IMSA, 12h de Sebring: vence quem chega primeiro e Derani é tetracampeão da lendária prova dos EUA

RIO DE JANEIRO – “Vence quem chega primeiro”. “Isso é automobilismo”.

“Isso é Endurance”. “Só termina quando acaba” (E às vezes, não).

Tudo aqui parece clichê – pode ser, é – mas, e daí?

As 12h de Sebring disputadas em sua 71ª edição nos apresentaram um anticlímax como poucas vezes se viu na história do automobilismo em muito tempo.

Quando eu fazia a live com a tela da cronometragem na reta final da corrida, no meu canal no YouTube, alguém gaiatamente comentou. “Imagine se os três primeiros batem e ganha o Cadillac #31?”

Rapaz, e não é que aconteceu tudo isso?

Um carmageddon de difícil conclusão de culpa – uns acreditarão ser incidente normal de corrida, vários meteram o pau em Mathieu Jaminet, piloto do Porsche que liderava, houve quem dissesse que Filipe Albuquerque precipitou-se.

Mas a reação em cadeia provocada pela disputa que valia a vitória, a 20min pro final, deitou por terra a chance clara de vitória – até em dobradinha – da Porsche – e a possível reação do Acura da WTR – aliás, há quem diga que a má sorte passou a acompanhar o time de Wayne Taylor desde que anunciaram a joint-venture com a Andretti.

Felipe Nasr comprou pronta toda a confusão entre Jaminet e Albuquerque e deu em cheio no #10 do português. O francês da Penske também levou de roldão a Ferrari GTD Pro de Daniel Serra, que acertou o carro de Antonio Garcia, com quem disputava posição. Uma lambança sem precedentes na história do evento.

https://www.youtube.com/watch?v=aMhmhWkjnzQ

E nesse final entre o bizarro e o inesperado, o triunfo caiu no colo da Whelen Engineering Action Express. O carro pole position, que teve altos e baixos na disputa, que chegou a ser punido e parecia carta fora do baralho, levou a vitória após 322 voltas com o trio Alexander Sims, Jack Aitken e Pipo Derani.

Pipo Derani…

O que esse rapaz tem de estrela não é brincadeira, viu? Ganhou em Daytona uma vez e agora está no panteão dos megavencedores em Sebring. Quarto triunfo – os anteriores foram em 2016 (de Ligier LMP2), 2018 com Nissan Onroak DPi e 2019 com o Cadillac DPi #31. Tom Kristensen, considerado por vários o maior piloto do Endurance em todos os tempos, ganhou lá seis vezes. Dindo Capello, cinco. Pipo igualou duas lendas da Audi – Frank Biela e Allan McNish. E só faz 30 anos de idade em outubro. Tem mais 20 anos pela frente para poder ser o recordista absoluto de vitórias da prova. Basta querer.

E automobilismo não é só competência – é sorte, também, como foi demonstrado ontem na Flórida. Até a Meyer-Shank, cuja roda traseira esquerda do #60, sonhou com vitória. “Dava pódio”, acreditava Helio Castroneves. O Cadillac da Ganassi também tinha chances, mas pegou fogo e teve de desistir. Até a BMW, que muita gente ousou criticar, melhorou muito em relação a Daytona e mesmo com o carro de Augusto Farfus quebrando, salvou um encorajador 2º lugar com o trio Nick Yelloly, Connor de Philippi e Sheldon Van der Linde.

A débacle dos três carros líderes que se acharam tornou possível um LMP2 no pódio geral pela primeira vez em onze anos, desde que as 12h de Sebring foram prova conjunta do então American Le Mans Series com o FIA WEC, que fazia a estreia de sua ‘nova era’ em 17 de março de 2012. Naquela oportunidade, o HPD ARX-03b de Ryan Dalziel, Stéphane Sarrazin e Enzo Potolicchio só foi batido por dois Audi R18 TDi Ultra numa prova de 325 voltas completadas.

Ontem, na corrida com a menor distância percorrida desde 2016 – na época foram apenas 238 voltas, Scott McLaughlin, John Farano e Kyffin Simpson venceram na subclasse com o #8 da Tower Motorsport e foram 3º lugar absoluto, superando na pista a TDS Racing de Mikkel Jensen, Scott Huffaker e Steven Thomas, além da ERA Motorsport com Christian Rasmussen, Dwight Merriman e Ryan Dalziel – esta surrupiando na última volta da PR1/Mathiasen o 5º posto geral e o terceiro na subdivisão.

Quem poderia ter terminado no top 10 seria a Rick Ware Racing – porém, antes da carnificina, Pietro Fittipaldi saiu da pista na curva 1 do circuito e bateu com seu Oreca. Inclusive um dos pneus que se soltou foi atropelado por um LMP3. O acidente aconteceu faltando 1h17min para o final. Pietro nada sofreu e ele, Devlin DeFrancesco e Eric Lux fecharam em 7º na classe com 289 voltas completadas.

Na LMP3, veio mais uma vitória de pilotos brasileiros, com Felipe Fraga novamente liderando a escuderia Riley ao triunfo junto a Josh Burdon e Gar Robinson, com o trio do #74 completando 309 voltas para ficar em 12º na geral – uma volta à frente do Duqueine da AWA com Orey Fidani, Lars Kern e Matt Bell.

Mas novamente foi gritante a falta de competitividade de parte do plantel. Foram poucas ou quase nenhuma as disputas por posição. Muitos carros tiveram problemas e alguns pilotos chegaram a ter comportamento constrangedor como, por exemplo, Robert Mau, que chegou a bater num carro em velocidade reduzida, num dos ciclos de FCY da corrida. Bizarro.

A GTD Pro teve vitória do Porsche da Pfaff que chegou a bater nos treinos e foi ao topo do pódio com Patrick Pilet, Laurens Vanthoor e Klaus Bachler, chegando à frente da Vasser Sullivan e da Weathertech Racing, com a Risi Competizione dos brasileiros Daniel Serra e Gabriel Casagrande, mais Davide Rigon, concluindo em 6º lugar.

Por fim, na GTD, ganhou a BMW em 1-2 não em dobradinha de equipes, mas dos carros M4 GT3 da Bavária. Vitória da Paul Miller Racing com Madison Snow, Bryan Sellers e Corey Lewis, seguidos por Patrick Gallagher, Robby Foley e Michael Dinan. A KellyMoss w/Riley foi premiada com o pódio do “Buda” Porsche guiado por David Brule, Alec Udell e Julien Andlauer – salvo engano, o único piloto que subiu ao pódio tanto no IMSA quanto no WEC este fim de semana.

A próxima etapa será preliminar da Indy no GP de Long Beach, num sábado em 15 de abril, com duração de 1h40min e presença apenas das classes GTP, GTD Pro e GTD.

Comentários

  • Fiquei confuso com as 12 horas deste ano. A imprensa falava maçiçamente das 1000 milhas, e quase nada das 12 horas. Você foi o único jornalista que cobriu com muita informação a corrida. As 100 milhas e as 12 horas aconteceram na mesma pista? Em que horários? Fiquei decepcionado. E decepcionado também com a tv que não mostrou um minuto de nenhuma das corridas; Mas mostra fórmula 1 , 2 , 3, 4 ,1000, Aquela história.: quando há interesse até treinos sem tempo são mostrados. Ah imprensa……….

    • A TV brasileira não tem interesse no Endurance. A bem da verdade, WEC e IMSA tiveram transmissões no extinto Fox Sports porque eu honestamente ajudei muito nesse processo. Veja que depois que saíram comigo o canal do Mickey não renovou nem um, nem outro.

      • Esse ano além do WEC não tem WRC também. Uma lástima. As corridas do IMSA podem ser vistas de graça no IMSA TV. Rodrigo, se houver uma nova iniciativa de transmitir o WEC com comentários em português pelo You Tube lembre de avisar aqui

    • Pode-se usar o libretube para transmitir a prova e o Youtube para transmitir exclusivamente os seus comentário.
      No Libretube, não há servidores centralizados controlados por uma única empresa. É uma rede federada (inclusive, pode-se fazer “autohospedagem” do seu próprio canal e transmissão).
      É pirataria do mesmo jeito… Mas para quem já fez isso antes para mostrar que o WEC dá audiência e interessar eventuais emissoras, pode ser considerado “jornalismo de guerrilha”.

  • Povo brasileiro nunca vai se importar e dar devido valor a essas conquistas que Derani, Nasr, Castro neves, Serra e outros estão tendo no mundo afora. Aqui só acreditam que bom mesmo, é quem vence na F1 …
    Como diz um certo jornalista, “Vida que segue…”

  • Robert Mau? E mostrando na pista porque tem esse apelido???
    Piada pronta, meu Rapaz!

    Um grande abraço do fundo do meu coração vermelho de outubro de 1917,
    Atenágoras Souza Silva.

    PS: Apesar da Bia Figueiredo trazer comentários técnicos interessantes, sinto sua falta na transmissão da Indy na Cultura!

  • Rodrigo Mattar, antes de tudo, muito obrigado pela obstinação em nos trazer as corridas e as notícias dos campeonatos de Endurance. Em minha opinião, tem as seguintes vantagens sobre as corridas de monopostos pelos motivos elencados:
    1- A participação de várias categorias numa mesma prova, dá um colorido especial nas disputas.
    2 – Ao contrário dos monopostos, dificilmente há uma dominância total de uma ou duas equipes apenas.
    3 – Permite recuperações espetaculares durante as provas.
    4 – Há um trabalho mais envolvente entre os pilotos e as equipes, o que contribui para um clima de mais
    congraçamento e camaradagem
    5 – A meu ver fica mais fácil e prático testar componentes e novas tecnologias que serão aproveitadas nos carros que utilizamos.
    Dito isto, gostaria de saber porque o Bom Baiano Tony Kanaan não está pilotando um protótipo. Nos carros de Endurance a relação entre piloto muito rápido X experiência tem outro peso, sendo esta última mais bem aproveitada.
    Com alguns “munhecas de pau” que se vê na IMSA e também no WEC, o Tony, sem dúvida, teria excelente
    presença.
    Um grande abraço