No colo: Toyota fatura em dobradinha as 8h do Bahrein
RIO DE JANEIRO – Nunca a clássica frase “corrida não se ganha na primeira volta, mas se perde” foi tão bem aplicada hoje quanto na 4ª etapa do FIA WEC, o Mundial de Endurance, que o Fox Sports transmitiu na íntegra no app e também em duas janelas ao vivo no FS2.
Porque foi na primeira volta que a corrida começou a se decidir. Pole position, o carro #1 da Rebellion Racing com Bruno Senna a bordo fez a primeira curva na frente do pelotão de 31 carros.
Foi aí que Charlie Robertson, no Ginetta #5 do Team LNT, ainda com os pneus não totalmente aquecidos em seu carro, deixou patinar demais as rodas traseiras. Houve o contato, os dois rodaram e o Safety Car entrou na pista.
Isso bastou para deixar o Toyota #7 de Mike Conway/Kamui Kobayashi/José María López com o caminho absolutamente livre para dominar a disputa – e foi exatamente o que a trinca fez.
A Rebellion ainda empreendeu uma furiosa recuperação vinda do fim do pelotão. Senna veio com a faca nos dentes, ganhou posições e quando Gustavo Menezes assumiu, o carro voltou à linha de frente chegando a ocupar o 2º lugar, virando tempos consistentes e melhores que os líderes.
Mas não era mesmo o dia do trio do #1. Uma falha de transmissão mandou o carro para as garagens. Foram três voltas perdidas e o fim das esperanças em repetir a vitória obtida em Xangai no mês passado.
E mesmo com todo o handicap de Equivalência de Tecnologia (EoT) aplicado pela FIA na disputa das 8h do Bahrein, a Toyota acabou por chegar à dobradinha sem a menor dificuldade. O #8 com Sébastien Buemi/Brendon Hartley/Kazuki Nakajima não teve ritmo suficiente para alcançar o carro gêmeo e ainda levou uma volta – os vencedores da disputa completaram 257.
Senna, Menezes e Nato ainda conseguiram salvar o terceiro pódio seguido na temporada, que deixa a trinca com 67 pontos na classificação: a corrida barenita tinha coeficiente 1.25 (vitória valeu 38) e com isso a trinca López/Conway/Kobayashi abre oito pontos – 97 a 89 – dos colegas de Toyota Gazoo Racing.
Para variar, os Ginetta do Team LNT pecaram pela falta de confiabilidade. Problemas elétricos e de transmissão nocautearam os dois carros, que ficaram ambos fora da zona de pontos pela primeira vez no campeonato.
Isso abriu caminho para um espetacular 4º lugar geral da United Autosports, que enfim chegou à vitória num momento crucial do campeonato na classe LMP2.
O trio Filipe Albuquerque/Phil Hanson/Paul Di Resta dominou a disputa quase que em sua totalidade, enfrentando alguns pequenos sufocos. Mas no fim, o #22 cruzou a linha de chegada em primeiro, tornando-se o quarto carro diferente a ganhar em quatro etapas da Super Season 2019/20.
A trinca do time de Richard Dean e Zak Brown fechou com pouco mais de 21 segundos de frente para Antonio Félix da Costa/Anthony Davidson/Roberto González, com Gabriel Aubry/Ho-Pin Tung/Will Stevens fechando o pódio – em mais uma sólida performance dos carros equipados com os pneus Goodyear.
Para André Negrão e os parceiros Thomas Laurent e Pierre Ragues, a corrida foi uma montanha-russa. Nas mãos do brasileiro, o Alpine A470 sempre aparecia bem. Já com Ragues, o ritmo caía e Laurent não conseguiu recuperar após os dois stints do compatriota, que “mataram” as chances do time de Philippe Sinault.
Eles terminaram em 8º lugar na geral – sétimo para efeito de pontos e quarto na LMP2 – porque a G-Drive Racing correu como “hors-concours” em seu Aurus 01 guiado por Roman Rusinov/Job Van Uitert/Jean-Éric Vergne.
As más notícias não pararam: a trinca Aubry/Stevens/Tung assumiu a liderança do campeonato com 72 pontos, três à frente de Albuquerque e Hanson. Os holandeses Frits Van Eerd e Giedo Van der Garde caíram para o 3º lugar com 66 e ainda há Félix da Costa e González em quarto na tabela.
Só aí é que vem o trio da Signatech Alpine – menos mal que a diferença de 16 pontos é recuperável, mas os franceses terão de arrumar um fato novo em 2020 para ganhar terreno em relação aos rivais.
A corrida na LMGTE-PRO foi uma delícia: variáveis de estratégia, todos os carros liderando em algum momento, grandes disputas, ultrapassagens eletrizantes e… problemas. Desta vez, a equipe mais atingida foi a Porsche.
Os dois carros oficiais, tanto o #91 de Gianmaria Bruni/Richard Lietz quanto o #92 de Kévin Estre/Michael Christensen foram alijados da luta pela vitória por falhas técnicas e/ou furos de pneu.
Sobraram Ferrari e Aston Martin na batalha titânica pelo topo do pódio e no fim, mercê uma punição bastante controversa à dupla Davide Rigon/Miguel Molina, ganharam Nicki Thiim/Marco Sørensen, que com o triunfo no Bahrein emergem para a ponta da tabela: a dupla dinamarquesa soma 85 pontos, contra 71 de Estre/Christensen e 68 de Bruni/Lietz.
Contudo, há ainda o recurso pendente da AF Corse quanto à vitória cassada na vistoria técnica em Xangai, que pode alterar a classificação.
E na LMGTE-AM, com um trabalho impecável especialmente do gentleman driver Ben Keating, o #57 do Team Project 1, que contou ainda com os holandeses Larry ten Voorde e Jeroen Bleekemolen, alcançou não só a primeira vitória na Super Season como também a liderança do campeonato.
Graças a este triunfo, Keating e Bleekemolen chegam aos mesmos 73 pontos de Emmanuel Collard/Nicklas Nielsen/François Perrodo – mas com o peso de uma vitória numa prova que oferece pontuação maior para a classificação.
A Aston Martin ficou a pouco mais de 37 segundos de vencer também na divisão inferior de Grã-Turismo, mas Darren Turner/Paul Dalla Lana/Ross Gunn salvaram pontos importantes para o resto do ano.
E a Gulf Racing, numa ótima atuação de seus pilotos, chegou ao primeiro pódio em sua trajetória no FIA WEC. Grande evolução do piloto bronze Michael Wainwright, que persistiu e aprendeu bastante nas últimas temporadas. Ele, Andrew Watson e Ben Barker, apesar de uma penalização, foram muito bem nas 8h do Bahrein.
A TF Sport, com o lastro máximo de 45 kg na 4ª etapa, não se apresentou tão competitiva como nas provas anteriores e perdeu a liderança do campeonato ao abandonar com uma falha de transmissão no carro #90. A trinca Salih Yoluç/Charlie Eastwood/Jonathan Adam caiu para quarto na classificação e espera melhor sorte na próxima.
Pois é… a próxima poderia muito bem ser as 6h de São Paulo. Mas o amadorismo dos promotores e a “jenialidade” em não pagar o que os organizadores do campeonato pediram nos levaram para o limbo e para mais uma vergonha patrocinada no débito ou no crédito.
A próxima etapa será a Lone Star Le Mans em Austin, dia 23 de fevereiro. E o blogueiro aqui estará de férias do trampo no Fox Sports, curtindo merecidamente o seu Carnaval.
E aproveito o ensejo para agradecer, de coração, a vocês que nos assistiram nas provas da Super Season 2018/19 neste ano e também as que exibimos ao vivo ou em compacto, na Super Season 2019/20.
Ano que vem tem muito mais FIA WEC!
No geral, uma ótima corrida com grandes disputas em todas as classes, embora nas duas de protótipos tenha havido um domínio na ponta.
A GTE Pro foi sensacional pela intensidade das disputas entre Ferrari e Aston Martin, principalmente. O novo Aston Martin mostra uma clara evolução de performance e confiabilidade. Sobre a falta de mais carros para a classe, eu não vejo outra saída que não seja passarem a adotar a configuração GT3, como já ocorre no Asian Le Mans Series e no próprio IMSA com a classe GTD. Isso certamente trará mais equipes e fabricantes, principalmente pelo fato das três fabricas envolvidas nas classes GTE.
Espero para as corridas de 2020 ver o agora tricampeão Daniel Serra e Felipe Fraga subindo ainda mais o sarrafo das disputas.