WRC: Rovanpëra enfim ganha a primeira na Estônia

RIO DE JANEIRO – História reescrita no World Rally Championship: o Rally da Estônia, 7ª etapa da temporada 2021 da competição, viu surgir no último fim de semana um talento puro, como manda a tradição nórdica na modalidade.

Finlandeses no Rally são como patos na lagoa. Sentem-se à vontade em condições difíceis, fora o que guiam. “Deve ser a água que passarinho não bebe, que eles bebem”, diria Jackie Stewart se pudesse subverter a famosa expressão que o Escocês Voador cunhou quando viu a nossa leva de pilotos invadindo Grã-Bretanha e Europa no início dos anos 1970.

E quando falo da ‘água que passarinho não bebe’ é apenas uma brincadeira. Não se zanguem. Essa turma gosta mesmo de uma bebida mais forte. Álcool e direção, contudo, não se misturam e não é recomendável.

Tudo isso para dizer que Kalle Rovanpëra, 20 anos, nove meses e 17 dias de idade, demoliu um recorde de mais de uma década. Em 2008, no Rally da Suécia, o hoje chefe de equipe da Toyota – e comandante de Rovanpëra, portanto – Jari-Matti Latvala venceu aquele evento aos 22 anos e 313 dias. Até domingo, ele era o mais jovem a ganhar uma prova do WRC.

Era, do verbo não é mais.

Kalle chegou ao triunfo na etapa disputada com 314,16 km e 24 trechos cronometrados e gravitando na região estoniana de Tartu, com grande autoridade. Considerem não só que ele foi mais rápido que o lendário Sébastien Ogier e que o vice-líder Elfyn Evans durante grande parte do evento, como também que ele não deu nenhuma hipótese aos rivais da Hyundai, que não conseguiram mais emplacar nenhum triunfo em 2021 desde que Ott Tänak ganhou no início do campeonato o Rally do Ártico.

Já foram seis vitórias da Toyota – cinco delas seguidas – sendo quatro de Ogier, uma de Evans e, agora, a primeira de Rovanpëra, coadjuvado no pódio por Craig Breen – a entrega desse piloto é impressionante, já passou aliás da hora da Hyundai efetivá-lo e não colocar o britânico em revezamento no terceiro carro com Dani Sordo, como fazia no passado com o ótimo Hayden Paddon – e Thierry Neuville.

Este último inclusive levou uma multa da organização por ter andado num dos trechos de deslocamento a nada mais, nada menos que 190 km/h, muito acima do limite permitido. Como a comitiva do WRC trafega por estradas normais, há que se respeitar a velocidade máxima estabelecida e o belga passou dela num trecho – e por muito.

Ogier salvou pontos importantes para ampliar sua distância em relação ao galês Evans. Se não deu pra ganhar, que marcasse o máximo possível. Terceiro no Power Stage, a lenda francesa foi 4º na geral. Mais 15 pontos no bolso do macacão. Evans fez 12. A diferença entre eles após a 6ª etapa era de 34 pontos – mais que o máximo ofertado num evento, que é de 30. Subiu para trinta e sete.

Teemu Suninen voltou com honra à turma de cima e conseguiu, diante do que a Ford e a M-Sport têm feito nesta temporada e até nas últimas (exceto nos anos de Tänak e Ogier), um razoável sexto lugar, na frente do Hyundai não-oficial de Pierre-Louis Loubet, que depois de muito tentar, somou seus primeiros pontos no Mundial de Rally este ano.

Campeão do Europeu de Rally (ERC), o russo Alexey Lukyanuk fez uma excelente prova com seu Skoda Fabia e levou não só o oitavo posto geral como o triunfo na subclasse WRC3. Eis um nome a ser observado com muito carinho para o futuro da modalidade.

Outra figura que merecia estar na turma de cima é Andreas Mikkelsen, nono colocado e vencedor da divisão WRC2 noutro Skoda, este alinhado em caráter oficial de fábrica. Em sua quarta aparição no ano, o experiente Mads Østberg salvou o último ponto ofertado no top-10, com o sul-americano Marco Bulacia Wilkinson fechando o pódio do WRC2. Adrien Fourmaux, que desta vez guiou na turma de baixo, veio na sequência como 4º colocado.

No pódio do WRC3, além de Lukyanuk, figuraram o polonês Kajetan Kajetanowicz e o finlandês Mikko Heikkilä. Pepe López, que fez pódio na classe no Rally da Sardenha, foi o quarto e fechou os 15 melhores do Rally da Estônia.

A próxima etapa do WRC será na Bélgica, o Rally de Ypres, na região oeste do Flandres, com estradas de asfalto. Previsão inicial de 315,92 km de especiais e 20 trechos cronometrados. É bem possível que dentro do revezamento da Hyundai, Dani Sordo volte no lugar do excelente Craig Breen.

Resultado final do Rally da Estônia:

1 – Rovanperä-Halttunen (Toyota Yaris) – 2:51:29.1
2 – Breen-Nagle (Hyundai i20) – 59″9
3 – Neuville-Wydaeghe (Hyundai i20) – 1’12″4
4 – Ogier-Ingrassia (Toyota Yaris) – 1’24″0
5 – Evans-Martin (Toyota Yaris) – 2’07″1
6 – Suninen-Markkula (Ford Fiesta) – 7’07″3
7 – Loubet-Haut-Labourdette (Hyundai i20) – 8’48″3
8 – Lukyanyuk-Fedorov (Skoda Fabia WRC3) – 10’16″1
9 – Mikkelsen-Fløene (Skoda Fabia WRC2) – 10’29″9
10 – Østberg-Eriksen (Citroen C3 WRC2) – 10’46″6

Classificação do Mundial de Rally após a 7ª etapa:

1. Sébastien Ogier – 148 pontos
2. Elfyn Evans – 111
3. Thierry Neuville – 96
4. Kalle Rovanperä – 82
5. Ott Tänak – 74
6. Takamoto Katsuta – 66
7. Craig Breen – 42
8. Gus Greensmith – 34
9. Dani Sordo – 31
10. Adrien Fourmaux – 30
11. Teemu Suninen – 17
12. Mads Østberg – 13
13. Jari Huttunen – 10
14. Andreas Mikkelsen – 8
15. Esapekka Lappi – 7
16. Yohan Rossel, Oliver Solberg, Pierre-Louis Loubet e Onkar Rai – 6
20. Pepe López, Karan Patel e Aleksey Lukyanuk – 4
23. Jan Solans e Carl Tundo – 2
25. Marco Bulacia Wilkinson, Nikolay Griyazin e Eric Camilli – 1

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