FIA WEC, 1000 Milhas de Sebring – triunfo histórico da Alpine

SÃO PAULO – Nem nos mais delirantes sonhos alguém poderia prever que um LMP1 construído há quatro anos ‘daria um caldo’ e ainda conseguiria ser competitivo a ponto de vencer uma prova do Mundial de Endurance. Pois aconteceu: quarenta e quatro anos após o triunfo nas 24h de Le Mans com Didier Pironi e Jean-Pierre Jaussaud, a Alpine ganhou uma corrida grande numa pista idem – as 1000 Milhas de Sebring, encerradas antes do previsto por protocolo local de raios e tempestades na Flórida, com 45 minutos antes de se atingir o máximo de 8h, de acordo com o relógio.

O protótipo A480 Gibson fez barba, cabelo e bigode – pole position, vitória dominante e volta mais rápida, numa performance sólida do trio formado por Nico Lapierre/André Negrão/Matthieu Vaxivière, que se valeu de um BoP mais favorável e das características de Sebring, onde a Toyota jamais pôde desfrutar da vantagem de seu sistema híbrido, que obrigatoriamente funciona a mais de 190 km/h de velocidade.

“Aceleramos a corrida inteira para vencer e ter vantagem”, afirmou Nico Lapierre. “Antes da última bandeira vermelha sabíamos que precisávamos abrir mais de 1min15 como margem de segurança. Não foi tão fácil quanto pareceu, mas em ritmo e estratégia, fomos perfeitos e a corrida foi limpa, excelente”, completou o francês.

Foi a quarta vitória de André Negrão no WEC e a primeira na divisão principal, juntando-se nesta fase da competição desde 2012 a Lucas Di Grassi e Bruno Senna e, se pegarmos tam´bém o antigo Mundial de Marcas realizado de 1953 a 1992, outro brasileiro a vencer na turma de cima foi Raul Boesel.

A Toyota surpreendeu pela total falta de ritmo e até chegou a coadjuvar com seus dois carros o domínio da Alpine com eventuais momentos de liderança por conta de uma melhor autonomia de combustível e um tanque maior no seu GR010 Hybrid, mas uma infantilidade de José María López estragou tudo.

O argentino calculou mal uma ultrapassagem num retardatário – o Porsche #88 da Dempsey-Proton com Julien Andlauer e, ao tentar a manobra, foi colhido pelo Grã-Turismo. López bateu de frente numa barreira – o contato danificou o sistema de direção e os freios dianteiros entraram em colapso. O resultado foi uma senhora porrada metros após, com o carro já danificado e soltando muita fumaça. “Pechito” destruiu completamente o GR010 que dividiu com Kamui Kobyashi – e Mike Conway nem sentou no carro.

A corrida tinha cerca de 3h30min disputadas quando a batida aconteceu. O diretor de prova Eduardo Freitas deu bandeira vermelha para a retirada do carro e a recolocação das barreiras de pneus – durando 34 minutos. Isso fez com que a disputa, prevista para 268 voltas, passasse ao relógio, para atingir o limite de 8h.

Não obstante, uma tempestade aproximou-se rapidamente da pista e mais tarde provocou outras duas interrupções por bandeira vermelha. A direção de prova achou que já era o suficiente e a corrida foi declarada encerrada antes do limite máximo, com 7h15min, descontando meia hora de uma das paralisações.

O acidente ofertou à Glickenhaus, correndo em casa, um pódio com Romain Dumas/Ryan Briscoe/Olivier Pla – que escaparam de uma penalização por uma suposta irregularidade num dos pit stops. O Hypercar do time estadunidense igualou o resultado obtido em Monza ano passado por Dumas, Franck Mailleux e Richard Westbrook.

Na LMP2, a United Autosports mirou no que viu e acertou no que não viu: a estratégia não deu certo para um dos carros, mas para o outro de seus protótipos, sim – vitória de Paul Di Resta/Oliver Jarvis/Josh Pierson – que estreou com o pé direito: o moleque de 16 anos é oficialmente o vencedor mais jovem da história do Mundial de Endurance nesta última década.

O resultado corrigido após a interrupção final acabou tirando do Prema Orlen Team um póio meritório numa excelente estreia do time italiano com Robert Kubica/Lorenzo Colombo/Louis Déletraz. Acabou valendo a volta anterior e, por isso, a equipe belga WRT ficou em segundo com Robin Frijns/Sean Gelael/René Rast – numa corrida excelente de recuperação após um início difícil – e o 3º lugar foi da RealTeam com Rui Andrade/Norman Nato/Ferdinand Von Habsburg.

Isso também tirou o Team Penske do top 10 geral, deixando a equipe estadunidense do Capitão Roger em 11º na geral e oitavo na LMP2, com Felipe Nasr/Manu Collard/Dane Cameron. A AF Corse, que também estreia na categoria neste ano, venceu na LMP2 Pro-Am com Nicklas Nielsen/François Perrodo/Alessio Rovera.

Multicampeão do WRC, Sébastien Ogier teve uma estreia discreta e de aprendizagem a bordo do #1 da Richard Mille Racing. Ele, a novata Lilou Wadoux e Charles Milesi perderam três voltas em relação aos ponteiros da classe e completaram a prova em 15º na geral – 12º na categoria.

A Porsche confirmou o domínio nos treinos e, numa batalha campal contra o Corvette de Nick Tandy/Tommy Milner, venceu na LMGTE-PRO mesmo após uma penalização de 15 segundos por desrespeito ao procedimento de largada. A estratégia e as bandeiras vermelhas ajudaram e o dueto Kévin Estre/Michael Christensen prevaleceu, com Gianmaria Bruni/Richard Lietz completando o pódio.

As Ferrari da AF Corse foram meras coadjuvantes em Sebring e com total falta de ritmo em relação às adversárias, se contentaram em coletar pontos – que mais para a frente podem ser importantes na batalha pelo campeonato – lembrando que por ser uma disputa de 8h estavam em jogo 39 pontos no máximo – 38 pela vitória mais um da pole position.

E na LMGTE-AM, os Aston Martin privados foram dominantes na grande maioria da disputa, com boas performances de alguns Porsches – especialmente o #56 do Team Project 1. Mas prevaleceu o #98 da NorthWest AMR com Paul Dalla Lana/David Pittard/Nicki Thiim, coadjuvado no pódio por Ben Keating/Marco Sörensen/Florian Latorre e Brendan Iribe/Ollie Millroy/Ben Barnicoat.

Em sólida performance com a melhor Ferrari da classe, as Iron Dames formadas por Sarah Bovy/Michelle Gätting/Rahel Frey se destacaram ao obter o 5º lugar – melhor resultado da equipe feminina no WEC até hoje. Elas foram superiores a prova inteira em relação aos demais carros do construtor de Maranello, mesmo contando nas trincas com excelentes pilotos feito Toni Vilander, Nick Cassidy e o veterano de batalhas Giancarlo Fisichella, com vários anos de Fórmula 1 no currículo.

A próxima prova do WEC será as 6h de Spa-Francorchamps, no remodelado circuito belga, que apresentará dezenas de novidades quanto á segurança do circuito. A corrida, preparatória para as 24h de Le Mans, acontece num sábado, 7 de maio.

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