marido longe da mídia, mas acho que ela exagera – e muito. O que custaria para ela, ou alguém indicado por ela, dar uma entrevista coletiva, ou melhor, distribuir apenas uma única nota oficial divulgando o VERDADEIRO estado de saúde do heptacampeão? Ninguém está querendo ver uma tomografia ou qualquer outro exame do Schumacher. Enfim: diante do exposto, penso que na corrida em que o Hamilton igualar o número de vitórias do Schumi, não veremos uma única manifestação e/ou homenagem da família Schumacher. E adentrando no território do achismo: acho que Corinna está odiando o fato de que Lewis Hamilton irá igualar – e superar – o número de vitórias do Schumacher.

    • Cara, desculpe, mas seu achismo é ridiculo. Com o marido praticamente morto, digo isso, pois se realmente o cara estiver em coma, ou acordado mas não podendo sair da cama, está praticamente morto, pois não vive o que a vida poderia lhe proporcionar. Você acha que ela está preocupada com um recorde?

      • Ridículo é você achar que Corinna Schumacher vive 24 horas por dia pensando única e exclusivamente na saúde do marido. O acidente com o Schumacher foi em dezembro de 2013, portanto, está quase completando 7 anos. Já faz pelo menos uns quatro ou cinco anos que ela criou uma UTI dentro de casa, onde o Schumacher tem à sua disposição diversos médicos e fisioterapeutas. O que aconteceu foi horrível, mas Corinna – ou qualquer outra pessoa que tenha um parente nessa situação – já está conformada com o acidente e está fazendo o melhor que pode para cuidar do marido. Isso não a impede de saber o que está acontecendo no mundo, não só na F-1, mas na política, economia, etc. Penso que ela é inteligente o suficiente para saber que se ela ficar pensando na saúde do Schumacher 24 horas por dia, provavelmente ela entrará em depressão profunda e terá que ser internada.

  • Parabéns Rodrigo! Gostei de seu texto! Concordo que o Hamilton tem o direito de se posicionar! E acho muito bom você também se posicionar! E, me permita: tua linha, as ideias que defende, em geral batem com as minhas! Um brinde! Quando não baterem, um outro brinde: para ponderações, reflexões sobre diferenças. Um abraço.

  • Há um outro fator, além da política, que precisa ser levado em conta no “caso da camiseta” do Hamilton: é o fator econômico. Os quatro principais anunciantes que aparecem no macacão de Lewis Hamilton – Petronas, UBS, Tommy Hilfiger e Hewlett Packard – devem ter reclamado muito com a Mercedes e a FIA por terem sido “trocados” por uma manifestação contra o assassinato de uma mulher negra.

    • Primeiro que os patrocinadores nao tem que reclamar com a FIA. Os patrocinadores tem relação de negócios com a Mercedes, não com a FIA. Outra, será que os patrocinadores não apóiam a atitude do Hamilton? Os carros e o macacão do piloto tem uma grande exposição durante o fim de semana do evento, não seria uma foto a mais do podio ou 5 segundos a mais de exposição na TV que farão a diferença para uma Tommy vender mais roupa ou a HP vender mais computador.

      • Você não leu direito o que eu escrevi.Vou repetir:

        devem ter reclamado muito com a Mercedes e a FIA.

        Portanto, eu deixei bem claro que se houver uma reclamação, primeiro é com a Mercedes. Caso não se resolva, não há nada que impeça um patrocinador de consultar a FIA, caso ele julgue necessário.

        Vamos deixar bem claro o que eu penso: sou 200% a favor de que Hamilton e os outros dois pilotos que subirem ao pódio, usem a camiseta que eles quiserem, protestando contra o que eles quiserem. Mas o que eu penso é que os patrocinadores querem ver seus nomes expostos no pódio, e eles pagam por isso. Se TODOS os patrocinadores de TODAS as equipes mudarem de ideia e quiserem apoiar camisetas com protestos a partir de hoje, por mim está tudo bem.Acho ótimo se isso acontecer. Gostaria muito de ver, futuramente, um piloto brasileiro na F-1 com uma camiseta protestando contra o desgoverno Bolsonaro.

  • Nada contra o ativismo, sou contra quem só fala e não faz nada. Como não sei se o Hamilton faz algo realmente prático contra o racismo, não posso julgá-lo.
    Então vem a pergunta, além de sair com camisetas e pedir que outros também saem com camisetas, o que ele faz para combater o racismo?

      • Não sei. Não sei o que qualquer um deles faz para combater o racismo.

        Colocar uma camiseta para mim não significa absolutamente nada. Qualquer um pode colocar uma camiseta, até político para ganhar alguns votos ou um pobre para ter o que vestir (e não necessariamente apoiar o político que lhe deu a camiseta)

  • O Rodrigo sabe que sou uma pessoa egoísta e materialista ao extremo. Logo, somente me sinto atingido se atos de terceiros me prejudicam financeiramente. Particularmente, zero problema se o Hamilton usa camisetas para expressar sentimentos. Por outro lado, dentro da série ‘#SonhandoMuitoAlto, uma ressalva: gostaria que neste 2020, acontecesse a edição do GP Brazil. So what? Daí, que, no hipotético ‘findi’ da edição nacional do GP, na hora do pódio — ou antes da corrida –, eu já imaginei Lewis Hamilton usando uma blusa com a seguinte frase: ‘ODEIO montadoras do Brazil que não apoiam automobilismo mas desviam $$$ para (argh!) campanhas políticas”. Ou, algo ainda mais digno de aplauso: “Odeio a lei que proíbe propaganda de cigarros nos carros de corrida” (aqui no RGS, a GM, ao invés de apoiar pilotos que competem com veículos Celta, Corsa, Opala e Kadett, acha mais ‘legal’ doar — pasmem!!!!!!!! — R$ 750.000,00 para os partidos. Isto sim irrita qualquer pessoa inteligente e que AMA Automobilismo). Enfim… seria super legal e admirável ver o campeao ‘irritar’ os politicos. E quanto à frase de apoio à volta do cigarro à F1, você sabem: os donos de equipe, ávidos para arrancar uma verba da Marlboro e da Camel, não apenas iriam celebrar, como igualmente usar similar camiseta!!!!!!!!)

    • GM doando R$ 750.000,00 para partidos e campanhas políticas.Sim, fiquei pasmo. A notícia é nojenta, e nós sabemos que desses 750 mil, apenas uma pequena parte será gasta nas campanhas. O restante “vira” compra de apartamento, viagens para Miami, carros de luxo, etc etc etc.

      • Oi Jefferson, boa tarde. A notícia envolvendo o citado valor (‘750’) é de 2017, por ocasião da disputa para o governo aqui do RGS. Sempre que acontece o período eleitoral, jornais divulgam valores recebidos por partidos e as ‘origens’. A GM foi uma das maiores apoiadoras; sem querer fazer textão, resumo que ela ‘dividiu’ a verba entre 4 ou 5 partidos (leia-se: fez ‘média’ com esquerda e direita!). O fato é que este valor seria muito bem vindo aqui no nosso Automobilismo. Ate porque, sabemos, política é a atividade mais baixa na qual um ser humano pode se submeter…