A Mil por Hora
Fórmula 1

Um Rosberg no pódio, 30 anos depois

RIO DE JANEIRO – O GP de Mônaco desse ano dividiu-se em duas partes: chato, muito chato no início e animado do meio para o fim. Teve de tudo. Batidas, barbaridades, bandeira vermelha, algumas boas ultrapassagens e – sim, senhores! – uma vitória da Mercedes. Os leões de treino superaram a fama adquirida nas corridas […]

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RIO DE JANEIRO – O GP de Mônaco desse ano dividiu-se em duas partes: chato, muito chato no início e animado do meio para o fim. Teve de tudo. Batidas, barbaridades, bandeira vermelha, algumas boas ultrapassagens e – sim, senhores! – uma vitória da Mercedes. Os leões de treino superaram a fama adquirida nas corridas anteriores e chegaram lá no Principado. E, trinta anos depois do pai, Nico Rosberg vence num dos circuitos mais tradicionais da Fórmula 1.

Ok… a corrida foi atípica e a Mercedes respondeu rápido. Só não fez a dobradinha porque Hamilton acabou prejudicado na primeira das duas entradas do Safety Car. Caiu para quarto e por lá ficou. Acabou atrás do líder do campeonato Sebastian Vettel e de Mark Webber, que conquistou seu quarto pódio nas cinco últimas edições da corrida do Principado. O alemão, líder do campeonato e atual tricampeão, continua sem vencer em território europeu. Isso parece não preocupá-lo – muito menos que o fato de que a Red Bull, mesmo comandando o Mundial de Construtores com 164 pontos, não tem mais o carro de outro planeta que teve noutros tempos.

Agora, vamos aos destaques negativos.

Começando pelo segundo acidente de Felipe Massa em pouco mais de 24 horas.

Não é possível, para mim, que o piloto tenha tanta culpa numa batida como aquela que sofreu ontem. E hoje, a mesma coisa. No mesmo ponto, só que com menos impacto e velocidade, o brasileiro bateu na aproximação da curva Saint Dévote. E se machucou: saiu do circuito com um colar no pescoço e direto para casa. Nada de falar com a imprensa desta vez.

Quanto a esta estranha sequência de acidentes, quem sou eu pra sugerir alguma coisa. Mas acho que a Ferrari deveria tomar providências. É muito menos leviano do que jogar a culpa de acidentes em seus contratados, vide o que fizeram quando a suspensão do carro do Barrichello quebrou sem nenhum aviso prévio no GP da Hungria de 2003.

Mas pior, muito pior do que estes dois acidentes de Massa foi o que fez o britânico Max Chilton. Numa tentativa insana de ultrapassagem sobre Pastor Maldonado, o piloto da Marussia ejetou o venezuelano da Williams para as proteções à margem da pista. E a batida foi tão forte que as barreiras se moveram e a bandeira vermelha foi exibida. Uma manobra absurda onde o britânico – que é um dos vários pilotos pagantes da temporada, diga-se – só foi punido com um drive through.

Ora… punir Chilton dessa forma é o mesmo que dar uma mariola pra ele, passar-lhe a mão na cabeça e dizer que está tudo bem. Faltou pulso a Charlie Whiting e sua turma, que deveriam exclui-lo da disputa pela manobra de altíssimo risco. Se não houve esse zelo na pista, que haja fora dela e a FIA tem que tomar as medidas cabíveis para suspender Max Chilton por, no mínimo, duas corridas – para aprender a não fazer bobagem.

https://www.youtube.com/watch?v=_yOqQL-psu8

Quem não aprendeu e pelo visto nunca aprenderá é Romain Grosjean. O franco-suíço que faz hora extra nas tirinhas da Turma da Mônica como o “Louco” fez das suas também. Estragou a própria corrida e a do australiano Daniel Ricciardo, da Toro Rosso. Acabou se retirando da disputa, antes que fizesse mais besteiras.

Por fim, Sergio “Checo” Pérez. O mexicano é daqueles pilotos destemidos, que o público gosta de ver. Mais ou menos como o Kamui Kobayashi, por exemplo. Até o defendemos – com razão – quando ele fez uma manobra ousada para cima de Fernando Alonso, que deveria ter recolhido e deixado o mexicano ultrapassá-lo e não cedeu, colocando os dois sob algum risco. O espanhol da Ferrari acabou obrigado pela direção de prova, após a interrupção por bandeira vermelha, a trocar de posição com o piloto da McLaren.

https://www.youtube.com/watch?v=s8ZQA7rJnbo

Mas aí, Pérez resolveu confundir audácia com imprudência e fez o que não devia, voltas mais tarde. Estragou a boa corrida que fazia no momento em que resolveu passar Kimi Räikkönen por onde não dava: furou o pneu do carro do finlandês (que já reclamava do rival pelo rádio do time, chamando-o dos epítetos menos simpáticos possíveis – “idiota” foi o menos pesado) e  alguns quilômetros depois, nem o carro do mexicano resistiu. Também pudera: misturar tequila com vodka não dá certo…

Mais uma inimizade que se inicia? É bem provável…

Agora, vamos aos destaques positivos:

Adrian Sutil, sempre à vontade nas ruas de Monte-Carlo, na minha opinião foi um dos melhores pilotos do dia. Fez ultrapassagens de verdade, limpas e sem forçar a barra, sobre Jenson Button e Fernando Alonso. Beneficiou-se, é verdade, do imbroglio entre Pérez e Räikkönen, para chegar em quinto. Mas é a tal história: estava no momento certo e na hora certa. Também é bom destacar o 9º posto de Paul Di Resta, que parou cedo e continuou com os mesmos pneus desde seu único pit stop até a quadriculada final. A exemplo de Sutil, fez boas ultrapassagens durante a corrida.

Jean-Eric Vergne, com o capacete evocando François Cévert, foi outro bom nome do domingo. Fez uma corrida sem nenhum erro e livre de bobagens dos adversários. Foi premiado com quatro pontos e um bom 8º lugar, ajudando a Toro Rosso a permanecer bem à frente da Sauber na luta pelo sétimo lugar no Mundial de Construtores.

E, por fim, Kimi Räikkönen, que foi um monstro nas voltas finais. Com um pneu furado pelo toque de Pérez em sua Lotus, parou nos boxes, fez a troca e veio voando para cima de quem estava à sua frente. Não passou seis pilotos como achei que teria superado – pois o mexicano da McLaren abandonou antes – mas deixou CINCO pilotos para trás: Van Der Garde, o recalcitrante Chilton, Estéban Gutiérrez e, na última volta, superou o compatriota Valtteri Bottas e o alemão Nico Hülkenberg.

Embora faça o tipo “I don’t care”, o Iceman alcança com o suado 10º lugar um total de 23 corridas consecutivas na zona de pontuação – a uma de igualar o recorde de Michael Schumacher. Ele só vai lamentar o fato de ficar agora a 21 pontos de Sebastian Vettel. Mas um sujeito que ultrapassa cinco carros em apenas seis voltas, e numa pista como Mônaco, tem que ser lembrado – e saudado – para todo o sempre.