Uma inesquecível Indy 500 a caminho
RIO DE JANEIRO – A julgar pelo que se viu desde a segunda-feira passada no Indianápolis Motor Speedway, a 101ª edição da Indy 500 tem tudo para ser inesquecível. Não só pelo nível e pela velocidade que os carros vem alcançando: a média horária global do pelotão de 33 carros – a bem da verdade, um deles não marcou tempo – é impressionante e todas as atenções estão voltadas não só para o novato mais famoso da corrida deste ano como também para a performance extraordinária do pole position.
https://www.youtube.com/watch?v=SsS1KNIvPdc
Fernando Alonso e Scott Dixon mostraram o porque de serem pilotos excepcionais. Do espanhol, aliás, podia-se duvidar muito pouco. O que foi impressionante até aqui é que o bicampeão mundial de Fórmula 1 tem se sentido muito seguro e cada vez mais confiante toda vez que senta a bota no carro laranja #29. Dá o que pensar se os treinos durassem o mês inteiro como antigamente. Talvez Fernando estivesse em totais condições de brigar pela pole position – ou não, vai saber… – mas em menos de 10 dias, ele mostrou velocidade e adaptação espetaculares. Passou sem sustos para o Fast Nine e conquistou um ótimo 5º lugar no grid, inclusive com direito a troca de motor e perda de potência na volta rápida.
Se não fosse isso, sei não, viu?
Outra coisa que é preciso dizer em favor da adaptação do Alonso: muitas pessoas criticam o automobilismo dos EUA, porque andam em ovais e as curvas são só para a esquerda. Se soubessem que isso não é uma ciência exata, não falariam besteira. Teve até portal dizendo que Fernando “foi mal” num dia de treino de tráfego, só porque andou em 24º lugar. Mas a resposta foi dada na pista, onde qualquer mudança de vento, angulação de asa e principalmente de temperatura, faz toda a diferença. Às vezes, um grau a mais ou a menos, pode representar milésimos preciosos de segundo. Mais uma lição que Don Alonso de las Asturias vai levar para a vida inteira.
https://www.youtube.com/watch?v=tc6kis8M4aQ
E no mesmo nível de Alonso em termos de expertise e competência, está o neozelandês Scott Dixon, que conquistou uma pole position épica com o carro da Chip Ganassi Racing, superando o pretenso favoritismo dos dois carros da ECR alinhados para Ed Carpenter e JR Hildebrand. Scott mostrou o porquê de ser um dos melhores – talvez o melhor – da Fórmula Indy hoje e não à toa ele tem quatro títulos no currículo, 40 vitórias na categoria e uma vitória na Indy 500 em 2008. O trabalho de acerto do “kiwi” para marcar a média de 232.164 mph, equivalentes a 373.632 km/h mostra o quanto ele é forte nesse tipo de disputa.
Mas a corrida tem suas nuances. Serão 200 voltas, 500 milhas e 804,5 km em que velocidade e paciência serão as armas para quem quiser vencer. E aproveitar as amarelas para fazer como Alexander Rossi, surpreendendo o mundo inteiro. É aí que um piloto como Alonso pode fazer a diferença a seu favor.
Numa dessas, até pilotos que de acordo com as posições de largada são considerados meio carta fora do baralho – e nisso o esquadrão da Penske é a prova cabal – podem fazer uma corrida tática e emergir nas últimas 50 voltas, que são sempre decisivas. E é uma pena que tenhamos sido privados de ter Sébastien Bourdais na pista, depois do brutal acidente que sofreu no sábado. O impacto recebido a 372 km/h na saída da curva 2 foi de 118 vezes a Força G, o que contribuiu muito para que o piloto da Dale Coyne Racing sofresse múltiplas fraturas de pélvis e bacia.
Milagrosamente, Bourdais está de pé e até se deixou fotografar no hospital onde foi operado. O acidente guardou semelhanças com o de Gordon Smiley (talvez uma das maiores tragédias de todos os tempos) porque aconteceu na mesma curva e o ângulo foi muito parecido. Mas Bourdais foi beneficiado não só por haver o SAFER Barrier como também pela segurança passiva dos chassis da Fórmula Indy, cada vez melhor. Talvez se o acidente fosse no Dallara IR-5 usado até 2011, o francês não tivesse sobrevivido.
O grid da 101ª Indy 500 é este:
1. fila
Scott Dixon (Dallara DW12-Honda) – Ganassi – 232.164 mph (373.632 km/h)
Ed Carpenter (Dallara DW12-Chevy) – ECR – 231.664
Alexander Rossi (Dallara DW12-Honda) – Andretti – 231.487
2. fila
Takuma Sato (Dallara DW12-Honda) – Andretti – 231.365
Fernando Alonso (Dallara DW12-Honda) – Andretti – 231.300
JR Hildebrand (Dallara DW12-Chevy) – ECR – 230.889
3. fila
Tony Kanaan (Dallara DW12-Honda) – Ganassi – 230.828
Marco Andretti (Dallara DW12-Honda) – Andretti – 230.474
Will Power (Dallara DW12-Chevy) – Penske – 230.200
4. fila
Ryan Hunter-Reay (Dallara DW12-Honda) – Andretti – 231.442
Ed Jones (Dallara DW12-Honda) – Coyne – 230.578
Oriol Servia (Dallara DW12-Honda) – RLL – 230.309
5. fila
Mikhail Aleshin (Dallara DW12-Honda) – SPM – 230.271
Graham Rahal (Dallara DW12-Honda) – RLL – 230.253
Max Chilton (Dallara DW12-Honda) – Ganassi – 230.068
6. fila
Charlie Kimball (Dallara DW12-Honda) – Ganassi – 229.956
James Hinchcliffe (Dallara DW12-Honda) – SPM – 229.860
Juan Pablo Montoya (Dallara DW12-Chevy) – Penske – 229.565
7. fila
Helio Castroneves (Dallara DW12-Chevy) – Penske – 229.515
Jay Howard (Dallara DW12-Chevy) – SPM – 229.414
Sage Karam (Dallara DW12-Chevy) – DRR – 229.380
8. fila
Josef Newgarden (Dallara DW12-Chevy) – Penske – 228.501
Simon Pagenaud (Dallara DW12-Chevy) – Penske – 228.093
Carlos Munoz (Dallara DW12-Chevy) – Foyt – 227.921
9. fila
Gabby Chaves (Dallara DW12-Chevy) – Harding – 226.921
Conor Daly (Dallara DW12-Chevy) – Foyt – 226.439
Jack Harvey (Dallara DW12-Honda) – Andretti – 225.742
10. fila
Pippa Mann (Dallara DW12-Honda) – Coyne – 225.008
Spencer Pigot (Dallara DW12-Chevy) – Juncos – 224.052
Buddy Lazier (Dallara DW12-Chevy) – Lazier – 223.417
11. fila
Sebastian Saavedra (Dallara DW12-Chevy) – Juncos – 221.142
Zach Veach (Dallara DW12-Chevy) – Foyt – 221.081
James Davison (Dallara DW12-Honda) – Coyne – s.t.
– Realmente o francês estava indo muito bem e é uma pena vê-lo fora de combate, mesmo que temporariamente. E não há como não lembrar da incrível semelhança com o acidente do Gordon Smiley. Esse acidente, a tragédia de Le Mans em 1955, o de Gilles, e o que você postou um dia desses, o de Tom Price em Kyalami, marcaram as páginas do automobilismo mundial.
“… porque andam em ovais e as curvas são só para a esquerda.” Pois é.
Analfabetismo esportivo na prática. Torcendo por menos acidentes e menos quebras pro couro comer nas últimas vinte voltas!
Mais um excelente texto Rodrigo !
Lamentavel o que aconteceu com Bourdais, pois o frances estava andando realmente muito rapido. Nas duas primeiras voltas, estava num ritmo muito acima dos outros pilotos e, provavelmente, teria sido o mais rápido dos Fast Nine no classificatório. O que o credenciaria para a Pole, já que nos treinos livres tinha chegado a rodar a 375 km/h de media !!! E certamente no Pole Day as condições da pista estavam melhores, e a pista estava mais rapida.
O acidente dele me lembrou muito, na fase ate o primeiro contato com a barreira de proteção, o acidente do Nelsão: atravessada, a tentativa e correção com “chicotada” ao contrario, e o toque no muro com um angulo em 3/4 frontal. Temi pelas pernas dele !!!
Os especialistas em Indy recomendam que quando a traseira atinge um certo angulo de derrapagem, é mais prudente girar o volante para o lado de dentro da curva e fazer o carro rodar, invés de tentar a correção quase impossivel e terminar “chicoteando” em direção ao muro.
Sobre um caso a ressaltar nas antigas edições da Indy 500, cito a estoria ocorrida com Jim Clark em 1964: durante a prova, depois de rodar, o escoces se viu andando ao contrario (contramão) pela pista a cerca de 100 km/h. Ato reflexo, deu um cavalo de pau e seguiu na direção certa, sem parar o carro !!! Só mesmo Clark seria capaz disso !!!
Antonio
Essa prova é espetacular! Conforme vai chegando ao fim, vai dando aquela ansiedade… E não tem como esquecer o que o Hildebrand fez… líder, patrocinado pela National Guard, novato e… panca na última curva, literalmente!!
Alonso mostrou que é um dos melhores pilotos de monopostos da atualidade. Quem o considerava morto na F1, tem que rever suas opiniões. Espero que faça uma grande corrida.
E pra quem achava que é só virar o volante pra esquerda, tá aí o Alonso pra provar que a coisa é pra adultos.
Por mais que digam aos pilotos “nunca tentem corrigir a saída de traseira” isso parece ser algo instintivo.
Vai dar Buddy Lazier na cabeça!
Olha, para esta prova vejo como principais favoritos Dixon, Montoya, TK (ainda muito rápido nos ovais…) e, é claro, Fernando Alonso. Além do mais, uma coisa perceptível e que expõe uma brutal diferença entre o circo da F1 e a Indy é a aceitação do piloto de outra categoria. Alonso é festejado pelo público e pela mídia americana…um tratamento muito diferente de quando Bourdais e o Montoya foram para a F1…o Bourdais, a quem eu desejo toda sorte na recuperação, foi – e muito – sacaneado na Toro Roso…isso ninguém fala. Nunca engoli muito a forma como ele foi tratado pela categoria e até pela transmissão do plim plim ocasionalmente quando citavam ele. Será que acham que um muiticampeão da Indy e campeão de Le Mans é um “qualquer”?
Pra Globo, quem não anda na F1 ou na Stock é um “qualquer”.
Iria fazer um comentário ainda sobre o Bourdais, mas lhe pergunto: Alguma possibilidade do Tony substituí-lo nas 24h de Le Mans, uma vez que já é piloto da casa?
Pergunto porque nas 24h de Daytona, ele guiou com o time do WEC no carro #69 e por vezes foi o mais rápido da trinca…este carro, se não me engano, foi o 2º melhor Ford GT na GTLM, P5 na classe…não pode ser considerado ruim.
Não sei, Fernando. Sabe como esses ianques são… vão pressionar pra ter alguém de língua inglesa ou um europeu, tipo Ryan Dalziel ou Marino Franchitti.
Mas o Tony Kanaan, além de ser uma escolha possível, não precisa disputar o Journée Test por ser piloto Platina.