A Mil por Hora
Fórmula 1

Bom senso!

RIO DE JANEIRO – Até que enfim a FIA e a Fórmula 1 deram uma dentro. Max Verstappen, com merecimento, conquistou a primeira vitória de um piloto que não fosse da Mercedes-Benz neste ano – e também a primeira do motor Honda na categoria em quase 13 anos. Desde o longínquo 2006 que o construtor […]

Austrian Grand Prix, Red Bull Ring 27 - 30 June 2019

RIO DE JANEIRO – Até que enfim a FIA e a Fórmula 1 deram uma dentro. Max Verstappen, com merecimento, conquistou a primeira vitória de um piloto que não fosse da Mercedes-Benz neste ano – e também a primeira do motor Honda na categoria em quase 13 anos.

Desde o longínquo 2006 que o construtor nipônico não via um carro com seus propulsores cruzando a linha final à frente da concorrência – na oportunidade, Jenson Button triunfou no Hungaroring, na Hungria, com um carro da própria Honda, que adquirira a British American Racing.

E precisou ser numa corrida que, felizmente, lavou a alma depois do horroroso GP da França. Eu estava em preparação para a transmissão das 6h de Watkins Glen pela IMSA, mas assistindo pelo aplicativo do celular, achei que o GP da Áustria foi muito mais interessante e movimentado que a corrida anterior. Só as primeiras voltas valeram o ingresso: Verstappen dormiu ao partir da primeira fila junto ao pole position Charles Leclerc e caiu para sétimo. Outros, em contrapartida, largaram bem – Lando Norris e Kimi Räikkönen, especialmente.

Com equipamento superior a estes acima citados, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, além de Verstappen (óbvio), fizeram várias ultrapassagens e a corrida parecia tomar um rumo já bastante diferente do que vínhamos vendo nas oito primeiras etapas da temporada (pelo resultado, já que o GP do Canadá teve Vettel cruzando na ponta), a partir do momento em que Charles Leclerc assumiu a liderança novamente na 32ª volta.

Mas havia alguém que pensava diferente e esse alguém era Max Verstappen, cuja presença arrastou uma multidão vestindo laranja ao Red Bull Ring.

O holandês nunca deixou de acreditar que fosse possível chegar à vitória e ao superar a Mercedes de Valtteri Bottas na 56ª volta, iniciou a caça ao monegasco da Ferrari. Que cometeu um erro que não deveria: deixou a porta da sacristia aberta e Max, por dentro, executou a manobra de ultrapassagem.

Verstappen não tomou conhecimento do adversário e cruzou a linha final para delírio completo de seus compatriotas, que comemoraram nas arquibancadas como se fosse um gol da Laranja Mecânica numa Copa do Mundo. Além da vitória, sexta da carreira, a joia da Red Bull “copou” ao marcar também a melhor volta.

A manobra suscitou dúvidas e protestos. Foi legal? Não foi legal?

O que ficou claro é que Leclerc jamais deveria ter permitido ao rival uma manobra como aquela. E Verstappen fez o que qualquer piloto, nas mesmas circunstâncias, faria. Mergulhou por dentro e ‘espalhou’ a trajetória para não dar hipóteses ao ferrarista. Desde que o mundo é mundo, no automobilismo é assim.

Leclerc ficou de tromba no pódio, a Ferrari protestou, et cetera e tal. Mas no fim das contas, prevaleceu o bom senso – que faltou à FIA no GP do Canadá, quando deveria ter agido como agiu hoje na Áustria. Vettel não deveria ter sido punido. E nem Verstappen, hoje.

A polêmica demorou algumas horas e Max teve o triunfo enfim confirmado, numa atitude digna e correta dos comissários esportivos. Se o holandês tivesse seu triunfo cassado, era melhor desistirmos de vez da Fórmula 1 e procurar outra categoria para acompanhar.

O mais legal é que, depois de 10 provas seguidas, a Mercedes teve sua invencibilidade perdida e a própria equipe do construtor de Stuttgart, em momento algum, teve chance de discutir a vitória. Lewis Hamilton teve seu pior resultado do ano e Valtteri Bottas, outra vez, não mostrou estofo de campeão.

O GP da Áustria, em que todos os 20 pilotos terminaram, deixou bem claro que dos times de ponta, só há cinco pilotos capazes de tentar andar juntos – Pierre Gasly teve mais uma atuação vergonhosa. E o resto foi o resto: mas nesse ‘resto’, a McLaren tem mostrado grandes progressos.

Lando Norris repetiu o 6º lugar conquistado logo em sua segunda prova, no Bahrein e Carlos Sainz, saindo do fundo do pelotão, ainda foi oitavo. Pela terceira vez, os dois pilotos pontuaram juntos e os bólidos de cor laranja chegaram no top 10 pela sétima corrida. Com isso, no Mundial de Construtores, a equipe de Zak Brown se consolida como a quarta força do campeonato.

A Alfa Romeo, após alguns contratempos, respira: Kimi Räikkönen chegou entre os dez primeiros pela sexta vez em nove etapas e Antonio Giovinazzi tornou-se não só o 342º nome na história a pontuar em pelo menos uma etapa, como também o primeiro italiano a figurar na zona de pontos no Mundial de Fórmula 1 desde 24 de outubro de 2010, quando Vitantonio Liuzzi, então na Force India, terminou o GP da Coreia do Sul daquele ano em 6º lugar.

E para algunas escuderias, o GP da Áustria só comprovou a incompetência – vide Renault, Racing Point e, principalmente, Haas – com um carro ok de classificação e simplesmente pavoroso em ritmo de corrida. Kevin Magnussen e Romain Grosjean provam e comprovam que não têm mais condição de figurar no grid da categoria.