A Mil por Hora
Fórmula 1

Pedra 80

RIO DE JANEIRO – Mesmo com um regulamento que permite o domínio escancarado da Mercedes-Benz, hoje o construtor com mais dobradinhas da história da Fórmula 1, a categoria máxima ainda consegue nos encantar e trazer outra boa corrida para o prontuário. O GP da Inglaterra, descontando algumas bobagens proferidas por Galvão Bueno na transmissão do […]

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Para delírio de uma multidão de mais de 150 mil torcedores, Lewis Hamilton comemora a 6ª vitória no GP da Inglaterra com a Union Jack, a bandeira do Reino Unido (Foto: Autosport/Reprodução)

RIO DE JANEIRO – Mesmo com um regulamento que permite o domínio escancarado da Mercedes-Benz, hoje o construtor com mais dobradinhas da história da Fórmula 1, a categoria máxima ainda consegue nos encantar e trazer outra boa corrida para o prontuário.

O GP da Inglaterra, descontando algumas bobagens proferidas por Galvão Bueno na transmissão do Grupo Globo, foi muito bom. Do início ao fim, valeu a pena prestar atenção nas 52 voltas da disputa – em que pese mais uma vitória de Lewis Hamilton, com direito à melhor volta e ponto extra, no último giro, tirando o doce da boca do companheiro Valtteri Bottas.

Vitória esta que o isola como o maior dentre os ganhadores em sua terra natal. E ele não superou dois pilotos qualquer, não. Lewis estava empatado em cinco conquistas com ninguém menos que o “Escocês Voador” Jim Clark e o “Professor” Alain Prost. Só isso. E tudo isso.

Não obstante, o inglês chegou à 80ª vitória da carreira. Marca redondinha, mostrando que a contagem para alcançar Schumacher chega a onze. Aliás, são onze as corridas restantes para o término deste campeonato. É bem difícil que Hamilton iguale o recorde em 2019. Talvez tenhamos que esperar 2020 pela marca histórica que o poderá alçar – se é que já não é – ao posto de maior piloto de sua geração. E até da própria Fórmula 1.

Pois se não dizem isso de Schumacher, por que não falar de Hamilton no mesmo prisma?

Afora a dobradinha dos prateados de Toto Wolff, a corrida foi ótima e os pegas entre Max Verstappen e Charles Leclerc eram o ponto altíssimo da disputa, antes do Safety Car entrar em ação por conta da saída de pista de Antonio Giovinazzi, preso na brita.

Cabe aqui um parêntese.

Meu caro Galvão, você é um cara com quase 40 anos de transmissões só em televisão. Você já viu tudo, fez de tudo no automobilismo, lhe somos muito gratos. Trabalhei com você por algum tempo no Grupo Globo, aprendi muito e também sou igualmente grato.

A saída de pista da Alfa Romeo de Antonio Giovinazzi trouxe o Safety Car, deu um novo colorido à disputa e gerou uma discussão inútil e exagerada, provocada pelo narrador da Globo, Galvão Bueno. O que ele pretende? As inúteis áreas de escape asfaltadas em todas as pistas da Fórmula 1?

Mas tem coisas que não precisam ser ditas, de tão gratuitas que parecem. A implicância com o incidente de Giovinazzi beirou o ridículo. Totalmente desnecessária. E não é toda pista que tem que ter área de escape asfaltada. Paul Ricard, que todo mundo meteu o pau por ter sido ruim como palco do GP da França, só tem área asfaltada.

E Silverstone, que é o berço da Fórmula 1, a catedral do automobilismo britânico, precisa ser vilipendiada para que exista uma área de escape a cada curva? Não, Galvão. Não concordo. Não concordamos.

Pelo contrário: gostamos de caixa de brita. Quanto mais, melhor. Os erros têm que ser punidos à altura. Errou, cai fora.

Como aliás, mais uma vez, erraram os pilotos da Haas, que se acharam no início e provocaram um abandono duplo dos dois carros do time estadunidense, numa temporada absolutamente frustrante – a pior dos ianques desde a estreia, disparado.

Mas, voltemos ao que acontecia lá na frente. O Safety Car meio que definiu as coisas na corrida durante um certo ponto e a Ferrari, também, ao não seguir a estratégia da Red Bull, que parou uma volta antes de Charles Leclerc, que se defendia e muito bem dos ataques de Verstappen, parar e cair para sexto, atrás de Vettel e dos carros rubrotaurinos.

E ponto para a FIA, por não investigar nada da briga entre Leclerc e Verstappen, embora o holandês tenha sido, digamos assim, um pouco sujo ao tentar superar o rival monegasco. A treta entre os dois já dura sete anos. Vem desde o kart. E se não existem rivalidades no automobilismo, é melhor esquecermos que o esporte existe e vamos todos pra casa.

Não é pra isso que o público (foram 151 mil no dia da corrida e mais de 350 mil nos três dias de evento, inclusive) paga para estar num autódromo ou assiste às corridas em casa?

Bem… livre de Leclerc e com Gasly de escudo após a inversão de posições, Verstappen foi com ganas de superar Vettel. Conseguiu e levou em troca, após um maroto brake test (achei que ele freou um pouquinho cedo) um porrão de Vettel por trás e os dois rodaram e foram para a brita.

Viu, Galvão, como a brita nem sempre pune? Vettel e Verstappen voltaram. O holandês, com o carro ainda inteiro. O alemão da Ferrari, asa quebrada, foi aos boxes, levou uma volta e ainda tomou um pênalti de 10 segundos. Vai deitar falação depois disso…

De resto, o incidente entre VET e VER fez justiça a Leclerc, que assim retornou ao seu terceiro lugar de origem. Gasly viu cair no colo o melhor resultado dele no ano, igualando o quarto lugar do Bahrein ano passado. E Carlos Sainz (não Lando Norris, para frustração do jovem piloto e do público inglês) foi o melhor do resto, resistindo à enorme pressão final de Daniel Ricciardo.

A McLaren, que com Andreas Seidl como Team Principal melhorou a olhos vistos nas últimas corridas, se consolida como a quarta no Mundial de Construtores, 21 pontos à frente da Renault. A Alfa aparece em sexto graças ao bom campeonato de Kimi Räikkönen e a Toro Rosso, hoje, foi bem melhor que a Racing Point.

À Williams, que homenageou seu fundador Frank – que completou meio século de Fórmula 1 – restou o consolo de não terminar em último na pista. George Russell chegou em décimo-quarto, na frente de Robert Kubica – porque Vettel foi punido, é verdade. Mas é muito pouco, quase nada, para uma lenda da categoria como o time de Grove, tantas vezes campeão.

Por falar em campeão, Hamilton alcança a metade do campeonato com a segunda corrida de pontuação cheia na temporada (vitória + melhor volta), somando agora 223 pontos na classificação – 39 a mais que Bottas. Verstappen abre treze para Vettel e, com o pódio, Leclerc agora está nos calcanhares do alemão.

Que na próxima, corre em casa. Ano passado, todo mundo lembra. Foi ali que Vettel começou a perder o campeonato. Será que da próxima vez, será diferente?!?