Há 30 anos, a última

Tinha 19 anos quando vi esta corrida de madrugada no horário brasileiro. Chorei tanto que devo ter acordado alguém da vizinhança. Sério: a dobradinha Piquet-Moreno me emocionou muito mais do que qualquer outra coisa que vi no automobilismo até hoje

RIO DE JANEIRO (Parece que foi ontem) – Dia 21 de outubro, 1990. Há 30 anos, confesso que chorei.

E foi naquele dia em que vivi a minha última genuína emoção como torcedor de automobilismo que fui e fã de Fórmula 1, apaixonado mesmo por aquela categoria como era até aquela época.

A dobradinha Nelson Piquet-Roberto Pupo Moreno, a última até hoje de pilotos do país na categoria não foi só inesperada face as circunstâncias daquela corrida. Foi muito mais emocionante do que se pode supor.

Afinal, era a bonita confraternização com as lágrimas de Moreno, que recebeu no parque fechado o caloroso abraço de Piquet. Eram velhos camaradas, amigos de tantas jornadas, e saídos da mesmíssima oficina de Brasília – a Camber – que revelou não só os dois como também Alex Dias Ribeiro.

Três rapazes, dois cariocas de nascimento e um mineiro, que em dados momentos de suas vidas e pelas circunstâncias da profissão dos pais de todos eles, tiveram no Planalto Central a válvula de escape de sonhos e loucuras.

Era a turma dos pegas das largas avenidas do Plano Piloto desenhado por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa ganhando o mundo e nos orgulhando. E para Moreno, um 2º lugar com um sabor ainda mais gostoso, por tudo o que passara na carreira para chegar àquele momento de congraçamento e consagração.

Detalhe: em 1023 GPs desde sempre, este foi – exceto as 500 Milhas de Indianápolis, que para efeito desta curiosidade não contam, embora tenham sido válidas pelo Mundial de F1 entre 1950 e 1960 – o único GP de todos em que não houve pelo menos um europeu no pódio, posto que o 3º colocado, Aguri Suzuki – da Larrousse (alguém pensou em “Saudosas Pequenas” aí?) – é japonês.

Sim, eu  sei: é a corrida do bicampeonato de Ayrton Senna. Decidido em menos de 1km, numa única frenagem, numa única curva.

Eu sei, você sabe, todos nós sabemos. Uma conquista histórica e cheia de significados.

Mas a dobradinha Piquet-Moreno tem seu valor – que jamais poderá ser apagado da história e da memória.

Comentários

  • Do jeito que está caminhando a possibilidade de pilotos brasileiros ingressarem novamente na F-1, é possível que em 2030 e 2040 nós ainda estejamos falando – e escrevendo – que a última dobradinha brasileira na F-1 foi com Piquet e Moreno.

  • Sempre é bom falar sobre Nelson Piquet, e registro aqui a minha indignação sobre a montagem de cenas da vinheta oficial de abertura das corridas.

    A vinheta tem 57 segundos e recentemente eu a revi pausando, quadro a quadro, para identificar todas as cenas. Eu achava que a escolha lamentável e ridícula do Piquet dando socos no Eliseo Salazar no GP da Alemanha de 1982 aparecia apenas uma vez, mas descobri que os dois aparecem duas vezes. Há a imagem deles caminhando lado a lado, rumo ao box.

    Somando as cenas dentro e fora do carro, Ayrton Senna aparece SEIS vezes.

    • O Brasil faturou oito títulos em 20 anos.

      Os três campeões são feras e poderíamos ter outros mais.

      Mas o cara que morre fica com uma aura.

      Sorte que o A Mil Por Hora abre essa janela para saudar o Piquet.

    • E na busca do “politicamente correto”, o Liberty Media EXCLUIU a cena da briga e Piquet aparece ZERO vezes agora na vinheta da Fórmula 1.

      Quando digo que ele é o tricampeão mundial mais subestimado, é justamente por isso.

      • Caramba! Excluíram a briga! Não reparei bem nessa nova vinheta. Então, a versão que eu analisei quadro a quadro – via YouTube – só pode ser a do ano passado.