Jean-Pierre Jabouille (1942-2023)

Possivelmente Jabouille foi o piloto de Fórmula 1 mais dedicado a testes e desenvolvimento de equipamentos em sua época de piloto de competição – a Renault lhe deve muito

RIO DE JANEIRO – O ano de 2023 mal completou 35 dias e já temos uma perda daquelas.

À tarde, chegou a notícia da morte do antigo piloto francês Jean-Pierre Jabouille, aos 80 anos, completados em 1º de outubro.

Ele foi o símbolo da Renault por muitos anos. Com amplo conhecimento de mecânica e engenharia, era um exímio piloto de testes que deixou sua marca no automobilismo pelo fato de ter sido o primeiro piloto a guiar um carro de motor Turbo – o Renault RS01, no GP da Inglaterra de 1977, além de conquistar a primeira vitória da marca com o modelo RS10, dois anos depois em Dijon-Prénois, no célebre GP da França da batalha entre René Arnoux e Gilles Villeneuve – mais celebrados que o vencedor daquela corrida que deveria ser mais histórica pelo feito alcançado por Jabouille.

O RS01 que estreou no GP da Inglaterra de 1977 foi o primeiro carro com motor Turbocomprimido da história da Fórmula 1

O currículo do francês nascido em Paris nos mostra que em 49 GPs, pontuou somente três vezes, com duas vitórias – a outra foi no GP da Áustria em 1980 – e um 4º lugar na corrida dos primeiros pontos do Renault Turbo, o GP dos EUA-Leste em Watkins Glen. Em 37 vezes, Jabouille abandonou, fosse pela fragilidade de seu equipamento ou mesmo de acidentes – um deles, grave, determinou praticamente sua retirada da F1.

Ele bateu no GP do Canadá de 1980, feriu gravemente as pernas e não estava apto fisicamente quando Guy Ligier o chamou para se juntar à equipe Talbot-Gitanes que correria em 1981 com o lendário motor Matra V12. Jabouille, em péssima forma física, enfrentou mais problemas do que Laffite naquele início de campeonato e após o GP da Espanha, em acordo mediado por Jean-Pierre Paoli, retirou-se da categoria.

Depois, Jabouille seria piloto e dirigente da Peugeot, trabalhando no departamento de competição da marca em Vèlizy e supervisionando o projeto 905 de Grupo C, além dos motores que foram à F1 nas equipes McLaren, Jordan e Prost Grand Prix.

Jabouille era o homem certo para fazer desenvolvimento de carros pois tinha amplo conhecimento de mecânica e engenharia, inclusive projetando o Elf 2J com que foi campeão do Europeu de F2 em 1976

Como projetista, desenhou o Elf 2J com que foi campeão da Fórmula 2 Europeia liderando os “Quatro Mosqueteiros Franceses” – Jabouille, Tambay, Arnoux e Leclére – nas quatro primeiras colocações do Europeu de 1976, além do Talbot-Gitanes JS19, que foi concebido com minissaias que ultrapassavam o eixo traseiro e foram serradas para o carro não ser ilegal dentro do regulamento técnico da época – 1982.

Nas 24 Horas de Le Mans, esteve presente dezesseis vezes entre 1968 e 1993. A vitória, porém, nunca lhe sorriu. Fez duas pole positions consecutivas nos anos de 1976 e 1977 com os Alpine-Renault Turbo, dois recordes de volta em prova e quatro pódios – dois de Matra-Simca e mais dois de Peugeot.

Em 29 de janeiro de 2014, eu escrevi este texto para uma série chamada “Outsiders”, embrionária do meu segundo livro, “Quase Heróis”. O terceiro, que vem aí e fala de Le Mans e sua história, terá muitas citações – merecidas – ao nome de Jean-Pierre Jabouille.

Porque ele é parte da história francesa no automobilismo. E, por isso mesmo, não pode ser esquecido por seus compatriotas.

Comentários

  • Uma grande perda para o automobilismo francês e mundial, era um talento abrangente, daqueles que além de pilotar bem sabem como desenvolver um carro de corrida, desde o início do projeto até seu acerto minuncioso. Hoje em dia não existem mais pilotos assim…

  • Jabouille foi campeão da Fórmula 2, o que é uma espécie de maldição: o campeão da F2 jamais é campeão na F1.

    Além disso, muitos, como o próprio Jabouille, sofrem acidentes sérios de morrer (Ronnie Peterson, Patrick Depailler, Marc Surer) ou de acabar com a carreira ( Clay Regazzoni, Mike Hailwood, Jacques Laffite, Mike Thackwell).

    O sucesso de Jabouille, pilotando e concebendo carros, traduz o gigantesco investimento francês em automobilismos, que foi dos anos 1960 até pelo menos os anos 1990, com resultados pequenos, se comparados com a ‘sorte’ brasileira, mas fantásticos para uma país que nunca tivera um piloto campeão.

    Jabouille teve um papel decisivo nesse sucesso francês. Saudemos à sua memória!