Reinaldo Campello (1945-2023)

Registro de 2011 em Interlagos no extinto Itaipava GT Brasil em corrida que estive presente como convidado. Sim, o do meio sou eu mesmo, acreditem. À esquerda da foto, Washington Bezerra e seu indefectível cachimbo. WB foi chefe de equipe de Campello, à direita de quem vê a foto, na Stock entre 1983 e 1984. Campello é uma das figuras mais importantes da história do automobilismo brasileiro e já deixa saudade

RIO DE JANEIRO – Mal acordo, vou às redes sociais através do telefone celular e dou de cara com uma notícia triste: morreu hoje aos 78 anos Reinaldo Campello, um dos nomes mais importantes da trajetória do automobilismo brasileiro. Além de tudo, um emérito contador de histórias e com sua partida, vai embora também parte de uma história de um esporte vada vez mais sem memória.

Nascido em 5 de janeiro de 1945, Reinaldo Antonio Campello de Luca foi um dos pilotos que mais acreditou na força da Stock Car brasileira e nos “Opalões”, quando a categoria Divisão 1, para modelos de série, foi transformada em torneio monomarca – até 1978, ainda havia um ou outro Maverick contra o modelo Chevrolet de motor seis em linha 4,1 litro.

Com o apoio da General Motors e principalmente da Rede Bandeirantes, da qual seria inclusive diretor de esportes, Campello conseguiu trazer o automobilismo nacional para o protagonismo na TV aberta. Foram inesquecíveis as transmissões da Stock Car nos anos 1980, fazendo a categoria ganhar fãs pelo país inteiro. Reinaldo é também um dos grandes responsáveis por levar a Stock a Portugal, no Torneio Grão-Pará, disputado em 1982 na época da Copa do Mundo.

Paulo Gomes, que ganhou a competição extracampeonato, em pura galhofa, sempre se autointitulou “Campeão Mundial” de Stock, graças à ousadia e o desprendimento de Campello.

Naquela mesma temporada de 1982, Reinaldo foi protagonista de um dos acidentes mais espetaculares da história de Interlagos, batendo no guard-rail da saída da Curva 4 do antigo traçado, antes da Ferradura, capotando inúmeras vezes. Felizmente, ele não se feriu com gravidade.

Antes da Divisão 1 e da Stock, Campello também foi figura importantíssima noutro campeonato de vulto do país – a extinta Divisão 3. Na chamada Classe C, comparecia com belíssimos Opalas preparados por Caíto e que deram à equipe Itacolomy-Safra o título brasileiro de 1974 com Edgard Mello Filho batendo o Maverick com preparação Berta-Gurney e chamado “Haras Hollyood” porque tinha quase 500 cavalos. Os Opalas de Caíto, também guiados por Campello e pelo saudoso “Pradinho” – Antonio Castro Prado – mal batiam 300 HP. Mas eram mais resistentes e proporcionaram a Edgard um título histórico.

Segundo o necessário Guia da Stock Car feito pelo grande Miltão Alves, Campello participou da Stock entre 1979 e 1986. Esteve presente em 69 corridas, das quais ganhou três – duas em Interlagos, uma em Guaporé. Fez nove pódios, seis poles e cinco voltas mais rápidas. Sua melhor classificação em campeonatos foi 5º lugar em 1981 e 1982.

E, se me lembro bem, Campello correu não só com as marcas Itacolomy e Primarca, além dos apoios do Banco Safra, da CCE, da Vodka Smirnoff e da Bandeirantes, mas também com o apoio dos Jeans Pool, das Confecções Guararapes.

Na mesma época de um certo Ayrton Senna na F3 inglesa.

Campello inclusive se espantou em 1983 com o retorno de mídia que Ayrton dava ao patrocinador. Era dezenas de vezes maior do que o dele e de Fábio Sotto Mayor na Stock. Foi mais um que enxergou em Senna um fenômeno.

Coincidentemente, Reinaldo se despede da vida no dia que seria o dos 63 anos de Ayrton.

Obrigado por tudo, Reinaldo Campello. Que em paz descanse.

Aliás, a Stock informa através de suas mídias sociais que Reinaldo será devidamente homenageado na rodada de abertura da temporada 2023 em Goiânia. A etapa levará o nome dele. Merecido.


Comentários

  • Todos os meus “Tios” estão começando a partir. Primeiro foi Flávio della Nina, agora o Campello. Me lembro bem do acidente na saída da 4, Ele só sofreu um corte causado pelo cinto de segurança. Vai deixar saudades.

  • sem dúvida, o automobilismo perde mais um grande incentivador , temperamental, polêmico, grande piloto, tenho muitas revistas auto-esporte em que o zampa contava as suas estripulias dentro e fora da pista, descanse em paz