24 Horas de Daytona: o bi da Meyer-Shank Racing na abertura da ‘nova era’ do Endurance – e o tri seguido de Castroneves

RIO DE JANEIRO – Foi uma corrida de superlativos. Grid cheio com 61 carros, cinco categorias presentes, grandes pilotos e performances, público excelente e o início da nova era do Endurance não poderia ser melhor. As 24 Horas de Daytona corresponderam às expectativas – talvez até mesmo as superando, principalmente com relação aos novos modelos enquadrados no regulamento LMDh e a ‘nova’ classe GTP – uma nomenclatura já existente no passado.

O temor era que os carros em sua maioria sucumbissem como aconteceu aos Daytona Prototypes quando introduzidos em 2003 na extinta Rolex Grand-Am Sports Car Series, mas isto não aconteceu – de todo. Talvez o resultado mostre que Porsche e BMW ficaram mais abaixo – e todas, inclusive Acura e Cadillac, tiveram problemas.

Nem os vencedores escaparam: mais de uma vez tiveram de repor óleo da caixa de câmbio, que funciona também no sistema híbrido para esses novos protótipos do regulamento de convergência ACO/FIA e IMSA. Tirando esses sustos e também uma rodada após uma relargada, a Meyer-Shank Racing levou seu segundo caneco consecutivo na Flórida e se tornou a primeira vencedora dentro do novo regulamento, com o quarteto formado por Tom Blomqvist/Colin Braun/Helio Castroneves/Simon Pagenaud.

Fácil, não foi. A ultrapassagem decisiva aconteceu na 21ª hora, com Simon Pagenaud a bordo, superando o compatriota e rival da Cadillac-Ganassi Sébastien Bourdais. A equipe optou por deixar Tom Blomqvist para o turno final e o britânico deu um show de pilotagem. Guiou muito. Possivelmente, o maior nome do fim de semana – justificando a permanência na equipe após o título do ano passado.

Essa conquista da MSR foi também um prêmio para Helio Castroneves, que em 61 edições de provas longas em Daytona torna-se o primeiro piloto a triunfar nas 24 Horas em três vezes consecutivas – nem Hurley Haywood ou Scott Pruett, os mais vitoriosos da história, com cinco conquistas, alcançaram tal feito. Na pista, só o “Homem-Aranha” poderia fazê-lo e outros queriam também o terceiro Rolex. Não foi possível porque a MSR não deixou e os demais equipamentos também não colaboraram.

A Acura fez 1-2 e a Wayne Taylor Racing, que se fingiu de morta e de manhã chegou a ficar duas voltas atrás, foi beneficiada pelas regras da IMSA que, em bandeiras amarelas, deixam os retardatários recuperar voltas. Esse ‘jeito Nascar’ pode não ser bom para o resto do mundo, mas o espetáculo é deles, as regras são deles e eles fazem do jeito que acham mais conveniente. Se é pra dar emoção, que seja com emoção.

Mesmo derrotada, a Cadillac ficou contente com a confiabilidade mecânica do seu protótipo V-LMDh, o único com motor aspirado do plantel com seu bloco V8 5,5 litros. Em que pese uma falha de câmbio no carro #31 da Whelen Engineering Racing-AX Racing, do brasileiro Pipo Derani, o saldo é muito positivo.

A BMW tirou lições valiosas com um carro que é belíssimo (na minha opinião), mas que ainda não teve ritmo para brigar na frente. Quando a corrida passou da metade, até alcançaram um encorajador 4º posto. Mas o carro #24 do brasileiro Augusto Farfus enfrentou problemas de parte elétrica – e em menor escala que o outro M Hybrid V8, é verdade – mas atrasou-se e perdeu qualquer chance de um resultado mais razoável.

O saldo também não foi bom para a Porsche Penske Motorsport: o carro de Felipe Nasr teve falhas do sistema híbrido e elétrica, perdendo 34 voltas no total e terminando em 7º na categoria. O outro 963 LMDh falhou em terminar a disputa por quebra de câmbio, ficando fora após pouco mais de 21h cumpridas – mas com mais voltas que a BMW #25, que foi à nocaute logo na primeira hora com uma falha no MGU do protótipo e nunca mais conseguiram se recuperar.

Na LMP2, a alternância de lideranças deu a tônica da corrida com pelo menos seis carros diferentes ocupando o topo da classificação. Num final épico, para entrar nos compêndios de Daytona, a estreante – em protótipos, bem entendido – Proton Competition deu o bote final para derrotar a Crowdstrike Racing w/APR por DEZESSEIS milésimos de segundo (olhem só a foto aqui acima…).

sso mesmo, 0″016 ao cabo de 761 voltas cumpridas pelos melhores carros da divisão. 

Um resultado surpreendente para o carro que se acidentou duas vezes nos treinos, incluindo a qualificação e os treinos livres da semana, largou de último da classe e teve uma belíssima recompensa para James Allen/Fred Poordad/Gianmaria Bruni/Francesco Pizzi.

AF Corse e TDS Racing conseguiram resultados dignos com a 3ª e 4ª colocações, também na mesma volta dos dois primeiros. Impressionante, porém, foi o incrível 5º lugar na classe alcançado pela Tower Motorsports, que perdeu nove voltas logo no início, veio de último e se recuperou – graças às amarelas e um ritmo avassalador dos “Bus Brothers” da Fórmula Indy Scott McLaughlin e Josef Newgarden, que se divertiram fazendo misérias com o carro #8.

Pietro Fittipaldi teve uma corrida atribulada: a Rick Ware Racing estreava o protótipo Oreca 07 nesse evento e o time enfrentou problemas de falta de ritmo do piloto bronze Eric Lux, um ritmo abaixo do esperado de Austin Cindric, além de problemas de freio e furo de pneu. Pietro e Devlin DeFrancesco se esforçaram ao máximo em seus turnos, mas a equipe não terminaria além do 6º posto na classe e em 12º na geral – e menos mal que para essa divisão e para a LMP3, a prova só valeu para o IMSA Michelin Endurance Cup.

Por falar em LMP3, a categoria foi constrangedora com a falta de confiabilidade de seus carros. Quatro dos nove inscritos não viram a quadriculada – inclusive o carro de Felipe Fraga, que nem andou por quebra de motor com Gar Robinson a bordo  – e o vencedor foi o Duqueine da AWA guiado por Thomas Merrill/Nico Varrone/Wayne Boyd/Anthony Mantella, sem nenhuma concorrência depois que a Sean Creech Motorsports enfrentou problemas técnicos e perdeu várias voltas – descontou algumas, mas acabou batido por onze voltas. A Performance Tech Motorsports, após várias dificuldades, ainda salvou o pódio.

Entre os GTD PRO e GTD, a The Heart of Racing surpreendeu com um carro de tripulação aparentemente Pro-Am e ganhou de todo mundo: venceu o #27 de Marco Sörensen/Darren Turner/Ian James/Roman de Angelis numa atuação exemplar do quarteto, batendo as Mercedes-AMG que dominaram quase a corrida inteira naquela divisão e sucumbiram.

Os carros do construtor de Gatwick fizeram 1-2, pois a Magnus Racing, graças ao trabalho de Nicki Thiim/John Potter/Andy Lally/Spencer Pumpelly alcançou o segundo posto, à frente do surpreendente McLaren 720S GT3 da Inception, guiado por Brendan Iribe/Ollie Millroy/Frëderik Schandorff/Marvin Kirchhöfer.

Digno de registro foi o 4º lugar da Gradient Racing, escuderia de Sheena Monk e Katherine Legge e a sexta colocação do outro Acura NSX-GT3 EVO22 guiado por outra mulher, Ashton Harrison-Leigh. As Iron Dames tiveram uma estreia atribulada a bordo do novo ‘brinquedo’, o Lamborghini Huracán GT3 EVO2 e terminaram em 18º na categoria  – últimas da classe a ver a quadriculada pelo total de voltas percorridas na pista. Faz parte…

O que decepcionou mesmo foi a falta de ritmo dos novos carros – o Porsche 911 GT3-R (992) e a Ferrari 296 GT3, amplamente prejudicados pelo BoP dos comissários técnicos da IMSA para este evento. Chegou a ser covardia o ritmo de prova desses modelos e a única Ferrari que chegou ao fim foi a da Triarsi Competizione, 10ª colocada da divisão, atrás do Porsche da Wright Motorsports.

O construtor alemão ainda viu – Deus sabe como! – o carro GTD PRO da Pfaff Motorsports, atual campeã, chegar em 5º na divisão porque houve quebras, óbvio e também havia dois carros com pilotos bronze e prata na tripulação que não tinham ritmo contra os profissionais do time canadense.

Na frente, prevaleceu a Weathertech Racing com o Mercedes-AMG tripulado por Dani Juncadella/Jules Gounon/Maro Engel/Cooper MacNeil – na despedida deste das pistas, após batalha campal contra o Lexus RC-F da Vasser Sullivan que tinha o piloto da Toyota do WEC Mike Conway, além do Corvette C8.R GTD que inicia seu “tour” de despedida das pistas.

A Iron Lynx conquistou um discreto 4º lugar na estreia de Romain Grosjean nas 24 Horas de Daytona como piloto da Lamborghini. Tirante isso, a destacar que a The Heart of Racing também poderia ter ganho na GTD PRO e a Risi Competizione, do brasileiro Daniel Serra, saiu da disputa por conta de uma falha no assoalho da 296 GT3 do time de Houston.

Agora, se vocês leitoras e leitores me permitem, uma palavrinha final sobre Helio Castroneves:

Qualquer um que disser que o “Homem-Aranha” não está no Olimpo do Automobilismo brasileiro e mundial nada sabe. Quem chama Helinho de ‘perdedor’ não sabe o que diz. A palavra vitória é sinônimo de Castroneves – pombas!, o cara tem três 24 Horas de Daytona seguidas no currículo, três Rolex com caixa de aço escovado na coleção , e quatro anéis de campeão da maior prova dos EUA, as 500 Milhas de Indianápolis – e tem gente que acha pouco?

Me perdoem os demais. Sei que posso e vou ferir alguns egos. Mas após a Santíssima Trindade – sem ordem pré-estabelecida, ok? – Fittipaldi, Piquet e Senna – é Helio perto, bem perto deles.

E não se fala mais nisso.

Comentários

  • O Helinho tem que ser colocado na mesma prateleira de ícones do Automobilismo, como por exemplo, um Tom Kristensen, um Loeb, e por aí vai. Forte Abraço!!!

  • Rodrigo me perdoe, mas acho Helinho mais piloto até que alguns dos nomes da sua trindade ali.. kkk
    fez e faz historia..
    no que tange 500 milhas é o melhor dos melhores, e ainda tem mais gás, e no que tange prototipo de longa duração ta ai as 24 de daytona pra provar que guia muito

  • Incrível como o Helio parece um vinho: seus melhores resultados vem surgindo com o avanço da sua idade.
    Ainda não acho que ele esteja p´róximo da Santíssima Trindade, eu por exemplo, coloco Gil de Ferran, Barrichello, Massa, Zonta acima dele na prateleira (especialmente pelos títulos). Mas, como o homem segue acelerando sem sinais de aposentadoria, sabe-se lá até onde chegará.

  • 2 coisas sobre o resultado da prova:

    1:Espero que a Honda repense a estratégia de manter o carro apenas no Imsa,tem potencial de sobra pra Le Mans

    2:Hélio Castroneves:Muitos de nós Brasileiros valorizamos títulos,mas esquecemos o quão significativo e difícil ganhar uma prova de 24h,500 milhas,e o Hélio fez isso ,nas 24h de Daytona,3 vezes seguidas!!!!(vale lembra a surra que ele deu no Ricky Taylor no último Stint da prova do ano passado),fora as 500 milhas que por si só assombra.

    Difícil comparar com o passado,mas hoje sem duvida e o que mais trás resultados ,merece o título de lenda até pela idade ,o que parece que só o torna melhor

    • Robson, a Honda ou a Acura já tomaram a decisão de não estar em Le Mans em 2023. Isso pode ser repensado para 2024.

      O projeto do motor partiu do zero. De tela em branco. O foco de investimentos e desenvolvimento é no IMSA este ano.

  • Depois do Saudosas Pequenas, poderia vir o Queridos Gigantes, ranqueando os bons pilotos brasileiros.

    Não consigo imaginar quem não veja valor no Helio Castro Neves: a carreira e os resultados estão aí.

    Ser multi campeão de F1, coisa que Emerson, Nelson e Ayrton conseguiram, é um patamar superior.

    Tetra nas 500 Milhas? Tri em Daytona? Putzgrila é patamar superior!

    Ter um só título na F1 não seria grande coisa (Schecketer e Alan Jones estão aí para provar). Vitórias na F1 é bacana, mas não leva ao olimpo.

    Queridos Gigantes seria um projeto bacana para a Mattar Productions, que, além do blog, faz transmissões ao vivo, edita livros, tem programa semanal e tudo o mais.

    Muito obrigado pela cobertura multimidia de Daytona!