Há necessidade?
RIO DE JANEIRO – Eis o calendário da Fórmula 1 para a temporada 2023, aprovado hoje pelo Conselho Mundial da FIA em sua última reunião. Vinte e quatro datas, começando no primeiro domingo de março com o GP do Bahrein em Sakhir e fechando em Yas Marina, com o GP de Abu Dhabi.
Pergunto: há necessidade?
Se for pelo lado do lucro, o Liberty Media vai para o caminho certo. Consegue cada vez mais pistas, datas e países, mesmo que se sacrifique dois de imensa tradição – a Alemanha, fora já faz alguns anos e que é simplesmente o país-sede da Mercedes – futuramente Audi e Porsche devem se juntar a ela, sem contar a França, da Alpine, “saída” do calendário após este ano. E não comemorem muito: Spa-Francorchamps e a Bélgica estão com os dias contados, o que é inacreditável. Optar por sacar do calendário a melhor pista de todas é de um primarismo atroz.
Entendo as razões dos estadunidenses donos da promoção da F1 em fazer três provas no mercado ianque mas não compreendo, por exemplo, a tosca sequência do começo do ano – nem Melbourne gosto mais com a categoria do jeito que está – até antes do GP da Emilia Romagna. Podem me chamar de purista ou saudosista, mas acho um horror o automobilismo se render a países sem tradição nenhuma, só dinheiro, apenas ‘money’, feito Bahrein, Arábia Saudita, Singapura e Catar, fora Abu Dhabi. Nenhuma dessas pistas é boa o bastante. Normalmente são traçados sacais e intramuros. Eu trocaria quatro provas no Oriente Médio, jogaria todas essas no lixo, para voltar Kyalami e a África do Sul.
Sem contar a questão de logística. É um absurdo reservar 24 datas e não distribui-las de uma forma adequada e coerente.
Outros pontos é que, mesmo com teto de gastos sendo implementado, impor um calendário dessa natureza é nocivo ao esporte. A Fórmula 1 já tem limitações demais de peças, motores e et cetera. O que pretendem? Aumentar o número de penalizações na segunda metade do campeonato e embaralhar os grids da pior forma possível, afora a cabeça da imprensa e do público.
Mais um detalhe: como os boxes têm de ser montados com antecedência e mecânicos quase sempre fazem viagens de classe econômica em aviões, como é que as equipes e a FIA pretendem tratar do real problema que será as condições de trabalho desses mecânicos? Porque haja saúde física e mental pra essa turma. Será um massacre…
Enfim, acho um exagero fazer uma temporada ‘Nascarizada’ com 24 GPs. Para os EUA, que são um país de dimensões continentais, a fórmula de 36 provas por ano fora os eventos extracampeonato, dois ou três, no máximo, funciona.
Não sei se o efeito é o mesmo para a Fórmula 1. Pode ficar banal. Pode ficar cansativo. No fundo, é só em dinheiro que os donos do espetáculo pensam e foda-se o esporte.
A única coisa boa que eu percebo do calendário é que há entre os GPs da Espanha e do Canadá a brecha que todo mundo queria: o Centenário das 24h de Le Mans não terá nenhum tipo de obstáculo em 2023.
Que, aliás, seja assim daí em diante.
24 corridas! Um exagero!
Festival de punições depois da décima-sexta etapa.
Os mecânicos e outros integrantes das escuderias vão ficar estressados com tantas corridas!
Por que o GP de Miami (“GP EUA Leste”) não faz rodada dupla com o GP do Canadá?
Por que não fazer uma rodada tripla com os GP’s do México, de Austin (“GP EUA Central”) e Las Vegas (“GP EUA Oeste”)?
Ainda vai ter Spa-Francorchamps mas por quanto tempo?
E a Liberty Média planeja ter uma corrida no continente africano – Kyalami. Assim repetiria as temporadas de 92 e 93: as únicas temporadas que tiveram corridas na África, nas Américas, na Ásia, na Europa e na Oceania.
Podia tirar Singapura e voltar Malásia.
Arábia Saudita e Abu Dhabi só estão por causa da grana para a FIA. O mesmo para Bahrein e Catar.
Se fosse a pista curta de Bahrein seria interessante (2020).
Money talks!
Será que Istambul, Mugello e Portimão terão alguma chance no futuro?
Quando estive em Interlagos ano passado a convite de um patrocinador, perguntei a uma pessoa da Ferrari sobre a logística, dado que 4 dias depois as equipes deveriam estar com tudo pronto no México. Disseram que os times se dividem: uma parte dos equipamentos e pessoal vai na frente, adiantando os trabalhos para a corrida seguinte, e o outro fica a serviço da corrida daquele final de semana.
De todo modo, acho o calendário ruim mais pela (falta de) qualidade de algumas pistas do que pela quantidade de corridas. Como é que querem conquistar o público estadunidense com uma porcaria de pista como Miami? Dos circuitos do Oriente Médio, só se salva (com inúmeras ressalvas) o do Bahrein. Melbourne, China, Baku, Ímola e Singapura também não têm condições de proporcionar corridas boas.
Viajando na maionese aqui, eu traria para a Fórmula 1 Elkhart Lake, Portimão, Kyalami e Istambul.
Eu não acredito que haja a corrida na China enquanto o governo chinês manter a política de covid zero. Do calendário as novidades são as entradas oficiais de Losail e Las Vegas. O GP do Catar deveria estar na primeira perna do campeonato, onde tem as provas de Bahrein e Arábia Saudita (aliás enquanto não houver acidente com sequelas graves aos pilotos, a corrida se mantém, afinal fazer um circuito de alta velocidade cercado de paredes e poucas areas de escape é um convite a tragédia). Ir 3x distintas aos EUA, 4 idas a América do Norte, já que o GP Canadá é solitário no calendário. Outro circuito que não simpatizo nem um pouco é Imola mesmo com o traçado modificado em relação a prova de 2006. Como tapa furo no calendário de 2020 ainda passou, mas manter no calendário já achei demasia. E se a melhor das pistas da categoria, for rifada do calendário será o aviso final que a F1 dá que a categoria virou um clube de amigos interessado em muita grana pra dividir entre eles. Afinal as equipes não fazem questão alguma da entrada de uma nova, mas quem garante que a Red Bull, que tem duas equipes, quando parar de competir pelo título, permanecerá na categoria? Ou as montadoras? Respostas com o passar do tempo
Realmente, o teto orçamento e o limite de up’s vão ficar ainda mais comprometidos com essa quantidade de corridas. Acredito que as regras terão que ser adequadas para a próxima temporada.
Muito boas críticas Mattar!
20 corridas estaria de muito bom tamanho, deixando algumas dessas porcarias pelo caminho. 2 corridas nos EUA já não seria suficiente?
Duas trincas de corridas seguidas é uma piada!
Virou campeonato de turismo.