Renzo Zorzi (1946-2015)

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Zorzi disputou sete GPs de Fórmula 1, dois deles no Brasil: em 1976, chegou em nono no circuito de Interlagos; o italiano morreu hoje aos 68 anos

RIO DE JANEIRO – De forma indireta, a curta trajetória de Renzo Zorzi na Fórmula 1 está ligada a de quatro pilotos – dois brasileiros e dois britânicos, em diferentes momentos da história do automobilismo. Este italiano nascido em 1946 no dia 12 de dezembro, mesmo dia e ano do bicampeão mundial de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi, na região de Trentino, não está mais entre nós. Zorzi morreu hoje aos 68 anos de idade.

Sempre ligado à Pirelli, para quem trabalhou antes e depois de ser piloto de competição (nos anos 70, quem ficou amigo dele foi o “Omelete” Jan Balder), Zorzi ficou relativamente conhecido em 1975. Naquele ano, a bordo de um GRD de Fórmula 3, venceu o GP de Mônaco – preliminar da prova de Fórmula 1 e vitrine absoluta para os jovens talentos do esporte em priscas eras. O triunfo, registre-se, caiu de presente em seu colo quando Tony Brise, noutro GRD, tentou ultrapassar o March Toyota Novamotor do brasileiro Alex Dias Ribeiro, que endureceu a parada, provocando uma colisão entre os dois.

Com a vitória, Zorzi, já relativamente velho para estrear na Fórmula 1, recebeu um convite de Frank Williams e estreou num FW04 Cosworth da então pequena escuderia britânica no GP da Itália em Monza, com uma 14ª colocação ao final da disputa. No ano seguinte, participou da prova de abertura do campeonato, a bordo do velho FW04 nas cores preta e dourada da Wolf-Williams, no GP do Brasil. Dentro das limitações do carro, até que Zorzi foi muito bem, chegando ao fim da disputa na nona posição.

Sem patrocinadores, esta foi a única aparição do italiano em 1976 e ele regressaria à categoria no ano seguinte, pela Shadow.

Com o obsoleto modelo DN5B, o italiano fez os GPs da Argentina e do Brasil. Na corrida de Interlagos, roubou de Ingo Hoffmann um pontinho precisoso. O brasileiro tinha um pneu furado em seu Copersucar-Fittipaldi e não houve possibilidades de conter o rival, que ficaria para sempre marcado pelo que aconteceu na corrida seguinte, o GP da África do Sul, em Kyalami.

Naquele dia 5 de março de 1977, Renzo estreou enfim a bordo do Shadow DN8 – carro que só estava à disposição do companheiro de equipe, o galês Tom Pryce. O piloto largou de 20º num grid de 23 carros e na altura da vigésima-primeira volta, o motor de seu carro começou a vazar óleo e o piloto parou no acostamento, bem defronte aos boxes. Havia um princípio de incêndio e Zorzi saltou do Shadow para tentar acionar o extintor por uma chave externa. Nisso, o fiscal Jensen “Red” Van Wuuren atravessou de forma imprudente a pista com outro extintor nas mãos. E foi atropelado justamente pela outra Shadow de Tom Pryce.

Morte instantânea para “Red” e para o piloto, atingido pelo pesado extintor. Uma das páginas mais tristes da história do esporte.

Como as performances de Zorzi não satisfaziam a Alan Rees e Jackie Oliver, diretores da Shadow e ao patrocinador Franco Ambrosio, a substituição do piloto aconteceu após o GP da Espanha e Riccardo Patrese estreou em seu lugar. Renzo, que disputou apenas sete GPs, encerrou sua carreira de piloto na Aurora AFX Series, uma espécie de Série B de Fórmula 1 com carros antigos, organizada na Inglaterra. E nos últimos anos, dirigia no circuito de Binetto, próximo a Bari, uma escola de pilotagem em parceria com a Pirelli.

Comentários

  • Ele venceu os 1000km de Monza em 1979 em parceria com Marco Capoferri pilotando um Lola T286 Ford que até 2008 foi uma das grandes provas dos carros de esporte protótipos, grande perda para o esporte.

  • Grande texto Mattar!
    Ele teve carreira curta na F1, mas era bem querido pelo circo do automobilismo.
    Queria muito ter visto essa época, mas graça à Internet posso ver no YouTube.
    Grande Zorzi, vai deixar saudades!

    • Foram os anos românticos da F-1, e não me arrependo de ter visto cada corrida que era transmitida pela TV, fosse F-1, F-indy ou outras categorias (ao vivo ou em videotape, devo ter visto quase tudo que aparecia desde 1968, pelo menos). Mas a gente tinha de estar preparado para ver coisas tristes ao vivo. Lembro bem desse acidente que vitimou o Tom Pryce e o Marshall. Era um sábado, eu havia acabado de chegar do colégio, correndo pra frente da TV para ver a corrida. E, logo em seguida, aquela cena do bandeirinha voando pelos ares. Todos somente começaram a perceber o que havia acontecido com o Pryce quando o carro dele bateu no do Lafitte e saíram reto na curva 1, para o meio das telas de proteção. Talvez, se o Renzo Zorzi não tivesse mostrado tanta atrapalhação em conseguir acionar o extintor, os bandeirinhas (amadores, trabalhando de graça, por sinal, como se soube depois) não tivessem se precipitado em atravessar a pista sem bandeira amarela. Mas é apenas mais um “mas” que ficará para a história das conjecturas…