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Mais uma 24h de Daytona histórica: e deu Wayne Taylor, de novo!

RIO DE JANEIRO – A Chip Ganassi Racing voltou a um solo sagrado de seis vitórias da história da equipe, disposta a faturar a sétima – que poderia representar um incrível tricampeonato individual para Renger Van der Zande. Havia ainda Kamui Kobayashi em busca da mesma marca e o grande “hype” da mídia em torno […]

Quina: no clique de Mike Levitt, o Acura ARX-05C da quinta vitória da Wayne Taylor Racing nas 24h de Daytona, marcando o primeiro triunfo do construtor japonês na clássica prova da Flórida

RIO DE JANEIRO – A Chip Ganassi Racing voltou a um solo sagrado de seis vitórias da história da equipe, disposta a faturar a sétima – que poderia representar um incrível tricampeonato individual para Renger Van der Zande. Havia ainda Kamui Kobayashi em busca da mesma marca e o grande “hype” da mídia em torno de Jimmie Johnson e Chase Elliott, campeões da Nascar em ação pela primeira vez em Esporte-Protótipos.

No fim de uma extenuante e emocionante maratona de mais de 800 voltas pelo circuito misto do Daytona International Speedway, nenhum deles riu por último: o privilégio coube – pela quinta vez na história, quarta nos últimos cinco anos – à Wayne Taylor Racing.

E justamente no primeiro momento da parceria da equipe, fiel cliente Chevrolet até o ano passado, com a Honda (leia-se Acura). Herdando junto à Meyer-Shank Racing o espólio dos dois protótipos ARX-05C na plataforma Oreca 07 LMP2, a WTR apresentou armas e com uma performance impecável de seus quatro pilotos, venceu de novo e pela terceira vez seguida.

Ricky Taylor voltou ao time do pai com honras, mas Filipe Albuquerque deu show no final e foi decisivo. Também não esqueçamos de Alexander Rossi e, principalmente, de Hélio Castroneves.

É a 8ª vitória de um piloto do país na clássica prova da Flórida – o sexto a ganhar na geral, já que Christian Fittipaldi tem três triunfos e Albuquerque junta-se ao antigo companheiro na galeria de múltiplos vencedores que conta com outros monstros sagrados – os recordistas são Hurley Haywood e Scott Pruett, que venceram cinco vezes cada e também há Pedro Rodríguez, Peter Gregg, Rolf Stommelen e “Brilliant” Bob Wollek, com quatro.

Castroneves é igualmente o oitavo brasileiro a ter um Rolex como prêmio por vitória. Além dos seis que venceram na geral: Boesel, Christian, Tony Kanaan, Ozz Negri, Pipo Derani e agora o “Homem Aranha”, ganharam Augusto Farfus e Rafa Matos, em subclasses.

Aliás, não é qualquer um que vence Indy 500 e 24h de Daytona. Essa façanha é privilégio de um time seleto: Mario Andretti, Bobby Rahal, A.J. Foyt, Al Unser, Al Unser Jr., Arie Luyendyk, Dan Wheldon, Juan Pablo Montoya, Dario Franchitti, Buddy Rice, Tony Kanaan, Scott Dixon e, agora, Alexander Rossi e Hélio Castroneves. Catorze nomes, apenas.

“Corri todos os riscos do mundo”, assim definiu Renger Van der Zande no ataque final – sem êxito – contra o #10 então guiado por Filipe Albuquerque (Foto: Jake Galstad/IMSA)

O final da corrida foi eletrizante. Como aliás a prova toda, com batalhas pela liderança de fio a pavio. O #01 de Renger Van der Zande/Scott Dixon/Kevin Magnussen foi liquidado por dois furos de pneu e o último, a sete minutos do fim, sepultou as chances da CGR de triunfar pela 7ª vez e ampliar seu recorde de conquistas como equipe.

Perdida a vitória e mesmo um lugar no top 3 final, a Ganassi se viu atrás ainda da Ally Cadillac/Action Express, que passou a Mazda também nas últimas voltas para terminar em segundo: talvez as coisas não fossem assim se tivesse havido um entrevero entre o #48 e o carro da Meyer-Shank Racing. Talvez…

Como “se” e “talvez” não guiam, mesmo assim foi um belo resultado para a equipe que atraía mídia pela presença de Jimmie Johnson. O heptacampeão da Nascar guiou três stints e certamente aprendeu um bocado. Comentaremos em breve sobre o ritmo de corrida do piloto de 45 anos durante a prova. Mas ele teve o grande mérito de manter o carro inteiro, deixando o serviço para Simon Pagenaud, Mike Rockenfeller e Kamui Kobayashi darem conta do recado.

Sobre a Mazda, impressionante 3º lugar considerando que chegaram a ficar três voltas atrasados e um número de FCYs maior que na edição de 2020 ajudou que conseguissem recuperar voltas e desalojar as rivais do pódio, especialmente a Meyer-Shank Racing, que tentou na estratégia dar seus ‘pulinhos’, mas restou a sensação de que faltou alguma coisa ali, apesar da presença de Juan Pablo Montoya a bordo.

O #31 na garagem: uma falha de transmissão arruinou os planos da Whelen Engineering/AX Racing por volta da 19ª hora de corrida em Daytona

Pole position, o #31 vinha numa corrida de altos e baixos e estava bem quando um tubo de escape quebrou e comprometeu a troca de marchas com o calor da peça rompida. O Cadillac então guiado por Felipe Nasr – que liderou no início com bastante autoridade – perdeu 24 voltas e foi difícil recuperar a desvantagem. Acabaram em 8º lugar na geral e sexto na DPi.

O único abandono na classe principal veio de outro carro que andou bem durante boa parte da corrida: o #5 da JDC-Miller conduzido por Sébastien Bourdais/Tristan Vautier/Loïc Duval foi vítima de um contato com um Porsche GTD que rendeu danos extensos ao Cadillac DPi. A equipe ainda teria mais problemas técnicos e decidiram por recolher a poucos minutos do final.

Sobre Chase Elliott e sua participação nas 24h, melhor darmos o benefício da dúvida. Guiar um Nascar é muito diferente de um protótipo com mais recursos, com eletrônica e freios melhores. Sem dúvida a falta de treinos e de um melhor entendimento do carro pode ter cobrado a conta do garoto – que é talentoso na Stock Car. Não acho que a corrida dele foi o desastre que muitos tentam pintar.

Seguindo com as demais categorias, na LMP2 alguns dos favoritos ficaram pelo caminho – a bem da verdade, quase todos: com menos de 100 voltas completadas, três já estavam fora, no caso o #29 do Racing Team Nederland e o #20 da High Class Racing com insolúveis falhas de câmbio e o #81 da DragonSpeed no combo acidente + falha mecânica.

Depois, ficaram para trás o Dallara da Cetilar, que fazia sua despedida das pistas – já que a equipe optou pela Ferrari no WEC neste ano – e a PR1/Mathiasen, com o carro #52 também desistindo.

E entre trancos e barrancos, sem contar a WIN Autosport que também andou bem e teve la seus problemas, restaram a Tower Motorsport e a ERA Motorsport para brigar pela vitória: venceu o #18, 6º colocado geral com ótima prestação de Ryan Dalziel e Paul-Loup Chatin, além de Kyle Tilley. Dwight Merriman, dentro de suas limitações, finalmente não comprometeu.

A Tower conseguiu um encorajador segundo posto, com o canadense gentleman driver John Farano cercado da molecada francesa que andou bem – Timothé Buret, Gabriel Aubry e Matthieu Vaxivière. O outro carro da DragonSpeed pegou 3º lugar com Eric Lux/Devlin DeFrancesco/Christoper Mies/Fabian Schiller, enquanto a RWR-Eurasia, mesmo com um carro pouco competitivo em relação às adversárias, ainda fez o top 10 geral – bom resultado de Austin Dillon/Salih Yoluç/Sven Müller/Cody Ware.

A novata classe LMP3 em muitos momentos lembrou a nada saudosa Prototype Challege e seus Oreca FLM09. Está certo que foi a primeira vez que carros desta divisão enfrentaram uma maratona de 24h de duração e que apenas um – o Duqueine da Forty7 Motorsports – não recebeu a quadriculada.

Mas o nível técnico foi muito baixo, embora haja ali bons pilotos. E venceu o carro que teria Felipe Fraga: a Riley Motorsports fechou a disputa em 17º na geral, atrás de todos os GTLM, com o #74 de Gar Robinson/Scott Andrews/Oliver Askew/Spencer Pigot.

A Sean Creech Motorsports fechou em segundo, três voltas atrás, com Yann Clairay/Lance Willsey/João Barbosa/Wayne Boyd. Pole da classe, a Mühlner Motorsports America salvou a terceira colocação – mas levou sete voltas com o Duqueine guiado por Moritz Kranz/Laurents Hörr/Stevan McAleer/Kenton Koch.

Dominante, a Corvette fez 1-2 na GTLM e ainda teve o dissabor de noticiar que Antonio Garcia, um dos tripulantes do carro #3, contraiu Covid DURANTE a corrida (Foto: Rick Dole/IMSA)

Na GTLM, apesar do brilho eventual da BMW de Augusto Farfus e cia., mais a Risi Competizione, que tentou surpreender e a estratégia gorou, a Corvette foi dominante e venceu em 1-2 na última 24h de Daytona desta classe. Mas aconteceu algo que beira o surreal, em Daytona.

Véspera da corrida e, noutra equipe, Michael de Quesada testa positivo para Covid-19, sendo substituído de último momento por Mike Skeen. Antonio Garcia, piloto de fábrica do carro #3 da Corvette junto a Jordan Taylor e Nicky Catsburg, testara sempre negativo durante todo o fim de semana.

Muito bem: num dos intervalos de pilotagem, Antonio foi submetido a outro teste e aí o exame deu positivo. Vetado e de quarentena a partir de já, o espanhol viu Jordan Taylor e Nicky Catsburg contrariarem qualquer previsão e vencerem a corrida na frente de Tommy Milner/Alexander Sims/Nick Tandy, derrotando a ‘Bimmer’ de Augusto Farfus/Jesse Krohn/John Edwards/Marco Wittmann.

Sobre a GTLM, quase que na largada um totó de Bruno Spengler (ele diz que não fez nada…) em Kévin Estre por pouco não dizimou duas concorrentes da Corvette e quase o grid inteiro da GTD, que vinha atrás. Felizmente nada aconteceu e a GTD teve uma vitória histórica nesta edição das 24h de Daytona: a primeira da Mercedes-AMG.

Vitória inédita e em dobradinha para a Mercedes-AMG na competitiva divisão GTD (Foto: MIke Levitt/IMSA)

O carro #57 da HTP Winward, equipe do IMSA Michelin Pilot Challenge, a despeito de uma punição que alguns acham que merecia – por conta de um contato com a Ferrari da AF Corse e a direção de prova deu de ombros – venceu em dobradinha para o construtor de Stuttgart, com Maro Engel/Russell Ward/Indy Dontje/Phillip Ellis secundados por Raffaele Marciello/Kenny Habul/Luca Stolz/Mikaël Grenier no carro da Sun Energy 1 Racing.

Vencedora da prova ano passado, a Paul Miller Racing recuperou bem de penalizações no início e um posicionamento ruim de largada para terminar em 3º na classe, enquanto Daniel Serra e parceiros fecharam em oitavo, tendo perdido duas voltas com a Ferrari #21.

Já Marcos Gomes foi o único piloto do país que não recebeu a quadriculada. A #63 da Scuderia Corsa quebrou nas mãos de Ryan Briscoe, com 676 voltas percorridas. A lista de abandonos mostrou 12  dos 49 carros que largaram de fora, com seis GTD, quatro LMP2,  um LMP3 e um DPi – e nenhum GTLM.

A próxima parada da IMSA é também na Flórida, dia 20 de março: as imperdíveis 12h de Sebring.