Toyota vence em dobradinha e fatura mais um título no WEC

RIO DE JANEIRO – Única montadora presente no Mundial de Endurance (FIA WEC) desde 2012, a Toyota faturou neste sábado mais um título na competição de provas de longa duração. Na disputa das 8h do Bahrein, o construtor oriental venceu em dobradinha e fez do trio Ryo Hirakawa/Sébastien Buemi/Brendon Hartley os campeões de pilotos na Hypercar.

Embora fosse uma corrida de completo domínio do modelo GR010 Hybrid em relação principalmente à rival Alpine e aos Peugeot, que têm mostrado progressos – porém ainda são frágeis em termos de confiabilidade, principalmente no que tange a sistemas de câmbio e eletrônica – não foi uma temporada totalmente dominante da Toyota.

Em alguns momentos houve o chamado viés de baixa e a Alpine, mesmo com um antigo protótipo LMP1 totalmente limitado pelo BoP imposto às equipes da Hypercar, deu trabalho, venceu duas corridas, levou a decisão a um inédito empate e valorizou bastante o título que parecia muito óbvio quando o campeonato deste ano começou.

Mas em 2023 não haverá “moleza”. A Toyota sabe disso porque virá além da Peugeot a Ferrari com um conceito de Hypercar, afora Porsche e Cadillac com seus LMDh – sem contar possíveis presenças de Glickenhaus, que mostrou ter um carro rápido este ano mesmo sem sistemas híbridos, Vanwall/Vanderwell (a aguardar) e Isotta Fraschini (idem). Alpine, BMW e Lamborghini, é certo e sabido, virão em 2024 e o caldo vai engrossar de vez.

Na decisão, a Toyota foi soberana. Não foi incomodada por ninguém, fez a pole position e venceu sem sustos. Durante a disputa das 8h do Bahrein, o ritmo do #7 guiado por Mike Conway, José María López e Kamui Kobayashi foi superior e o trio venceu com pouco mais de 45 segundos sobre o #8 de Hirakawa/Buemi/Hartley, que fez o suficiente para suplantar o trio da Alpine formado por André Negrão/Nico Lapierre/Mathieu Vaxivière.

Aliás, era esperado que o Alpine A480 tivesse dificuldade em seguir o ritmo da Toyota e até da Peugeot – mas não tanta. Mesmo com a possível superioridade por conta do calor, o carro francês chegou no máximo ao 3º lugar e por lá ficou porque os 9X8 enfrentaram, mais uma vez, problemas de confiabilidade. Porém, o Hypercar da marca do Leão conseguiu a melhor volta da disputa, o que é significativo.

Ao fim de tudo, a trinca campeã fechou o ano com 149 pontos contra 144 dos vice-campeões da Alpine e 133 do trio vencedor no Bahrein.

Na divisão LMP2, domínio quase absoluto da equipe WRT, que defendia seu título e foi a equipe que mais corridas venceu – três, porém o revés em Le Mans cobrou a conta: Robin Frijns/Sean Gelael/René Rast dominaram entre os protótipos com motor Gibson V8 e terminaram em 5º na geral, com 49″264 de margem para o #23 da United Autosports com Alex Lynn/Oliver Jarvis/Josh Pierson.

Com diversas alternâncias de posição por conta de estratégias e dos três períodos de FCY, a Jota fez o suficiente para conduzir o trio Roberto González/Will Stevens/Antonio Félix da Costa ao título – num ano de enorme consistência do “Mighty” #38. Eles tinham uma margem confortável de 28 pontos antes do Bahrein e controlaram a corrida como puderam. Ainda terminaram em 3º na classe e em sétimo na geral, conquistando o campeonato com 21 pontos de diferença – e o trio da WRT ainda foi vice-campeão por conta do triunfo na etapa barenita.

Entre os trios LMP2 Pro-Am, numa corrida bem animada, vitória e título para a AF Corse com os pilotos juniores da Ferrari Nicklas Nielsen e Alessio Rovera, além do gentleman driver François Perrodo. O trio fez 177 pontos na classificação final contra 154 de James Allen/René Binder/Steven Thomas, da equipe anglo-portuguesa Algarve Pro Racing.

A decisão da LMGTE-PRO em sua derradeira corrida foi incrivelmente cheia de nuances e, por um triz, a Ferrari 488 GTE EVO de James Calado e Alessandro Pier Guidi não ficou pelo caminho. Com um sério problema de câmbio, o carro #51 foi perdendo performance à razão de oito a 10 segundos por volta. A temperatura do óleo do sistema de transmissão chegou a níveis alarmantes e a quarta marcha simplesmente deixou de funcionar.

A AF Corse caminhava para uma tranquila dobradinha porque os carros do construtor italiano aproveitaram muito melhor os períodos de FCY – assim como a Corvette – do que a rival Porsche, que dominou o início da disputa e depois ficou para trás.

Antonio Fuoco e Miguel Molina venceram a última da história da classe após 10 anos e terminaram o campeonato a somente quatro pontos dos colegas de equipe e campeões – apesar de todos os problemas. No fim, Kévin Estre e Michael Christensen ainda levaram o vice porque o #91 de Gianmaria Bruni e Richard Lietz perdeu o último degrau do pódio por conta de um reabastecimento extra de combustível na penúltima volta.

Já na disputa da LMGTE-AM, as Iron Dames dominaram grande parte das 8h do Bahrein após a pole position da véspera e o trio Sarah Bovy/Michelle Gätting/Rahel Frey não pôde, na última 1h30 de prova, conter o avanço feroz dos dois Porsches 911 RSR-19 do Team Project 1, que venceram em dobradinha: ganhou o #46 com Matteo Cairoli/Niki Leutwiler/Mikkel O. Pedersen, seguido pelo #56 de Ben Barnicoat/P.J. Hyett/Gunnar Jeannette.

A taça da categoria entre os pilotos foi parar nas mãos da TF Sport, que faturou o título com Ben Keating e Marco Sörensen, que dividiram o Aston Martin #33 com o português Henrique Chaves em cinco das seis provas do ano (em Sebring, correu o francês Florian Latorre), fechando o ano com a conquista do 4º lugar na etapa final, uma posição adiante dos rivais da NorthWest AMR. Os campeões finalizaram com 141 pontos na tabela contra 118 do canadense Paul Dalla Lana, do britânico David Pittard e do dinamarquês Nicki Thiim.

E assim se encerrou o FIA WEC 2022. Uma nova página será escrita a partir de março de 2023 na abertura dia 17 com as 1000 Milhas de Sebring, com a chegada de novos carros, novas equipes e o fim da LMGTE-PRO. No próximo campeonato, quem se despede é a LMGTE-AM, que fará sua última temporada como transição para a chegada dos GT3 em 2024 – e sem o “Kit Premium” que diferenciaria os carros do WEC dos demais certames, deixado de lado por uma questão de custos.

Ainda bem…

Comentários

  • E lá se foi a última corrida oficial de LMP1. Classe que durou muito, produziu os únicos carros a rivalizarem com a F1 em termos de tecnologia embarcada, fez a FIA voltar a ter um mundial de endurance e teve um auge espetacular entre 2014 e 2016, Sempre curti muito os competidores independentes que pareciam estar lá pelo puro prazer de correr , tentar faturar alguma coisa e por um certo período eram a única companhia de Audi e Peugeot no topo: Dome, Straka, Lister Creation, Courage, Pescarolo, SMP, Lotus/Kolles, e principalmente a Rebellion.

    Mas o campeão incontestável de P1s, digamos, românticos era o Lavaggi, um carro que vc batia o olho a já via na hora que não ia rolar, parecia vindo de um passado que nunca existiu: https://www.ultimatecarpage.com/car/2845/Lavaggi-LS1-Ford.html

  • Bela resenha Rodrigo!
    Esperemos que ano que vem a disputa seja acirrada na categoria maior.
    E torcer para que se confirme a entrada das novas equipes!