A busca desenfreada da santificação

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RIO DE JANEIRO – Eu prometi a mim mesmo que não falaria absolutamente nada no blog sobre Ayrton Senna e os 20 anos de sua morte. Mas é impossível ficar calado diante de algo que se comentou neste dia 1º de maio.

Na busca desenfreada da santificação do piloto brasileiro como o maior piloto da história, capaz de operar milagres e coisas que até Deus duvidava, chamou-se a Toleman, num canal de televisão a cabo, de “a pior das equipes pequenas” na temporada de 1984.

Quem acompanhou a história da Toleman aqui, aqui e aqui sabe muito bem que não é assim.

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Toleman TG280 Hart de Fórmula 2 guiado por Siegfried Stohr e alinhado pela equipe Docking & Spitzley. O piloto venceu em Enna-Pergusa numa temporada amplamente dominada pelos carros do construtor britânico: seis vitórias em 12 possíveis

A equipe não surgiu do nada. Começou por baixo, fez Fórmula Ford, Fórmula 3 e Fórmula 2. Encontrou em Brian Hart, um artesão dos motores, um parceiro criativo, mas sem dinheiro. Foi uma escuderia que cresceu na Fórmula 1: fez um ano difícil de aprendizado, melhorou bastante no segundo e conquistou os primeiros pontos no terceiro.

Até que Ayrton Senna estreou pelo time de Alex Hawkridge, cujo desenhista dos carros era um certo Rory Byrne.

Se a Toleman era “a pior das equipes pequenas”, pergunto:

O que eram, então, RAM, Spirit, Osella, ATS, Toleman e Arrows? Sem contar Ligier e Alfa Romeo, que mesmo com apoio de fabricantes de alto nível, estavam em má fase na Fórmula 1. Excluo a Tyrrell, única com motor Cosworth, que acabou eliminada daquele campeonato de 1984 por irregularidades técnicas, mas que – convenhamos – não era equipe grande fazia tempo.

A tabela do Mundial de Construtores não me faz deixar mentir: a Toleman terminou o campeonato em 7º lugar, com 16 pontos. A Alfa Romeo veio logo depois, com onze, seguida da Arrows (seis), Ligier (três) e Osella (dois). ATS, Spirit e RAM não marcaram nada.

1984 F1 British Grand Prix
A Toleman tinha tanto potencial que acabou absorvida pela Benetton

Não caiam nesse conto de que a Toleman era tão ruim assim. Isso é um subterfúgio para mitificar ainda mais os feitos de Ayrton Senna. Sabemos que o brasileiro fez coisas extraordinárias com o carro – cujo chassi era, reconhecidamente, muito bom. Não a cadeira elétrica que uma meia dúzia acha que era. Sabemos que Ayrton fez três pódios, fruto de seu talento.

Mas não exageremos na santificação. Ayrton, aliás, não precisa disso.

E aliás, a Toleman tinha tanto potencial que foi comprada pela Benetton e o resto da história, todo mundo conhece.

Comentários

  • O canal citado, SporTV, também mostrou as imagens das 20.000 pessoas que foram hoje em Imola, entre elas Gerard Berger e Fernando Alonso. Assisti ao programa, uma edição comemorativa do Linha de Chegada com duração maior que a usual com Reginaldo Leme, Galvão Bueno e um jornalista que produziu documentário sobre Senna. Disseram que o programa era ao vivo no autódromo de Interlagos. Lembro ter ouvido que o carro era uma carroça durante o programa, e que não tinha direção hidráulica como os carros de outras equipes. Se minha memória estiver certa, nenhum F-1 da época tinha direção hidráulica. Mostraram imagens de Senna no ambulatório do GP da Africa do Sul de 1984 , deitado tomando soro e com o pescoço imobilizado após o final da corrida e sua motivação a partir disso em ter preparo físico. Senna costumava enfaixar as mãos com esparadrapo antes das corrida, isso já na Mclaren.

  • Esquece esse monte de babaca que comenta na TV ou escreve sem saber…cada uma…e quanto ao seu post no Face, sobre quem gosta ou nao de F1 ou automobilismo…o compartilhei, pois tenho a mesmissima opiniao. abracos.

  • Acho que vc tem o mesmo dilema que eu em defender a tese da “fatalidade” x “Williams assassina”.
    Por mais que se mostre os acidentes (alguns fatais) do final de semana daquele GP (Barrichello nos treinos, Ratzenberger tb nos treinos e o Senna durante a prova), além do Piquet (nos treinos de 1987), Gerhard Berger (durante a prova em 1989) e Patrese (nos treinos de 1992), pra citar os principais,……..há pessoas que, em defesa do princípio da culpabilidade, sempre se apegarão à “teoria da conspiração”.

    Assisto F1 desde 11/12 anos.
    Minha admiração sempre foi às equipes, em que pese a coragem dos pilotos, cujo atributo ressalto Gilles Villeneuve, o qual mais simpatizei até hoje.
    A Ligier se foi.
    A Williams, quase, naquele pós-episódio de 1994, deixando-me quase órfão.
    E já perdi as contas de quantas vezes me provocaram e tentei explicar que foi uma fatalidade, apesar das estatísticas e dos relatos sobre os fatos estarem disponíveis pra todo mundo ver, ler e assistir.

    Dizem que o amor é cego e a paixão é surda.
    Quando se trata de devoção, é melhor não perder tempo com quem está nesse “estado”.

  • Rodrigo,perfeito seu relato.Relato de profissional,não daquele torcedor quê só começou a assistir a F1 por causa do Ayrton,principalmente quando ele começou a ganhar,e depois quê ele morreu não assiste mais as corridas.O Toleman realmente não era um carro de ponta,mas não era uma um carro ruim não.Ayrton era bom sim mas falar quê ele era o melhor de todos já tem uma diferença muito grande.Acredito quê se ele fosse vivo nem ele aceitaria isso.A F1 não mudou porquê o Ayrton morreu,(até isso tive quê ler)ela mudou desde quê o primeiro piloto morreu,e foi aprimorando-se desde então,com a tecnologia é claro de cada época.Ainda bem quê você abordou sobre esse assunto,e tem muito mais dessas falácias por aí.

    • Renato, só discordo da parte em que voce diz que “se ele fosse vivo, nem ele aceitaria Isso” (que era o melhor de todos. Na verdade se achar o melhor de todos fazia parte de sua personalidade, e fica claro que ele pensava assim em diversas entrevistas dele.

      • Com certeza sua observação procede,mas só quê na nossa vida,nós temos de nos achar o bom,se agente não achar quem vai achar? Só há desvios de conduta,no caminho dele,talvez por viverem num mundo competitivo,os pilotos são assim e as vezes perdem a noção e vira megalomania.

  • Rodrigo Mattar, li em algum lugar em que consideravam a Toleman TG 184 um dos melhores chassis daquela temporada e que, se tivessem corrido com motor BMW ou Renault, certamente estariam na briga por vitórias. Enfim, era uma equipe em franca ascensão.

  • Perfeito, mais uma vez!!’
    PelamordeDeus!!!!
    Daqui a pouco vão propor a beatificação do mesmo junto ao Vaticano!!
    E dizer que o TG184 era uma carroça. . .falaséééério!!
    Foi tido desde sempre como um dos melhores chassis do ano!!
    É o desespero desenfreado da “mídia oficial” no intuito da eternização da memória do “ídolo”!!
    Prá finalizar, polemizando:
    #elenãomerepresentacomoídoloprontofalei!!!
    Abraço.
    Zé Maria

  • Rodrigo, como você já sabe, através dos meus relatos de longa data em diversas redes sociais, sou um tremendo fanático pelo Nelsão e por isso mesmo minha alegria foi imensa ao rever a vitória no GP do Brasil de 1986 (com o AS completando a dobradinha brasileira). Dito isso, gostaria de ir ao contrário e comentar algo que eu sei que deve ter passado batido nesse debate que ocorreu no meio dia: na entrevista coletiva com o Luiz Fernando Lima o AS segurou o quanto pôde mas acabou chorando de maneira espontânea e verdadeira. Melhor que tentar endeusar e inventar mil uma façanhas sobre o sujeito melhor concentrar os relatos em momentos como esse que valem muito mais que supostos milagres ocorridos dentro da pista. Abraços.

  • A ironia do destino foi que a equipe que ele começou a carreira (claro que com outro nome) se tornaria a sua adversária no fim de sua carreira. Como a vida é cheia de ironias?

  • Eu só gostaria de saber ,será que “los hermanos” que devem ser tão entendidos em automobilismo quanto vocês, também depreciam e desqualificam a capacidade de Fangio como piloto só porque sempre correu com o melhor equipamento do momento,como alguns brasileiros tentam fazer com Senna.É triste saber que num automobilismo decadente e muito mal representado na F1 neste últimos 20 anos(não por falta de bons pilotos ,mas falta de pilotos com personalidade vencedora).tenha gente deste “nível”.que tentam minimizar grandes feitos de patrícios em detrimento a ídolos estrangeiros(complexo de vira latas ou alguma outra frustração maior?).Más isto é próprio do brasileiro desde antes de Santos Dumont ou mesmo Bartolomeu de Gusmão em que pessoas genias ou extremamente competentes para serem reconhecidas tinham que ir para um país onde formação e cultura eram melhores. Que esperar de um povo que trata um bom jogador de futebol por GÊNIO e um dedicado pesquisador cientifico de LOUCO.
    Para mim é uma pena,que a admiração que tinha pelo jornalista tenha terminado em uma grande decepção pela infelicidade da redação da matéria(no meu entendimento),e você sabe que “Formula Um”,nem de longe é o automobilismo que gosto,mas sou brasileiro e acho que os poucos ídolos nacionais tem de ser respeitados.Principalmente neste esporte que esta sem nenhum grande nome no momento para futuras gerações se espelharem,porque os últimos dois ex segundos pilotos da equipe de Maranello ,não servem para modelo de “Campeões”.Que é o que o esporte necessita e tende a se tornar muito insignificante se não surgir um piloto que volte a ter o brilho dos ex campeões,e a sua matéria não ajudou em nada ! E não ha necessidade de resposta pois não irei ler a sua réplica ou qualquer outra coisa doravante. Obrigado pelas excelentes matérias que lia sobre o “Endurance”.Passar muito bem!

    • A minha matéria não ajudou em nada? Ela não tem nada a ver com o Senna. Tem a ver com uma mentira que foi contada sobre a Toleman. Você tem certeza que a leu direito, do começo ao fim? Interpretação de texto… foi algo que você teve nas aulas de língua portuguesa? Pense nisso.

      PS.: passar muito bem também.

  • Ao amigo Luiz Alberto … Só pq o Rodrigo tem uma opinião BASEADA EM FATOS REAIS que vai de encontro a sua agora ele está desqualificando o Ayrton.Não vi isso em NENHUMA LINHA DO TEXTO,ele apenas está comentando que o cara guiava muito sim,e que o Toleman não era NEM DE LONGE esse lixo todo que dizem…Se não entendeu o que leu paciência….

    • Perfeito Ricardo, embora o excelente texto do Rodrigo não necessitasse de explicações. Mas é incrível como qualquer tentativa que se faça no sentido de colocar a historia no rumo adequado soe para a grande maioria dos brasileiros (muitos dos quais nem sabem direito o que é pilotagem de competição) como “uma grande ofensa a memoria do campeão”. A grande maioria deles nem sabe quem foi Clark – muito menos sabem que ele foi o exemplo e idolo do Ayrton – nunca viu Peterson pilotando, nem Stewart, nem Villeneuve. Talvez nem mesmo tenham visto o Emerson e o Moco !

      Se alguém comentar que o o AS foi o precursor da fechadas de porta, dançando nas retas pra evitar ultrapassagens, se disser que ele ficou a 2 segundos de Piquet no treino que fez com a Brabham BT-52 e ficou até atras do Mauto Baldi com o mesmo dia com o mesmo carro, se disser que na estreia do Mika Hakkinen na McLaren o Mika classificou na frente dele, ou outras verdades desse tipo, esse alguém estará querendo “empanar a memoria do idolo” e não simplesmente falar a verdade. Assim como fez a pessoa ai acima, que tentou crucificar o Rodrigo, por uma coisa que ele absolutamente não disse !

      Antonio

      • Senhor Antonio os 2 são arrogantes…O Senna sempre respeitou o Piquet nas entrevistas, mas pelas costas contestava a capacidade técnica dele, aquilo que o Leme diz é verdade, o Senna achava que ele era o melhor piloto e que perdia por causa da Lotus, segundo ele uma equipe sem os recursos da McLaren, Williams e Ferrari e em conversas fora do microfone Senna dizia: que só Prost era páreo para ele, se os carros fossem iguais. Já Piquet falava muito mal do Senna nas entrevistas “não sou pato” quando ele ganhou S. Marinho, quando ele ultrapassou o Senna na Hungria em 86 ele disse eu resolvi mostrar a minha superioridade sobre ele, ou que o Senna não gosta de mulheres, que não sabe acertar o carro. São várias piadinhas, algumas de mau gosto outras legais, Mas por incrível que pareca, Piquet fora dos microfones respeitava muito o Senna, dizia que o cara era muito forte…segundo o Piquet o Senna era fanático por F1 e por isto potencialmente o melhor, mas tinha alguns defeitos de personalidade, eu gostaria de fazer a cabeça dele.

  • Entendemos o seu ponto.
    Mas achei que veria um grande post sobre o Senna ontem, faltou mesmo.
    Qual a razão de não postar nada sobre o Ayrton?
    Gde Abs

  • Para uma equipe sem dinheiro, a Toleman sempre fez bons carros e o Brian Hart bons motores. E mesmo sem o Senna, chegou a andar em segundo em Brands Hatch em 82, mandou bem em 83 e fez pole em 85. E o Hart fazia motores sem associação a nenhum fabricante, não era uma forma de vitrine ou propaganda, era automobilismo puro.

  • Parabens pelo site. Coisa de quem conhece. Só não gosto dessa postura de desvalorizar um idolo que é reconhecido por muita gente fora do Brasil como o maior (ou um dos maiores) pilotos de todos os tempos? Pra que isso? Pra compensar o “injustiçado Nelson Piquet”, que deveria ter o mesmo reconhecimento?

    É óbvio que a Toleman era uma equipe menor e Senna fez a equipe brilhar. Vamos aos argumentos:
    1) Dos 16 pontos que colocaram a Toleman na honrosa 7a posicao de 1984, 13 vieram do talento de Senna. Os outros tres pontos vieram de Johansson em Monza (quando Senna não correu porque foi punido pela equipe) em uma prova com vários abandonos e que até Osella e ATS pontuaram…
    2) Equipe em ascensão? Em 1985, sem Senna, não marcaram pontos
    3) Em apenas três provas e contra adversários reforçados, Senna fez mais pontos com o carro de 1983 do que Giacomelli em toda temporada de 1983
    4) Na temporada, Senna pontuou em todas provas que terminou, com exceção do Canadá (ficou em sétimo…)

    Em resumo, a Toleman era uma equipe menor, com um carro bem projetado, porém um motor inferior e poucos recursos financeiros para desenvolvimento. Não era um carro ruim. Era provavelmente o sétimo melhor carro do grid (atrás de McLaren, Ferrari, Brabham, Williams, Lotus e Renault), o que colocaria sempre 12 pilotos em melhores condições do que Senna em cada prova. Mesmo assim, metade das vezes em que o carro aguentou a prova, ele colocou-o no pódio.

    Parem de tentar diminuir Senna para fazer o piloto favorito parecer grande! Ambos são grandes

    • Fernando, só um esclarecimento:

      Em 1986, sem Senna, mas com o nome Benetton e com motores BMW, venceram provas e conquistaram pole positions.

      Então, a Toleman, absorvida pela confecção, era sim uma equipe ascendente. Em 1983 já havia demonstrado isso, em 1984 também.

      No ano seguinte, a Toleman fez pole com Teo Fabi e só entrou no campeonato a partir do GP de Mônaco, por falta de pneus.

      Não estamos aqui tentando diminuir Senna. Pelo contrário. Apenas mostrando que as coisas nem sempre são como muitos querem.

      E sim, Piquet é tão gigante quanto Ayrton.

      Obrigado pelo comentário. Volte sempre!

  • Toleman era un gran equipo, lo seguí desde sus años de F2 con Rad Dougall pilotando un March 782. Luego vino el Ralt RT3 y el primer Toleman: TG280, una maravilla. Si hubiera sido el peor, Benetton no hubiera puesto un solo dólar para adquirirlo.
    Abrazo.