Petit Le Mans: no Jubileu de Prata, Meyer-Shank vence corrida eletrizante e leva título do IMSA

RIO DE JANEIRO – No último sábado, a edição do 25º aniversário da Petit Le Mans manteve as maiores tradições do fim do campeonato do IMSA Weathertech SportsCar Championship. Uma corrida de alto nível, repleta de alternativas e uma reviravolta dramática que deu à Meyer-Shank Racing e aos britânicos Tom Blomqvist e Oliver Jarvis os títulos da temporada 2022 – tanto no campeonato completo quanto na série de quatro etapas longas, o IMSA Michelin Endurance Cup.

Em pelo menos duas dessas corridas, o #60 do time de Mike Shank e Jim Meyer contou com a participação do brasileiro Helio Castroneves – e o tetracampeão de Indianápolis venceu ambas. Só em Sebring o #60 contou com a colaboração de Stoffel Vandoorne, campeão da Fórmula E.

O título e a vitória vieram após uma frenética prova que teve 423 voltas no total de 10h de disputa e terminou em bandeira amarela, atrás do Safety Car. A gangorra pendeu várias vezes para a equipe rival da MSR, a Wayne Taylor Racing, que sacrificou a estratégia levando o carro #10 ao pit logo no fim da primeira volta para trocar os pneus – danificados numa saída de pista na definição do grid. Preferiram não abrir mão do 3º lugar do grid e quase que o carro preto em detalhes azuis levou uma volta do líder – que era o Cadillac #02 da Ganassi guiado por Earl Bamber.

A primeira intervenção do Safety Car ajudou: uma falha terminal no Lamborghini Huracán da CarBahn with Peregrine Racing trouxe a primeira amarela da disputa. E viriam outras. E o #10 recuperou distância, ritmo, chegou a liderar, andou mais tempo à frente do #60 e se encaminhava para o título.

Aí…

Na reta final de corrida, a Cadillac-Ganassi ligou o botão de autodestruição: Earl Bamber e Renger Van der Zande disputavam entre si para tentar alcançar o Acura da MSR, que liderava após a última janela de box. A dúvida era, primeiro se alcançariam o carro líder, com Blomqvist a bordo. Segundo, se ultrapassariam o #60. Roubando pontos dos líderes, poderiam ofertar o título à Filipe Albuquerque e Ricky Taylor, os titulares do campeonato completo.

Só que Bamber forçou a barra, Van der Zande não cedeu – ou não viu o companheiro de equipe na escuridão em meio à luz dos faróis – e os dois se enroscaram. Pararam com os carros destruídos na curva 1 do Michelin Raceway Road Atlanta: Bamber com a seção dianteira destroçada. Renger, sem aerofólio traseiro após rodar e bater forte. Bamber acabaria punido por fazer o serviço de reparos com o pit lane fechado, com um stop & hold de um minuto.

O incidente provocou a penúltima bandeira amarela e deixou no páreo novamente um dos carros que mais ficou fora de esquadro em grande parte da corrida – o Cadillac #31 de Pipo Derani/Mike Conway/Olivier Pla, que recuperou a volta de atraso. Na parada final, a Meyer Shank seguiu à frente da Wayne Taylor Racing na batalha pelo título.

No restart, Albuquerque pôs pressão em Blomqvist e a ultrapassagem era iminente – caso acontecesse, o #10 era campeão. Mas o português acabou esbarrando num Mercedes-AMG da classe GTD e no choque o Acura teve danificado um braço da suspensão traseira esquerda. Com tamanho dano, mandaram desligar o motor. Deu dó de Wayne Taylor, desolado na ‘casinha’ onde acompanhou a corrida com seu jeito sempre teatral, repleto de gestos, caretas e olhares.

“Estou cansado de ser vice-campeão”, afirmou o veterano, que como piloto venceu em 1998 junto a Eric Van de Poele e Emmanuel Collard, com a Doyle-Risi numa Ferrari, a primeira edição do evento.

Logo depois, o mesmo Mercedes-AMG com quem Albuquerque colidiu, o #57 da Winward Racing então tripulado por Phillip Ellis, saiu na curva 1 do circuito, a amarela veio e com pouco tempo na regressiva do relógio, não houve como a disputa ser encerrada em bandeira verde.

Assim, Blomqvist, Jarvis e Castroneves triunfaram juntos pela segunda vez em 2022. O “Homem-Aranha”, entrevistado pela transmissão internacional, estava confiante que poderiam alcançar o resultado desejado. “Jamais desistiremos”, disse. “Vamos lutar com nossas forças até o final”. E o resultado veio.

Com duas vitórias e sete pódios, o duo da MSR fechou o certame que marcou a despedida dos Esporte-Protótipos DPi com 3432 pontos somados, contra 3346 de Filipe Albuquerque/Ricky Taylor e 3220 de Renger Van der Zande/Sébastien Bourdais.

Pipo Derani, então campeão junto a Felipe Nasr, terminou o certame em 5º lugar, com cinco pódios e 3083 pontos – o melhor resultado do brasileiro foi justamente na etapa de encerramento do campeonato – e, aliás, foi a primeira temporada sem vitória alguma da Action Express Racing desde 2010 – ainda na Rolex SportsCars Series. Castroneves “só” fez as provas de Daytona e Petit Le Mans, ficando em 13º na tabela.

O brasileiro, mesmo tendo a Indy como prioridade, colaborou e muito para o título também no IMSA Michelin Endurance Cup. Jarvis e Blomqvist somaram os mesmos 39 pontos de Taylor e Albuquerque – mas venceram duas etapas e os rivais, uma, as 6h de Watkins Glen.

O pódio final de 2022 foi completado pelo #48 guiado por Mike Rockenfeller/Jimmie Johnson/Kamui Kobayashi, após a autodestruição dos Cadillac-Ganassi e o abandono da WTR – fora o monumental acidente da JDC-Miller Motorsports com o Lexus da GTD, na altura da quarta hora de disputa.

Na LMP2, a Tower Motorsport fez uma corrida sólida o bastante para ofertar ao gentleman driver canadense John Farano a honra do título de campeão. Com Louis Déletraz e o angolano Rui Andrade, o piloto de 62 anos – que faz 63 em dezembro – venceu a corrida com o 5º lugar na geral, ganhou o Jim Trueman Award e fará jus a uma vaga direta às 24h de Le Mans ano que vem.

Farano e seus comparsas foram beneficiados pelo abandono do #52 da PR1/Mathiasen, com Ben Keating a bordo, num raro erro do texano, com o cronômetro mostrando pouco mais de 2h30min de disputa. Scott Huffaker e Mikkel Jensen nem andaram…

O pódio da divisão ficou ainda com Juan Pablo e seu filho Sébastian Montoya, mais o sueco Henrik Hedman, além de Steven Thomas/Josh Pierson/Tristan Nunez.

Apesar do abandono, ninguém demoveu Keating/Huffaker/Jensen do título do IMEC, somando 41 pontos, cinco a mais que o trio da Tower.

A vitória da divisão LMP3 ficou com a Andretti Autosport face os problemas do #74 da Riley Motorsports, com uma saída de pista decorrente de um furo de pneu e duas penalizações por infrações no pit lane a posteriori. Ganhou assim o carro de Josh Burdon/Jarrett Andretti/Gabby Chaves, completando em 11º na geral. Ari Balogh/Garett Grist/Nolan Siegel tiveram muito bom desempenho e ficaram em segundo na categoria com o protótipo da Jr III Racing, seguidos pela Sean Creech Motorsport com Nico Pino/Malthe Jakobsen/João Barbosa.

O quarto posto da classe não foi bastante para Felipe Fraga e Kay Van Berlo ajudarem a Gar Robinson na busca pelo título absoluto da temporada: o #54 da CORE Autosport, com George Kurtz junto a Colin Braun e Jonathan Bennett foi campeão com 54 pontos de vantagem – 2002 a 1948.

Mas não foi tão ruim assim o resultado para a Riley Motorsports: o trio do #74 somou 44 pontos e se consagrou campeão do IMSA Michelin Endurance Cup. Uma boa recompensa para os esforços do time do obstinado Bill Riley e financiado pelo pai de Gar, George Robinson, antigo piloto da série.

Entre os Grã-Turismo, “avis rara”: chegou à frente de todos um carro da classe Pro-Am – o Acura NSX GT3 da Gradient Racing triunfou numa duríssima disputa contra o McLaren 720S da Inception Racing, onde Brendan Iribe classificou o carro #70, largou, guiou 2h30min direto e ao deixar o carro para Jordan Pepper, trocou de roupa, foi para Atlanta e de lá, embarcou num voo para Barcelona, onde disputaria no dia seguinte o GT World Challenge Europe Endurance – onde seria campeão da Gold Cup.

Possivelmente, ao chegar na Espanha, Brendan soube que fora também campeão do IMSA Michelin Endurance Cup junto a Jordan Pepper: o sul-africano mais o jovem Seb Priaulx fizeram uma corrida excelente e deram ao #70 um belo 2º posto na GTD, em que a Turner Motorsport, de penúltimo do grid foi ao pódio – a Gradient, com Til Bechtolsheimer/Kyffin Simpson/Mario Farnbacher largou da rabeira do grid de 43 carros e venceu na sua divisão.

Mas o título geral da série é do canadense Roman de Angelis: o piloto da The Heart of Racing dividiu a condução com o patrão Ian James e com Maxime Martin, na despedida deste como piloto Aston Martin. A trinca finalizou a disputa em 7º lugar entre 15 carros presentes e o campeão ficou com apenas 13 pontos à frente de Jan Heylen e Ryan Hardwick, os vice-campeões de 2022. Hardwick venceu o Bob Akin Award e fará jus à uma vaga direta nas 24h de Le Mans de 2023.

Na GTD Pro, a fatura estava praticamente liquidada desde a largada, e o título de Mathieu Jaminet e Matt Campbell foi mera formalidade: o francês e o australiano, além do brasileiro Felipe Nasr, terminaram em 3º no resultado oficial – na pista, a vitória ficou com a Risi Competizione e o trio formado por James Calado/Davide Rigon/Daniel Serra.

Porém, um erro de cálculo custou a vitória à trinca da Ferrari #62 na despedida do modelo 488 GT3 na IMSA. Daniel guiou direto por 4h11min quando, por regra, o máximo que um piloto pode guiar numa janela de seis horas é quatro. A equipe foi penalizada e caiu para último na classe. Isto deu a vitória na última prova à Vasser Sullivan com Jack Hawksworth/James Calado/Kyle Kirkwood.

Mas nem tudo foi ruim: Serra e Rigon chegaram a 35 pontos e ofertaram ao time de Giuseppe Risi e a si mesmos o campeonato de Endurance, dois pontos à frente de Jaminet/Campbell e também de Jordan Taylor e Antonio Garcia – este último JAMAIS conquistou uma vitória em classes na Petit Le Mans.

Comentários

  • Corrida sensacional, deixaram aberta a transmissão no site. Mas infelizmente eu só pude acompanhar uma pequena parte, uma tela no site da IMSA, outra tela no seu canal!
    Muito legal o trabalho que você fez ao longo do ano e é inacreditável que você não tenha mais espaço nos canais especializados. Parabéns e obrigado!