A Mil por Hora
Fórmula 1

Andrea De Cesaris (1959-2014)

RIO DE JANEIRO – Triste domingo para o automobilismo. O folclórico piloto italiano Andrea De Cesaris, conhecido por ser um dos maiores para-raios (é junto ou separado?) de acidentes e confusões da história do esporte, morreu hoje aos 55 anos de idade em consequência de um acidente de motocicleta. Ele perdeu o controle de sua […]

Andrea-de-Cesaris-1981

RIO DE JANEIRO – Triste domingo para o automobilismo. O folclórico piloto italiano Andrea De Cesaris, conhecido por ser um dos maiores para-raios (é junto ou separado?) de acidentes e confusões da história do esporte, morreu hoje aos 55 anos de idade em consequência de um acidente de motocicleta. Ele perdeu o controle de sua Suzuki 600 na altura do km 23,5 de uma estrada em Buffalotta, próximo a Roma. Andrea e a moto se chocaram contra um guard-rail à beira da estrada.

Acidentes de Andrea nos tempos de McLaren eram motivo de piada: já imaginaram o Bibendum, boneco-símbolo da Michelin, fugindo da batida do piloto na curva do Tarzã? Não… NÃO é montagem!

Tendo estreado na Fórmula 1 em 1980, com apenas 21 anos de idade pela Alfa Romeo, Andrea conquistou títulos no kart e passou pela F-3 inglesa e F-2 europeia. Graças ao generoso aporte da Marlboro, que muitos criticavam por conta da suposta ligação do pai do piloto com as marcas de cigarro da época (o velho De Cesaris era um dos principais distribuidores da Europa), o italiano passou para a McLaren em seu primeiro ano completo – 1981.

No time de Ron Dennis, nunca teve o melhor equipamento e em busca do limite com carros ruins, ficou com péssima fama. Fama de batedor: destruiu vários chassis (há quem diga que foram 22) e acabou recebendo o bilhete azul. Mas na Alfa Romeo, Andrea mostrou que era veloz. Fez pole position, liderou corridas, conquistou alguns pódios, mas nunca venceu em nenhuma oportunidade.

O acidente mais marcante da carreira do italiano foi a capotagem monumental em Zeltweg, 1985. Andrea sofreu 39 acidentes em 208 GPs disputados

Provando que as ligações de seu pai com a Marlboro não tinham tanta influência assim no seu destino. Andrea De Cesaris foi para a Ligier. No biênio 84/85 correu pelo time francês e acabou outra vez demitido por conta de um acidente monumental em Zeltweg, na Áustria. A capotagem do italiano a bordo do #25 é histórica.

Após uma passagem opaca pela minúscula Minardi, o piloto foi para a Brabham. Mesmo com a ex-equipe de Nelson Piquet já decadente, foi ao pódio no GP da Bélgica. Correu ainda pela Rial em 1988 e pela Scuderia Italia, equipe que defendeu por duas temporadas e pela qual conquistou seu último pódio na categoria, num chuvoso GP do Canadá, com um 3º lugar.

Na Jordan, outra equipe que ele pegou em formação, De Cesaris teve momentos de brilho e contribuiu para o 5º lugar do time novato no Mundial de Construtores de 1991. No GP da Bélgica daquele ano, o italiano fez uma corrida épica e, por incrível que pareça, teve chance de vencer. Vinha em segundo quando o motor de seu carro fundiu.

Andrea, apesar de guiar em times médios em grande parte de sua carreira, não era propriamente um “pay driver”. Como Eddie Jordan queria um patrocínio que De Cesaris não tinha condições de conseguir, o italiano assinou com a Tyrrell e por lá ficou em duas temporadas. Fez um primeiro ano sólido em 1992 e uma temporada terrível em 1993 por conta dos constantes problemas do motor Yamaha e da inadequação do chassi, que não tinha o equilíbrio desejado.

Sem um time fixo para 1994, Andrea contou com os percalços de alguns colegas de profissão para seguir na categoria naquele ano. Foi 4º colocado em Mônaco substituindo o suspenso Eddie Irvine e depois acabou requisitado pela Sauber para o lugar vago de Karl Wendlinger. Sua última corrida foi o GP da Europa, em Jerez de la Frontera. Ao todo, em 214 participações, De Cesaris disputou 208 GPs, com uma pole position (EUA-Long Beach/82), uma volta mais rápida, cinco pódios, 32 voltas na liderança e 59 pontos conquistados.

De Cesaris e seu repertório de tiques: o italiano era portador da Síndrome de Gilles de Tourette

Sua faceta de piloto folclórico com um total de 39 acidentes registrados nos compêndios (em corridas, bem entendido) é amenizada quando se registra que De Cesaris era portador da síndrome de Gilles de Tourette, que lhe provocava espasmos, tiques e foi responsável por algumas imagens aterradoras para o público. Os pilotos também não gostavam de largar próximos a ele. “Imaginem só o que é olhar pro lado no grid e se deparar com a figura do Andrea de Cesaris? Eu me cagava de medo!”, declarou certa vez o tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet.

Ao terminar a carreira de piloto, De Cesaris e sua mulher Angela foram tocar a vida, cuidando dos filhos. Nas horas vagas, Andrea revelou-se um excelente windsurfista. E não faz muito tempo, vimos seu regresso às pistas na extinta categoria GP Masters nas três provas realizadas em Kyalami, Silverstone e Losail.

Descanse em paz, Andrea. Apesar de suas trapalhadas, tenha certeza, ao chegar num plano superior, que você era querido e idolatrado pelos fãs do esporte.