A Mil por Hora
Fórmula 1

Faltou bom senso

RIO DE JANEIRO – O GP do Canadá de Fórmula 1 teve um desfecho que, sem dúvida, desagradou enormemente a grande maioria que assistiu à corrida deste domingo realizada em Montreal no Circuito Gilles Villeneuve. Hoje não pôde ser posta para jogo a galhofa de meio mundo que garante que FIA é a sigla para […]

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Esta é a imagem de Vettel à frente de Hamilton após a manobra que deu o que falar neste domingo. E o que os comissários queriam? Gentilezas? Tapete vermelho? Francamente…

RIO DE JANEIRO – O GP do Canadá de Fórmula 1 teve um desfecho que, sem dúvida, desagradou enormemente a grande maioria que assistiu à corrida deste domingo realizada em Montreal no Circuito Gilles Villeneuve.

Hoje não pôde ser posta para jogo a galhofa de meio mundo que garante que FIA é a sigla para Ferrari International Automobile. Porque o que foi feito com a equipe italiana e principalmente Sebastian Vettel beira o absurdo.

Quer dizer: o alemão, pole position, tem uma atuação praticamente perfeita – e por conta de um único erro os comissários desportivos decidem puni-lo com um time penalty de cinco segundos? É inacreditável que o destino do GP do Canadá tenha sido decidido por três cabeças e seis mãos – sendo que uma dessas cabeças é de um antigo piloto da categoria.

Há quem crucifique o italiano Emanuele Pirro pelo ocorrido a Vettel, que deu a Lewis Hamilton mais uma vitória na temporada – o que faz da Mercedes-Benz invicta em sete corridas neste campeonato. Mas é preciso dizer que Pirro não estava sozinho.

É claro que todos os holofotes estavam no homem que disputou duas temporadas e meia na Fórmula 1 e fez seu nome nas 24h de Le Mans, afora outras provas importantes do Endurance mundial. Mas vocês pararam para pensar que ele pode ter sido voto vencido na decisão?

Pode ser que tudo esteja nas mãos do alemão Gerd Remmser e do belga Mathieu Remmerie, que igualmente atuaram como comissários na corrida deste domingo e podem ter levado à risca o artigo 38.1 do Regulamento Desportivo.

De acordo com o comunicado na página da Fórmula 1, o piloto do carro #5 (Vettel) saiu da pista na curva 3 e voltou ao traçado na curva seguinte “de maneira insegura”, forçando o piloto do carro #44 (Hamilton) a sair da pista. De acordo com o mesmo comunicado, Hamilton “fez uma manobra evasiva para evitar a colisão”.

Em primeiro lugar, o que esperavam os egrégios comissários? O traçado do circuito Gilles Villeneuve não possui áreas de escape na altura das curvas 3 e 4. Vettel cometeu um erro, passou pela grama e voltou. Não creio que tenha sido ilegal da parte do alemão e muito menos que ele tenha forçado ao voltar à pista, para cima da Mercedes de Hamilton. Caso eu, que estou opinando neste post, estivesse no papel de comissário, jamais puniria o piloto da Ferrari.

Queriam afinal o que, os senhores Remmser e Remmerie – e talvez Pirro, já que como não sei o voto do piloto-comissário, não posso o isentar de culpa, embora eu tende a acreditar que jamais passou pela cabeça do italiano cogitar a punição ao piloto da Ferrari? Que fosse estendido um tapete vermelho para que Lewis ganhasse a primeira posição?

Fulo da vida – com todos os motivos – Sebastian Vettel perdeu a linha e inverteu as placas de identificação do Parc Fermé: a Ferrari promete recorrer da decisão dos comissários, usando como precedente um incidente semelhante, que por coincidência tinha Lewis Hamilton como uma das personagens

O efeito da celeuma foi o pior possível no pós-prova. Hamilton foi vaiado – injustamente. Vettel, puto da vida – e com toda razão – parou a sua Ferrari num canto qualquer e, para não quebrar o protocolo do pódio, quebrou outro: no Parc Fermé, inverteu as placas de identificação dos dois primeiros colocados.

Entendo a raiva do alemão. Qualquer um que estivesse ali, faria o mesmo. Talvez, até, pior. Quem venceu a corrida, moral e esportivamente, foi ele. Não Hamilton.

Foi uma mancada da FIA e de seus Stewards. A pior decisão, tomada de forma errada, do jeito errado, jogando na lama a credibilidade da Fórmula 1 e também facilitando ainda mais as coisas para Hamilton – que segue líder disparado do campeonato – e para a Mercedes, que sem merecer, segue sem ser derrotada.

Esse foi um fim de semana em que tudo dava certo para a Ferrari – até a grande patacoada dos senhores que, de uma salinha, acham que são semideuses que podem mudar tudo.

Quer dizer que, se os comissários de hoje fossem os mesmos em 1º de julho de 1979, quando Gilles Villeneuve e René Arnoux protagonizaram, com fechadas de porta, totós e tudo o mais que vocês puderem imaginar, uma das maiores batalhas de todos os tempos por uma posição – e nem era a primeira colocação! – ambos sairiam presos do autódromo com focinheira e de carrocinha.

Essa mentalidade de monsieur Jean Todt de punir tudo e todos por um automobilismo “seguro” tira a graça do esporte como conhecemos. Vocês lembram do que já foi feito a Max Verstappen de outras vezes, não é? Agora, mexeram com Vettel e a Ferrari.

Os italianos, aliás, já recorreram da punição e têm um precedente para contra-argumentar: uma manobra bem semelhante a que aconteceu hoje, e numa pista bem mais difícil – Mônaco – envolvendo o próprio Hamilton e também o australiano Daniel Ricciardo, na época na Red Bull.

Esportivamente, foi um domingo triste. Como é que a Fórmula 1 pretende alcançar um público novo se acontece uma situação como esta, justamente num dia onde a então líder invicta do campeonato perderia pela primeira vez, o que daria um novo fôlego à disputa.

Sinceramente, não sei nem o que pensar. E fico por aqui. Afinal, o que mais dizer desta corrida? Qualquer outra análise perde o senso e o sentido.

Não sei se mais do que os comissários da FIA, que também perderam o senso crítico e o sentido de análise numa situação em que, repito, Vettel não teve nenhuma intenção de dolo e Hamilton não tinha o que fazer naquela hora.